Aprender com as Diferenças
Luís Campos - Blind Joker Salvador - Bahia – Brasil

A terra dos perdidos - 03/03/2009
Capítulo IV

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Intrigada com o aparecimento repentino daquele jornaleiro no avião, Nelita interpela Luís:

Nelita - Quem é esse jornaleiro, Luís?

Luís - É o Freddy Freeman!

Malu - O pequeno jornaleiro que se transforma no Capitão Marvel Jr.?

Luís - Ele mesmo!

Nelita - E o que ele tá fazendo nessa novelinha?

Luís - Não tá vendo? Vendendo seus jornais, ora!

Freddy - Extra, Extra! Avião da Transaaxé desaparece ao sobrevoar o Atlântico! Leiam agora... notícia quentinha! Extra, Extra!

Luís - Nelita... compre aí um exemplar desse jornal!

Nelita - Cadê o dinheiro?

Luís - Que coisa feia, Nelita... pedindo dinheiro a um ceguinho!

Nelita - Bonito é eu pagar jornal pra marmanjo, né? Não tem ceguinho certo, seu mão-de-vaca!

Luís - Eu acho isso lindo... e você ganha em dólar, meu Bem!

Nelita - Como você diria: vai procurar uma jega pra pagar seu jornal!

Marlene - Deixe que eu compro o jornal, Luís!

Luís - Tá vendo, Nelita! Isso é que é amiga!

Nelita - Marlene, não vá na conversa desse cara, não, tá?

Luís - É por isso que dizem que brasileiro não tem memória!

Nelita - O que você quer dizer com isto?

Luís - Você entendeu muito bem!

Marlene - Parem com essa discussão boba e vamos ler a manchete!

Ezequiel - Mas não era jornal, Marlene?

Dudinha - Fique quieto, garoto! Ela está falando da manchete que o jornaleiro gritava, e não da extinta Revista Manchete!

Ezequiel - Ah, entendi!

Dudinha - Eta guri custoso!

Luís - Leia logo essa manchete, Marlene!

Marlene - As letras são muito miúdas... não dá!

Malu - Me dê o jornal que eu leio, Marlene!

Marlene - Eu não dou nada, Malu... eu empresto! Hahahahaha!

Malu - Hahahahaha! Tá bem, Marlene! Então me empreste seu jornal!

Luís - Fale alto, pra todo mundo ouvir, Malu!

Malu (Pegando o microfone) - Ok! Vamos lá...

"Avião desaparece no ar ao sobrevoar o Atlântico!

Poucas horas antes de fazer sua primeira escala e voando a trinta mil pés de altitude, uma aeronave da Transaaaxé desaparece dos radares. O avião levava cinquenta e uma pessoas a bordo e, ao sobrevoar a zona conhecida como Triângulo das Bermudas, perde contato com a torre de controle, desaparecendo no ar. O avião partiu de Porto Seguro com destino a Vila Xurupita em voo fretado. Até o fechamento desta edição, não se tinha notícia sobre o paradeiro do Constellation C121A/51 da Transportes Aéreos Axé - Transaaxé. Soubemos que o comandante do voo 1 7 1 emitiu um "S O S" antes de perder contato com os controladores e que foi captado pela frequência da Rádio LC51 FDP, do Reino dos Campos Livres. As equipes de resgates iniciaram as buscas, mas até o momento não têm qualquer pista do paradeiro da aeronave."

Marlene - Pelo que entendi, um avião da Transaaxé desapareceu enquanto voava!

Luís - Preste atenção, Marlene... até parece que a Malu fala tão mal quanto a "Raquel do seu micro!"

Malu - Pois é, Marlene... a notícia fala desse avião aqui!

Marlene - Desse aqui? Ai meu Deus! Meus sais, por favor!

Nelita - Serve sal de frutas, Marlene?

Ezequiel - Eu quero um de manga, Nelita!

Dudinha - Fique quieto, garoto! Você não ouviu a Malu ler que nosso avião está desaparecido?

Ezequiel - Como assim? Eu estou tocando nele... aqui ele, ó!

Dudinha - Eu sei, Ezequiel, mas o jornal noticiou que desaparecemos quando sobrevoávamos o Atlântico!

Ezequiel - E como eles sabem da notícia antes dela acontecer?

- Por causa do fuso horário, Ezequiel!

Ezequiel - Como assim?

- Eu explico: por exemplo, quando é 21:00 horas de sábado no Japão, é 09:00 desse sábado no Brasil. Daí, você estando no Brasil poderá "saber" o futuro... entendeu?

Ezequiel - Não!

Dudinha - Só mais uma vez: um carro bate no Brasil às 07:00 horas do domingo e você está no Japão. Às 19:00 horas desse mesmo dia você vê pela Internet o acidente... daí você está "vendo" o passado... sacou?

Ezequiel - Não

Dudinha - Então não posso fazer nada... e fique quieto, garoto!

Ezequiel - Mas eu preciso aprender essas coisas, Dudinha!

Dudinha - Eta guri custoso! Não posso explicar mais do que isso, Ezequiel, senão os leitores dirão que o autor tá querendo encher linguiça!

Ezequiel - Agora foi que minha cabeça deu um nó!

Dudinha - Cala a boca, Ezequiel!

Ezequiel - Mas eu gosto de saber das coisas, Dudinha!

Dudinha - Então vá pesquisar na Internet, Ezequiel!

Ezequiel - Assim que eu voltar pra casa, farei isso, Dudinha!

Enquanto Malu lia o jornal, do mesmo jeito que apareceu o jornaleiro, sumiu...

Passada a surpresa da notícia, a viagem prosseguiu tranquila, pois, nem todos os passageiros prestaram atenção ao que Malu dissera pelo microfone. Alguns dormiam e outros conversavam entre si. De repente, Rebeca deu um grito que acordou os dorminhocos e chamou a atenção de todos na cabine de passageiros:

- Geeeeeeente! Hoje é aniversário do Dan!

Todos - Uuuuuu iupiii uaua uau fiuiiiiiiii plac plac plac!

Marlene (Puxando a cantoria) - Parabéns, pra você...

Todos - ... Nesta daaata, que, ri, da, muitas fe, li, ci, da, des, muitos ããããnos, de vida!

Chegou a hora de apagar a velinha, vamos cantar, aquela musiquinha... parabéns... pra você, parabéns... pra você, pelo seu a, ni, ver, sá, ri, o!

É pique, é pique, é pique, é hora, é hora, é hora... rá... ti... bum....

Da, ni, lo... Da, ni, lo... Da, ni, lo!

Todos - Uuuuuu iupiii uaua uau fiuiiiiiiii plac plac plac!

Margo (Ao microfone) - Vejam, cambada, o que encontrei na cozinha! Três garrafas da legítima "Champagne Croix des Esprits!"

Todos - Uuuuuu iupiii uaua uau fiuiiiiiiii plac plac plac!

A festa estava bem animada na cabine de passageiros, deixando claro o estado de espírito do pessoal. As comissárias pegaram refrigerantes para quem não bebia, cerveja e uísque e distribuiu entre todos. Essa festinha improvisada, mas repleta de fraternidade e alegria, por umas duas horas animou a turma. Aos poucos tudo foi voltando ao normal... alguns voltaram a dormir e outros a conversar com o companheiro do lado. Seis horas voou-se sob um céu de brigadeiro, mas ao sobrevoar uma certa zona do Oceano Atlântico, de repente o avião tremeu todo, deu uma sacolejada, como um ônibus velho trafegando numa das rodovias
Brasileiras, que estão mais esburacadas do que um queijo suíço. Alguns dos passageiros, já acostumados com essas turbulências, continuaram suas conversas ou tirando suas sonecas. No compartimento de carga, que está situado sob a cabine de passageiros, foi um desastre só. As malas, caixas, sacolas, mochilas, caixotes e duas grades de madeira para transporte de animais, foram atiradas de um lado pro outro. Atingidas pelas bagagens, as grades, uma com um gato e a outra com uma cadela, desmantelaram-se libertando os dois pequenos animais de suas prisões temporárias. A cadela, ao ver-se livre, saiu em perseguição ao gato...

É isso mesmo que vocês ouviram: Babi, a cadela de Andréa Sousa e Shompsom, o gato de Patricinha, sem que ninguém mais soubesse, iriam passear em Vila Xurupita. Até aí, nada demais, porém, na correria dos animais pelo compartimento de cargas, Babi atrás do Shompsom, pega daqui, foge dali, malas, caixas, caixotes, mochilas e sacolas iam, por um e pelo outro, sendo arranhadas, rasgadas, derrubadas dos seus alojamentos, transformando o lugar num campo de batalha após o embate.

Numa dessas fugas, Shompsom viu-se acuado pela Babi e, saltando por sobre a cadela, chocou-se com um emaranhado de fios, quebrando alguns destes. Babi, ao tentar pegar o gato, completou o desastrado serviço e partiu o restante da fiação. No mesmo instante, as luzes da aeronave apagaram-se. Os dois contendores, como que compreendendo o dano que causaram, trataram de se esconder, cada um num canto diferente e distante do outro, permanecendo "pianinhos". Na cabine de passageiros não se ouviu qualquer barulho que denunciasse a batalha que se travara no compartimento de cargas. Assim que as luzes apagaram, ouviu-se a
voz do comandante:

- Senhores passageiros, houve uma pane em nosso sistema elétrico central, mas logo as luzes de emergências serão acesas e iremos ver o que aconteceu! Relaxem e tenham uma boa viagem!

Ezequiel - Será que a bateria do avião descarregou, Dudinha?

Dudinha - Cala a boca, guri e vê se dorme!

Pela calma que reinava na cabine, pareceu que ninguém percebera o que ocorrera, mas alguns medrosos preocuparam-se com o fato e, ao ouvirem
a voz do comandante... Alguns minutos depois, o comandante voltou a falar:

- Senhores passageiros: fiquem tranquilos. Houve um pequeno problema e perdemos um dos motores. Mas não se preocupem, pois esta aeronave é capaz de voar com apenas três dos seus quatro motores. Relaxem e tenham uma boa viagem!

Caco -Uff! Ainda bem!

Com esta afirmação do comandante, a paz continuou a reinar no avião. Não demorou muito e sentiu-se outra forte vibração. Dessa vez os passageiros entreolharam-se e já não ficaram assim tão tranqüilos. e mais uma vez ouve-se a voz do comandante:

- Senhores passageiros, ocorreu um novo problema e fui obrigado a desligar um dos motores. Mas não se preocupem, pois esta aeronave é capaz de voar com apenas dois dos seus quatro motores. Relaxem e tenham uma boa viagem!

Numa situação dessas é difícil recuperar-se a serenidade, mas depois de algum tempo sem que nada mais acontecesse, os passageiros começaram a relaxar. Após mais uma hora de voo, ouviu-se uma tremenda explosão. O avião sacolejou, tremeu, inclinou-se para um lado, inclinou-se para o outro, deu uma queda brusca e finalmente estabilizou-se. As comissárias gritaram, a cegaiada gritou, a cadela latiu e o gato miou... até que a voz tranquilizadora do comandante soou:

- Senhores passageiros: perdemos um dos dois motores que ainda funcionavam, mas não se preocupem porque vamos tomar as providências que o caso exige. Relaxem, não há motivos para pânico ou alarme. Mantenham-se em seus lugares e com os cintos afivelados até que a luzinha vermelha se apague! Relaxem e tenham uma boa viagem!

Apesar da voz confiante do comandante, os cegos, as comissárias, a cadela Babi e o gato Shompsom ficaram alarmados...

Virgínia - E agora, José?

Antonio José - Eu não tenho nada com isso, Virgínia!

Marlene - Calma, gente... o comandante Adler foi piloto na segunda guerra mundial... ele tem muita experiência!

Caco - Isso foi há mais de sessenta anos, Marlene!

Marlene - E daí, Caco?

Antonio José - E daí, Marlene, que o cara tá bem velhinho, meu bem!

Marlene - Você já viu personagem de ficção envelhecer?

Marilza - É isso que dá não contratar um piloto de verdade, Marlene!

Marcão - O culpado disso tudo é esse autor abestado, Marilza!

Carmem - Também acho!

De repente, a porta da cabine se abre e saem, apressadamente, o comandante Adler e o copiloto Max Vermelho, cada um com uma enorme mochila nas mãos. Eles prendem a mochila nas costas e se dirigem para a porta do avião...

Malu - Peraí, seu comandante. O senhor disse que não havia motivo para pânico, mas o senhor está aí se preparando para quê?

Pat Vision - Isso aí não é um paraquedas?

Adler (Calmamente) - É sim, mas não há motivo para pânico. Fiquem em seus lugares com os cintos afivelados e relaxem que nós vamos buscar ajuda!

E eles abriram a porta e saltaram no vazio...

Tiago Cocci - E agora, José?

Antonio José - Eu não sei de nada, amigo!

Aline - Alguém aqui sabe pilotar um avião?

Nelita - Calma, pessoal... Luís era aeromodelista e pode pilotar isso aqui... eu acho!

Luís - Preciso da ajuda do Evangel e de uma vidente!

Rita Gonçalves - E nós da ajuda de todos os Santos e Orixás baianos!

Carmem - Calma, Rita... lembre-se que o medo é passageiro!

Rita - Então eu sou o medo!

Evangel - Vamos lá, seu velho!

Renato - Para que os pilotos de avião passam por tantos treinamentos, se aqui nessa novelinha um cego que nunca entrou numa cabine vai pilotar o avião?

Ricardo - Esqueceu que nos filmes também é assim?

Renato - É verdade!

Fim deste capítulo.

Fonte: http://www.vanmix.com/artigos/biblioteca/1118

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