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A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Políticos e políticos...
Ainda há luz no fim do túnel?

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Nos anos 1980 o escritor Luís Fernando Veríssimo criou uma personagem que se tornou célebre em todo o país por conta de sua crença ilimitada nas ações políticas dos governos que regiam o país naquela época. Era a Velhinha de Taubaté. Ainda que os indícios fossem provas contundentes de corrupção, ainda assim a velhinha duvidava das evidências e das maledicências da oposição. Mesmo que as denúncias surgissem do seio do próprio governo, a cândida senhora continuava a demonstrar total apoio ao presidente e seus assessores...

Veio a década de 1990. O impeachment de Collor a partir de denúncias de seu irmão Pedro Collor quanto ao Caixa 2 comandado por Paulo César Farias durante a campanha eleitoral do “caçador de marajás”. Os anões do orçamento também marcaram aquele período. As denúncias de corrupção ganharam espaço e vulto nos principais e mais respeitados órgãos de imprensa do país.

Mais recentemente até o governo Lula, eleito com a promessa velada de transparência e ética na administração pública acabou sendo alvo de graves denúncias. O ex-senador Roberto Jefferson, do PTB, abriu o jogo em entrevistas e denunciou a existência do Mensalão. De acordo com suas declarações o governo “remunerava” mensalmente alguns parlamentares da oposição para que eles votassem a favor de emendas enviadas ao Congresso pelo executivo. Pouco depois veio a denúncia contra Renan Calheiros, presidente do Senado Federal, a partir de declarações de sua amante Mônica Veloso.

Em todos os casos mencionados a imprensa foi de essencial importância para que os fatos chegassem ao grande público. Da mesma forma foram essenciais relatos e declarações de pessoas que tiveram acesso aos meandros do poder público no Brasil. Algumas pessoas foram, aparentemente, punidas por seus atos, como o ex-‑presidente [e agora Senador por Alagoas] Fernando Collor de Mello e alguns aliados do governo petista, que “perderam” suas prerrogativas parlamentares ou governamentais [casos mais notórios de José Dirceu, Gushiken, Genoíno...].

As recentes declarações do senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, cuja base eleitoral é Pernambuco [onde já foi governador por dois mandatos] novamente botam os políticos de plantão em polvorosa. Que o PMDB é uma legenda que se amolda aos interesses mais imediatos de seus coronéis e caciques é notório para todo o país há pelo menos 10 ou 15 anos. Descaracterizou-se completamente em relação ao MDB, partido que fez oposição sistemática e histórica à ARENA [Aliança Nacional Renovadora], representante da ditadura militar que governou o Brasil entre os anos 1960 e 1980.

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O PMDB tornou-se o que historicamente veio a ser conhecido como “Pântano” ou Centrão, para utilizar apenas dois termos cunhados em diferentes momentos da história da humanidade. Talvez o primeiro, originário da Revolução Francesa, seja mais esclarecedor... Enquanto os representantes do povo se caracterizavam como “esquerda” no parlamento francês e os burgueses assumiam-se como “direita”, na queda de braço política que se estabeleceu após a queda da monarquia absolutista daquele país, uma parte dos parlamentares, localizada no centro do local de discussões políticas da França, assumia-se como “balcão de negócios”...

Hora pendia para a esquerda, em outros momentos para a direita. Sempre de olhos nos benefícios... Não para a população ou para qualquer grupo social específico... Vantagens para particulares, para grupos reduzidíssimos... Justamente como transparece aos brasileiros a partir das palavras de Jarbas Vasconcelos a respeito dos rumos do PMDB, o maior partido de nosso país [muito preocupante tendo em vista que é justamente este partido político que tem a maior quantidade de parlamentares no Congresso, prefeitos, vereadores, deputados estaduais e mesmo governadores].

Se não bastasse isto, Vasconcelos ainda descortinou situação que é de conhecimento geral, ainda que não seja objeto de real preocupação e de medidas efetivas, a “manipulação de licitações e as contratações dirigidas”. Quem ganha com isto? Quanto dinheiro público é desviado para fins ilícitos a partir deste tipo de ação? Não é possível enrijecer a legislação e o combate a estas práticas espúrias?

As denúncias respingaram até no governo federal, não como acusações, mas como desilusão do senador Vasconcelos. Referem-se à conivência do partido governista e demonstram que, de certa forma, até mesmo Lula e seus comandados, ainda que cientes do sistema corrupto que impera nas entranhas políticas nacionais, nada ou pouco fazem para combater estes abusos. Pior, ainda que eleitos com promessas de ética e transparência, mantém e operam dentro deste mar de lama.

A eleição de Sarney para a presidência do Senado [“vai transformar o Senado em grande Maranhão”] e a condução de Renan Calheiros a presidência do PMDB [“não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido”] podem ter sido apenas os motivos mais imediatos para as denúncias de Jarbas Vasconcelos, mas que debaixo do tapete levantado há muito mais poeira, disso nenhum de nós têm dúvidas...

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O próprio fato de Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon serem dissidentes dentro do PMDB já demonstra que o modo de operação do partido segrega aqueles que têm linhas de trabalho mais afinada com a transparência e a ética. Assim como é evidente que há outros políticos no PMDB que não concordam e não compactuam com as ações denunciadas pelo senador pernambucano [ainda que sejam, provavelmente, poucos].

Também é certo que nos demais partidos há corrupção. Em maior ou menor escala de acordo com a fatia do bolo que compete a cada legenda ou bandeira. Isso é igualmente indiscutível. O momento é propício para que em nosso país ocorra uma revisão dos sistemas político, eleitoral e administrativo nas esferas públicas [em especial no que se refere a contratações, licitações, emprego de verbas...]. É hora de um choque de gestão, de profissionalização, de real punição de envolvidos [com a perda dos direitos políticos, a cassação de mandatos, o confisco de bens, o congelamento de patrimônio...]. Ao mesmo tempo é preciso buscar as pessoas que, de fora da esfera pública, patrocinam a corrupção, os corruptores...

Ou então, como já fez o PMDB em resposta a Jarbas Vasconcelos, tudo vai virar denúncia vazia, retirando-se das declarações qualquer gravidade, esperando que com o carnaval e as águas de março as manchetes dos jornais mudem para temas internacionais, esportivos, culturais... Justamente nos moldes daquilo que a mais vil política exercida em território nacional há tanto tempo vem fazendo... Jogando mais poeira para baixo do tapete...

Leia a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos para a Revista Veja na íntegra no link http://veja.abril.com.br/180209/entrevista.shtml

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