Aprender com as Diferenças
A terra dos perdidos
Capítulo IV
Intrigada com o aparecimento repentino daquele jornaleiro no
avião,
Nelita interpela Luís:
Nelita - Quem é esse jornaleiro, Luís?
Luís - É o Freddy Freeman!
Malu - O pequeno jornaleiro que se transforma no Capitão
Marvel Jr.?
Luís - Ele mesmo!
Nelita - E o que ele tá fazendo nessa novelinha?
Luís - Não tá vendo? Vendendo seus
jornais, ora!
Freddy - Extra, Extra!
Avião da Transaaxé desaparece ao sobrevoar o
Atlântico!
Leiam agora... notícia quentinha!
Extra, Extra!
Luís - Nelita... compre aí um exemplar desse
jornal!
Nelita - Cadê o dinheiro?
Luís - Que coisa feia, Nelita... pedindo dinheiro a um
ceguinho!
Nelita - Bonito é eu pagar jornal pra marmanjo,
né?
Não tem ceguinho certo, seu mão-de-vaca!
Luís - Eu acho isso lindo... e você ganha em
dólar, meu Bem!
Nelita - Como você diria: vai procurar uma jega pra pagar seu
jornal!
Marlene - Deixe que eu compro o jornal, Luís!
Luís - Tá vendo, Nelita! Isso é que
é amiga!
Nelita - Marlene, não vá na conversa desse cara,
não, tá?
Luís - É por isso que dizem que brasileiro
não tem memória!
Nelita - O que você quer dizer com isto?
Luís - Você entendeu muito bem!
Marlene - Parem com essa discussão boba e vamos ler a
manchete!
Ezequiel - Mas não era jornal, Marlene?
Dudinha - Fique quieto, garoto! Ela está falando da manchete
que o
jornaleiro gritava, e não da extinta Revista Manchete!
Ezequiel - Ah, entendi!
Dudinha - Eta guri custoso!
Luís - Leia logo essa manchete, Marlene!
Marlene - As letras são muito miúdas...
não dá!
Malu - Me dê o jornal que eu leio, Marlene!
Marlene - Eu não dou nada, Malu... eu empresto! Hahahahaha!
Malu - Hahahahaha! Tá bem, Marlene!
Então me empreste seu jornal!
Luís - Fale alto, pra todo mundo ouvir, Malu!
Malu (Pegando o microfone) - Ok! Vamos lá...
"Avião desaparece no ar ao sobrevoar o Atlântico!
Poucas horas antes de fazer sua primeira escala e voando a trinta mil
pés de altitude, uma aeronave da Transaaaxé
desaparece dos radares.
O avião levava cinquenta e uma pessoas a bordo e, ao
sobrevoar a zona
conhecida como Triângulo das Bermudas, perde contato com a
torre de
controle, desaparecendo no ar. O avião partiu de Porto
Seguro com
destino a Vila Xurupita em voo fretado. Até o fechamento
desta edição,
não se tinha notícia sobre o paradeiro do
Constellation C121A/51 da
Transportes Aéreos Axé - Transaaxé.
Soubemos que o comandante do voo
1 7 1 emitiu um "S O S" antes de perder contato com os controladores e
que foi captado pela frequência da Rádio LC51 FDP,
do Reino dos Campos
Livres. As equipes de resgates iniciaram as buscas, mas até
o momento
não têm qualquer pista do paradeiro da aeronave."
Marlene - Pelo que entendi, um avião da Transaaxé
desapareceu enquanto
voava!
Luís - Preste atenção, Marlene...
até parece que a Malu fala tão mal
quanto a "Raquel do seu micro!"
Malu - Pois é, Marlene... a notícia fala desse
avião aqui!
Marlene - Desse aqui? Ai meu Deus! Meus sais, por favor!
Nelita - Serve sal de frutas, Marlene?
Ezequiel - Eu quero um de manga, Nelita!
Dudinha - Fique quieto, garoto! Você não ouviu a
Malu ler que nosso
avião está desaparecido?
Ezequiel - Como assim? Eu estou tocando nele... aqui ele, ó!
Dudinha - Eu sei, Ezequiel, mas o jornal noticiou que desaparecemos
quando sobrevoávamos o Atlântico!
Ezequiel - E como eles sabem da notícia antes dela acontecer?
- Por causa do fuso horário, Ezequiel!
Ezequiel - Como assim?
- Eu explico: por exemplo, quando é 21:00 horas de
sábado no Japão, é
09:00 desse sábado no Brasil. Daí, você
estando no Brasil poderá
"saber" o futuro... entendeu?
Ezequiel - Não!
Dudinha - Só mais uma vez: um carro bate no Brasil
às 07:00 horas do
domingo e você está no Japão.
Às 19:00 horas desse mesmo dia você vê
pela Internet o acidente... daí você
está "vendo" o passado... sacou?
Ezequiel - Não
Dudinha - Então não posso fazer nada... e fique
quieto, garoto!
Ezequiel - Mas eu preciso aprender essas coisas, Dudinha!
Dudinha - Eta guri custoso!
Não posso explicar mais do que isso, Ezequiel,
senão os leitores dirão
que o autor tá querendo encher linguiça!
Ezequiel - Agora foi que minha cabeça deu um nó!
Dudinha - Cala a boca, Ezequiel!
Ezequiel - Mas eu gosto de saber das coisas, Dudinha!
Dudinha - Então vá pesquisar na Internet,
Ezequiel!
Ezequiel - Assim que eu voltar pra casa, farei isso, Dudinha!
Enquanto Malu lia o jornal, do mesmo jeito que apareceu o jornaleiro,
sumiu...
Passada a surpresa da notícia, a viagem prosseguiu
tranquila, pois,
nem todos os passageiros prestaram atenção ao que
Malu dissera pelo
microfone. Alguns dormiam e outros conversavam entre si. De repente,
Rebeca deu um grito que acordou os dorminhocos e chamou a
atenção de
todos na cabine de passageiros:
- Geeeeeeente! Hoje é aniversário do Dan!
Todos - Uuuuuu iupiii uaua uau fiuiiiiiiii plac plac plac!
Marlene (Puxando a cantoria) - Parabéns, pra
você...
Todos - ... Nesta daaata, que, ri, da,
muitas fe, li, ci, da, des,
muitos ããããnos, de vida!
Chegou a hora de apagar a velinha,
vamos cantar, aquela musiquinha...
parabéns... pra você, parabéns... pra
você,
pelo seu a, ni, ver, sá, ri, o!
É pique, é pique, é pique,
é hora, é hora, é hora...
rá... ti... bum....
Da, ni, lo... Da, ni, lo... Da, ni, lo!
Todos - Uuuuuu iupiii uaua uau fiuiiiiiiii plac plac plac!
Margo (Ao microfone) - Vejam, cambada, o que encontrei na cozinha!
Três garrafas da legítima "Champagne Croix des
Esprits!"
Todos - Uuuuuu iupiii uaua uau fiuiiiiiiii plac plac plac!
A festa estava bem animada na cabine de passageiros, deixando claro o
estado de espírito do pessoal. As comissárias
pegaram refrigerantes para quem não bebia, cerveja e
uísque e distribuiu entre todos. Essa
festinha improvisada, mas repleta de fraternidade e alegria, por umas
duas horas animou a turma. Aos poucos tudo foi voltando ao normal...
alguns voltaram a dormir e outros a conversar com o companheiro do
lado. Seis horas voou-se sob um céu de brigadeiro, mas ao
sobrevoar
uma certa zona do Oceano Atlântico, de repente o
avião tremeu todo,
deu uma sacolejada, como um ônibus velho trafegando numa das
rodovias
Brasileiras, que estão mais esburacadas do que um queijo
suíço. Alguns
dos passageiros, já acostumados com essas
turbulências, continuaram
suas conversas ou tirando suas sonecas. No compartimento de carga,
que está situado sob a cabine de passageiros, foi um
desastre só. As
malas, caixas, sacolas, mochilas, caixotes e duas grades de madeira
para transporte de animais, foram atiradas de um lado pro outro.
Atingidas pelas bagagens, as grades, uma com um gato e a outra com uma
cadela, desmantelaram-se libertando os dois pequenos animais de suas
prisões temporárias. A cadela, ao ver-se livre,
saiu em perseguição ao
gato...
É isso mesmo que vocês ouviram: Babi, a cadela de
Andréa Sousa e
Shompsom, o gato de Patricinha, sem que ninguém mais
soubesse, iriam
passear em Vila Xurupita. Até aí, nada demais,
porém, na correria dos
animais pelo compartimento de cargas, Babi atrás do
Shompsom, pega
daqui, foge dali, malas, caixas, caixotes, mochilas e sacolas iam, por
um e pelo outro, sendo arranhadas, rasgadas, derrubadas dos seus
alojamentos, transformando o lugar num campo de batalha após
o embate.
Numa dessas fugas, Shompsom viu-se acuado pela Babi e, saltando por
sobre a cadela, chocou-se com um emaranhado de fios, quebrando alguns
destes. Babi, ao tentar pegar o gato, completou o desastrado
serviço e
partiu o restante da fiação. No mesmo instante,
as luzes da aeronave
apagaram-se. Os dois contendores, como que compreendendo o dano que
causaram, trataram de se esconder, cada um num canto diferente e
distante do outro, permanecendo "pianinhos". Na cabine de passageiros
não se ouviu qualquer barulho que denunciasse a batalha que
se travara
no compartimento de cargas. Assim que as luzes apagaram, ouviu-se a
voz do comandante:
- Senhores passageiros, houve uma pane em nosso sistema
elétrico
central, mas logo as luzes de emergências serão
acesas e iremos ver
o que aconteceu! Relaxem e tenham uma boa viagem!
Ezequiel - Será que a bateria do avião
descarregou, Dudinha?
Dudinha - Cala a boca, guri e vê se dorme!
Pela calma que reinava na cabine, pareceu que ninguém
percebera o que
ocorrera, mas alguns medrosos preocuparam-se com o fato e, ao ouvirem
a voz do comandante... Alguns minutos depois, o
comandante voltou a falar:
- Senhores passageiros: fiquem tranquilos. Houve um pequeno
problema e perdemos um dos motores. Mas não se preocupem,
pois esta
aeronave é capaz de voar com apenas três dos seus
quatro motores.
Relaxem e tenham uma boa viagem!
Caco -Uff! Ainda bem!
Com esta afirmação do comandante, a paz continuou
a reinar no avião.
Não demorou muito e sentiu-se outra forte
vibração. Dessa vez os
passageiros entreolharam-se e já não ficaram
assim tão tranqüilos.
e mais uma vez ouve-se a voz do comandante:
- Senhores passageiros, ocorreu um novo problema e fui obrigado a
desligar um dos motores. Mas não se preocupem, pois esta
aeronave é
capaz de voar com apenas dois dos seus quatro motores. Relaxem e tenham
uma boa viagem!
Numa situação dessas é
difícil recuperar-se a serenidade, mas depois
de algum tempo sem que nada mais acontecesse, os passageiros
começaram
a relaxar. Após mais uma hora de voo, ouviu-se uma tremenda
explosão.
O avião sacolejou, tremeu, inclinou-se para um lado,
inclinou-se
para o outro, deu uma queda brusca e finalmente estabilizou-se.
As comissárias gritaram, a cegaiada gritou, a cadela latiu e
o gato
miou... até que a voz tranquilizadora do comandante soou:
- Senhores passageiros: perdemos um dos dois motores que ainda
funcionavam, mas não se preocupem porque vamos tomar as
providências
que o caso exige. Relaxem, não há motivos para
pânico ou alarme.
Mantenham-se em seus lugares e com os cintos afivelados até
que a
luzinha vermelha se apague! Relaxem e tenham uma boa viagem!
Apesar da voz confiante do comandante, os cegos, as
comissárias, a
cadela Babi e o gato Shompsom ficaram alarmados...
Virgínia - E agora, José?
Antonio José - Eu não tenho nada com isso,
Virgínia!
Marlene - Calma, gente... o comandante Adler foi piloto na segunda
guerra mundial... ele tem muita experiência!
Caco - Isso foi há mais de sessenta anos, Marlene!
Marlene - E daí, Caco?
Antonio José - E daí, Marlene, que o cara
tá bem velhinho, meu bem!
Marlene - Você já viu personagem de
ficção envelhecer?
Marilza - É isso que dá não contratar
um piloto de verdade, Marlene!
Marcão - O culpado disso tudo é esse autor
abestado, Marilza!
Carmem - Também acho!
De repente, a porta da cabine se abre e saem, apressadamente, o
comandante Adler e o copiloto Max Vermelho, cada um com uma enorme
mochila nas mãos. Eles prendem a mochila nas costas e se
dirigem para
a porta do avião...
Malu - Peraí, seu comandante. O senhor disse que
não havia motivo para
pânico, mas o senhor está aí se
preparando para quê?
Pat Vision - Isso aí não é um
paraquedas?
Adler (Calmamente) - É sim, mas não há
motivo para pânico. Fiquem em
seus lugares com os cintos afivelados e relaxem que nós
vamos buscar
ajuda!
E eles abriram a porta e saltaram no vazio...
Tiago Cocci - E agora, José?
Antonio José - Eu não sei de nada, amigo!
Aline - Alguém aqui sabe pilotar um avião?
Nelita - Calma, pessoal... Luís era aeromodelista e pode
pilotar isso aqui... eu acho!
Luís - Preciso da ajuda do Evangel e de uma vidente!
Rita Gonçalves - E nós da ajuda de todos os
Santos e Orixás baianos!
Carmem - Calma, Rita... lembre-se que o medo é passageiro!
Rita - Então eu sou o medo!
Evangel - Vamos lá, seu velho!
Renato - Para que os pilotos de avião passam por tantos
treinamentos,
se aqui nessa novelinha um cego que nunca entrou numa cabine vai
pilotar o avião?
Ricardo - Esqueceu que nos filmes também é assim?
Renato - É verdade!
Fim deste capítulo.
Fonte: http://www.vanmix.com/artigos/biblioteca/1118