“Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir...” (Tocando para
frente/Composição: Almir Sater e Renato Teixeira)
A língua portuguesa é riquíssima em
recursos para desenvolvermos os mais diferenciados trabalhos. Muitas
pessoas temem ao utilizar alguns recursos porque o imaginam como sendo
algo não aceitável na norma padrão
desta área do conhecimento.
Contudo, tudo é aceitável dependendo do contexto.
É o contexto que vai determinar a aceitabilidade ou
não da utilização de palavras ou
tantos outros meios.
Um bom exemplo disso, é uma propaganda muito usada na
mídia ou em outros canais de
comunicação que diz “Cidade limpa,
é a gente que faz”.
Ora, se fôssemos julgar pela gramática,
poderíamos chegar ao limite de dizer que a
construção está incorreta, pois
ficaria melhor dizer “Cidade limpa, somos nós que
fazemos”.
Entretanto, o contexto nos permite entender a
intenção do autor desta frase
publicitária, que, no mínimo, quer associar a
linguagem comum a todos com a contribuição que
todo cidadão pode ter com a cidade limpa.
Bom, com isso chegamos ao ponto chave deste artigo, que é o
estudo dos trocadilhos.
Segundo o dicionário Aulete Digital, trocadilho é
um “Jogo ambíguo de palavras baseado na
semelhança de sons entre elas”.
Muitos artistas, músicos, publicitários
utilizam-se deste recurso para ampliar a possibilidade de
“leitura” que está sendo veiculada.
Na música exposta no alto destas linhas, Almir Sater
utiliza-se competentemente de vários trocadilhos.
É importante entender que o trocadilho às vezes
é confundido com a cacofonia, mas há
diferenças entre eles.
Enquanto a cacofonia se encarrega de uma mistura de sons
desagradáveis, fazendo-nos lembrar de palavras chulas ou de
baixo calão, uma vez que ela é usada
principalmente no meio humorístico, os trocadilhos
não carregam esta característica
“ruim”, ainda que se apresente de forma
cômica algumas vezes, não deixa o contexto parecer
ridículo, pois apenas amplia os sentidos das palavras
através das semelhanças de sons.
Um rápido exemplo disso é se dissermos:
“Vou a Mauá” e alguém nos
perguntar: “Que mal há nisso?”
Percebe-se que pode até ser engraçado, mas
não desagradável como no caso da cacofonia.
Observe este trecho da música:
“... Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das
massas e das maçãs...”.
Assim, Almir Sater nos conduz a diversas possibilidades de sentidos,
mas o que mais me chama a atenção é a
experiência de vida que ele transmite ao dizer que conhece as
manhas, pois já viveu muitas manhãs. É
claro, esta é apenas uma das muitas possibilidades de
sentidos que este trocadilho nos oferta.