Assaltaram a Gramática
Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br

Os trocadilhos de Almir Sater - 26/03/2009
Reflexão sobre trocadilhos e cacofonia

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        “Ando devagar porque já tive pressa
        Levo esse sorriso porque já chorei demais
        Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
        Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
        Eu nada sei

        Conhecer as manhas e as manhãs,
        O sabor das massas e das maçãs,
        É preciso amor pra poder pulsar,
        É preciso paz pra poder sorrir,
        É preciso a chuva para florir...” (Tocando para frente/Composição: Almir Sater e Renato Teixeira)

A língua portuguesa é riquíssima em recursos para desenvolvermos os mais diferenciados trabalhos. Muitas pessoas temem ao utilizar alguns recursos porque o imaginam como sendo algo não aceitável na norma padrão desta área do conhecimento.

Contudo, tudo é aceitável dependendo do contexto. É o contexto que vai determinar a aceitabilidade ou não da utilização de palavras ou tantos outros meios.

Um bom exemplo disso, é uma propaganda muito usada na mídia ou em outros canais de comunicação que diz “Cidade limpa, é a gente que faz”.

Ora, se fôssemos julgar pela gramática, poderíamos chegar ao limite de dizer que a construção está incorreta, pois ficaria melhor dizer “Cidade limpa, somos nós que fazemos”.

Entretanto, o contexto nos permite entender a intenção do autor desta frase publicitária, que, no mínimo, quer associar a linguagem comum a todos com a contribuição que todo cidadão pode ter com a cidade limpa.

Bom, com isso chegamos ao ponto chave deste artigo, que é o estudo dos trocadilhos.

Segundo o dicionário Aulete Digital, trocadilho é um “Jogo ambíguo de palavras baseado na semelhança de sons entre elas”.

Muitos artistas, músicos, publicitários utilizam-se deste recurso para ampliar a possibilidade de “leitura” que está sendo veiculada.

Na música exposta no alto destas linhas, Almir Sater utiliza-se competentemente de vários trocadilhos. É importante entender que o trocadilho às vezes é confundido com a cacofonia, mas há diferenças entre eles.

Enquanto a cacofonia se encarrega de uma mistura de sons desagradáveis, fazendo-nos lembrar de palavras chulas ou de baixo calão, uma vez que ela é usada principalmente no meio humorístico, os trocadilhos não carregam esta característica “ruim”, ainda que se apresente de forma cômica algumas vezes, não deixa o contexto parecer ridículo, pois apenas amplia os sentidos das palavras através das semelhanças de sons.

Um rápido exemplo disso é se dissermos: “Vou a Mauá” e alguém nos perguntar: “Que mal há nisso?” Percebe-se que pode até ser engraçado, mas não desagradável como no caso da cacofonia.

Observe este trecho da música:

        “... Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs...”.

Assim, Almir Sater nos conduz a diversas possibilidades de sentidos, mas o que mais me chama a atenção é a experiência de vida que ele transmite ao dizer que conhece as manhas, pois já viveu muitas manhãs. É claro, esta é apenas uma das muitas possibilidades de sentidos que este trocadilho nos oferta.

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