Políticos e políticos... - 17/02/2009
Ainda há luz no fim do túnel?
Nos anos 1980 o escritor Luís Fernando Veríssimo criou uma personagem que se tornou célebre em todo o país por conta de sua crença ilimitada nas ações políticas dos governos que regiam o país naquela época. Era a Velhinha de Taubaté. Ainda que os indícios fossem provas contundentes de corrupção, ainda assim a velhinha duvidava das evidências e das maledicências da oposição. Mesmo que as denúncias surgissem do seio do próprio governo, a cândida senhora continuava a demonstrar total apoio ao presidente e seus assessores...
Veio a década de 1990. O impeachment de Collor a partir de denúncias de seu irmão Pedro Collor quanto ao Caixa 2 comandado por Paulo César Farias durante a campanha eleitoral do “caçador de marajás”. Os anões do orçamento também marcaram aquele período. As denúncias de corrupção ganharam espaço e vulto nos principais e mais respeitados órgãos de imprensa do país.
Mais recentemente até o governo Lula, eleito com a promessa velada de transparência e ética na administração pública acabou sendo alvo de graves denúncias. O ex-senador Roberto Jefferson, do PTB, abriu o jogo em entrevistas e denunciou a existência do Mensalão. De acordo com suas declarações o governo “remunerava” mensalmente alguns parlamentares da oposição para que eles votassem a favor de emendas enviadas ao Congresso pelo executivo. Pouco depois veio a denúncia contra Renan Calheiros, presidente do Senado Federal, a partir de declarações de sua amante Mônica Veloso.
Em todos os casos mencionados a imprensa foi de essencial importância para que os fatos chegassem ao grande público. Da mesma forma foram essenciais relatos e declarações de pessoas que tiveram acesso aos meandros do poder público no Brasil. Algumas pessoas foram, aparentemente, punidas por seus atos, como o ex-‑presidente [e agora Senador por Alagoas] Fernando Collor de Mello e alguns aliados do governo petista, que “perderam” suas prerrogativas parlamentares ou governamentais [casos mais notórios de José Dirceu, Gushiken, Genoíno...].
As recentes declarações do senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, cuja base eleitoral é Pernambuco [onde já foi governador por dois mandatos] novamente botam os políticos de plantão em polvorosa. Que o PMDB é uma legenda que se amolda aos interesses mais imediatos de seus coronéis e caciques é notório para todo o país há pelo menos 10 ou 15 anos. Descaracterizou-se completamente em relação ao MDB, partido que fez oposição sistemática e histórica à ARENA [Aliança Nacional Renovadora], representante da ditadura militar que governou o Brasil entre os anos 1960 e 1980.
O PMDB tornou-se o que historicamente veio a ser conhecido como “Pântano” ou Centrão, para utilizar apenas dois termos cunhados em diferentes momentos da história da humanidade. Talvez o primeiro, originário da Revolução Francesa, seja mais esclarecedor... Enquanto os representantes do povo se caracterizavam como “esquerda” no parlamento francês e os burgueses assumiam-se como “direita”, na queda de braço política que se estabeleceu após a queda da monarquia absolutista daquele país, uma parte dos parlamentares, localizada no centro do local de discussões políticas da França, assumia-se como “balcão de negócios”...
Hora pendia para a esquerda, em outros momentos para a direita. Sempre de olhos nos benefícios... Não para a população ou para qualquer grupo social específico... Vantagens para particulares, para grupos reduzidíssimos... Justamente como transparece aos brasileiros a partir das palavras de Jarbas Vasconcelos a respeito dos rumos do PMDB, o maior partido de nosso país [muito preocupante tendo em vista que é justamente este partido político que tem a maior quantidade de parlamentares no Congresso, prefeitos, vereadores, deputados estaduais e mesmo governadores].
Se não bastasse isto, Vasconcelos ainda descortinou situação que é de conhecimento geral, ainda que não seja objeto de real preocupação e de medidas efetivas, a “manipulação de licitações e as contratações dirigidas”. Quem ganha com isto? Quanto dinheiro público é desviado para fins ilícitos a partir deste tipo de ação? Não é possível enrijecer a legislação e o combate a estas práticas espúrias?
As denúncias respingaram até no governo federal, não como acusações, mas como desilusão do senador Vasconcelos. Referem-se à conivência do partido governista e demonstram que, de certa forma, até mesmo Lula e seus comandados, ainda que cientes do sistema corrupto que impera nas entranhas políticas nacionais, nada ou pouco fazem para combater estes abusos. Pior, ainda que eleitos com promessas de ética e transparência, mantém e operam dentro deste mar de lama.
A eleição de Sarney para a presidência do Senado [“vai transformar o Senado em grande Maranhão”] e a condução de Renan Calheiros a presidência do PMDB [“não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido”] podem ter sido apenas os motivos mais imediatos para as denúncias de Jarbas Vasconcelos, mas que debaixo do tapete levantado há muito mais poeira, disso nenhum de nós têm dúvidas...
O próprio fato de Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon serem dissidentes dentro do PMDB já demonstra que o modo de operação do partido segrega aqueles que têm linhas de trabalho mais afinada com a transparência e a ética. Assim como é evidente que há outros políticos no PMDB que não concordam e não compactuam com as ações denunciadas pelo senador pernambucano [ainda que sejam, provavelmente, poucos].
Também é certo que nos demais partidos há corrupção. Em maior ou menor escala de acordo com a fatia do bolo que compete a cada legenda ou bandeira. Isso é igualmente indiscutível. O momento é propício para que em nosso país ocorra uma revisão dos sistemas político, eleitoral e administrativo nas esferas públicas [em especial no que se refere a contratações, licitações, emprego de verbas...]. É hora de um choque de gestão, de profissionalização, de real punição de envolvidos [com a perda dos direitos políticos, a cassação de mandatos, o confisco de bens, o congelamento de patrimônio...]. Ao mesmo tempo é preciso buscar as pessoas que, de fora da esfera pública, patrocinam a corrupção, os corruptores...
Ou então, como já fez o PMDB em resposta a Jarbas Vasconcelos, tudo vai virar denúncia vazia, retirando-se das declarações qualquer gravidade, esperando que com o carnaval e as águas de março as manchetes dos jornais mudem para temas internacionais, esportivos, culturais... Justamente nos moldes daquilo que a mais vil política exercida em território nacional há tanto tempo vem fazendo... Jogando mais poeira para baixo do tapete...
Leia a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos para a Revista Veja na íntegra no link http://veja.abril.com.br/180209/entrevista.shtml
1 Rogerio Alves Pinto - São Paulo
Infelizmente, com o nível educacional de nosso povo, que não se interessa com esse jogo baixo de toma lá dá ca no poder, esses mesmos políticos ainda reinarão por um bom tempo. Até porque os políticos sabem que o povo não se preocupa com isso, pois se liga mais em carnaval, samba, futebol, dança de créu e outras mazelas culturais
23/02/2009 21:29:36
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