Trabalhando com a Jéssica - 16/02/2009
Relato enviado por Jô Nunes, a mãe de Jéssica
Após passar um tempo em outra cidade retornei a São Paulo e também para lecionar na escola que sempre trabalhei.
Ao conhecer a sala de aula me deparei com uma menina muito meiga e carinhosa, extremamente afetiva e às vezes muito "grudenta". Era a Jéssica, que fazia de tudo para chamar minha atenção, pois queria exclusividade.
Apesar de ter Síndrome de Williams que a "impossibilitava" de ter o mesmo retorno das demais crianças, Jéssica era muito especial, já era alfabetizada e tinha um vocabulário muito rico além de sua idade cronológica. Sua maior dificuldade era transcrever sua oralidade para a escrita e principalmente a matemática.
Antes de assumir a sala de aula, segundo relatos, soube que Jéssica dormia quase que diariamente na sala de aula. Com a ajuda dos alunos da sala passei a estimulá-la e a cobrar as atividades iguais aos outros alunos, respeitando as suas limitações. Ela começou a produzir muito mais. Participava oralmente de todas as atividades propostas e começou a ler os mesmos textos que os demais; dava opiniões e escrevia, dentro de sua capacidade.
Algumas atividades eram específicas para ela, outras eram adaptadas para a medida que ela conseguia fazer. Porém, a matemática continuava sendo um desafio: as dificuldades eram muitas e ela não conseguia entender o mecanismo do sistema de numeração decimal. Ficava quase impossível resolver situações de matemática, o que causava muita angústia e depressão.
Após muitas tentativas com materiais concretos, desenhos e outros, resolvi introduzir o material dourado. Para tentar fazer com que ela entendesse, passei a usá-lo como um dos recursos, para que ela pudesse manusear, substituir e efetuar operações matemáticas com sucesso.
Ela se apaixonou pelo o material e começou a manuseá-lo com muita agilidade. Sua empolgação e sua vontade de aprender me impressionaram muito. Foi numa tarde de quarta-feira (nunca vou esquecer este dia, que me emocionou muito), que ela conseguiu formar um número com o uso do material. A alegria dela era tanta que parecia que ela ia explodir, os alunos gritavam o seu nome em coro, acompanhado de palmas e ela, chorando, falava:
- Professora, eu consegui, eu aprendi, te amo, muito obrigada!
Após este dia ela queria todos os dias fazer matemática e até montou um material dourado em sua casa usando sucata. A cada dia eu ia aumentando gradualmente o grau de dificuldade e ela respondia bem. Suas produções de textos se ampliaram e ela passou a fazer o uso de recursos como diálogos, suspenses e clímax na narração. Seus textos passaram a ter sequência nos fatos e significados. E nunca mais dormiu na sala de aula.
Nesta época eu estava passando por um momento muito difícil na minha vida, tanto emocionalmente como financeiramente, estava sem esperança, enxergava o mundo em preto e branco, vivia um dia de cada vez.
A Jéssica foi para mim uma pessoa muito especial, não no sentido da deficiência, mas como pessoa, pois aprendi muito com ela. Com seu jeito alegre e extrovertido de ser, cheia de esperanças e sonhos, não desanimava diante de um desafio, não via maldade nas pessoas, era espontânea, natural e acreditava no ser humano. Ela era solidária e se preocupava com o outro. Jamais em toda minha vida vi alguém expressar tão intensamente o amor, felicidade, gratidão em apenas um sorriso, um sorriso puro, sincero. Ela me ensinou o valor de um sorriso, a refletir sobre a minha vida, a enxergar o mundo colorido e de outra forma, me ensinou a ver as coisas boas que a vida oferece, a viver intensamente o dia como se fosse o último, a não desanimar diante dos desafios que a vida nos oferece, me ensinou que existem várias maneiras de ver, sentir, ouvir e principalmente de expressar.
Jéssica, hoje sei o significado da palavra "educar", sei romper barreiras, ser um ser humano melhor. Você veio ao mundo com a missão de transformar as pessoas. Aproveite cada instante que a vida lhe proporcionar, continue sendo assim como você é, levando vida, esperança e alegria às pessoas. Você é a luz que brilha em momentos de escuridão para as pessoas.
Este tempo que estivemos juntas tivemos muitas trocas aprendemos uma com a outra.
Continue sendo você, sorria sempre.
Professora Tânia Bazzani.
1 Jô nunes - São Paulo
Deixo Aqui a minha homenagem para a professora Tânia Bazzani , que faleceu em janeiro de 2013.
18/12/2013 18:03:48
2 Lucia Mello - São Paulo SP
A Prof. Tania com o seu dever de educadora garantiu à Jéssica,uma pessoa com Síndrome de Williams, pudesse se alfabetizada e até começar a aprender inglês e espanhol, tudo feito com muita eficiência e carinho.
Não tenho o q agradecer pois é a função do educador...educar...mas o seu reconhecimento como a PROFESSORA DA JÉSSICA...isto fica no coração de todos!
04/10/2010 09:22:45
3 Tania Bazzani - São Paulo
Hoje após 6 anos reli esse relato do qual fiz para a Jéssica. Ela sempre foi uma menina especial, veio ao mundo para mostrar as pessoas o que vem a ser ESPECIAL. Nos ensinando a amar, respeitar e acreditar na capacidade do ser humano em superar suas limitações, vencer desafiaos, sempre com um sorriso no rosto por mais que todos dissessem o contrário. Fique com DEUS meu anjo, pois suas lições serão com certeza repassadas por gerações.... Saudades Prof. Tania.
01/10/2010 14:05:58
4 Jô Nunes - São Paulo
No dia 23/05 a Jéssica teve uma parada cardiaca em casa , consegui renima la e a levei para PS/INCOR, ficopu 5 dias no PS e depois foi para a Semi UTI , depois de mais 5 dias foi para UTI com um séria insulficiencia lá permaneceu 25 dias e cada dia piorava mais.
A ultima esperança seria um transplante de alto risco, pq no mumndo não tinha nem um relato de SW transplantado, Ai expliquei para ela todos os riscos e ela decidiu fazer o transplante foi para a fila no dia 24/6 e dai 3 dias apareceu um coração.Transplantou ficou otima depois de 21 dias fizeram uma biopsia deu uma rejeição pequena começou a tomar a medicação , mas todas ela tinha reação várias convulções , depois contraiu um megalovirus, mas as medicações eram muitos fortes e danificou os orgãos dela , no dia 13/08 e teve uma parada cardiaca ás 5 da manhã ficou entubada e as 10:10 da manhã ela partiu.
Estou desolada como se tevesse arrancado um pedaço de mim, a unica coisa q me conforta é a certeza q minha filha foi a pessoa mais feliz neste mundo e tb fez todos a sua volta feliz.
20/08/2010 09:09:18
5 Jéssica Nunes Herculano - São Paulo
Fiquei muito feliz em ver aminha história aqui
Tania
Me magoa muito me lembrar dos professores que não me aceitaram, mas de uma coisa eu tenho certeza eles perderam a única oportunidade de morar no meu coração, todos que acreditaram em mim tem um lugar especial no meu coração.
Te amo muito.
obs:quem quizer ver a minha história entre no site:www.swbrasil.org.br
19/04/2009 02:24:47
6 Jô Nunes - São Paulo
Como Mãe da Jéssica hj me sinto muito orgulhosa de seu trabalho, hj a Jéssica está com 18 anos, concluiu o ensino fundamental, totalmente alfabetizada.Fala ingles , frances, espanhol e aprendeu libras, faz e vende bijuterias.
Não quiz fazer o ensino médio, está fazendo um treinamento para trabalhar em um hotel, dá palestras relatando as sua conqustas e frustrações na sua trajetória escolar.
Anda sozinha, namora, tem muitos amigos, enfim uma jovem comum ,mas muito especial.
Ela sempre Cita que vc tem um lugar muito especial no coração dela.
Tânia te amamos muito
19/04/2009 02:15:28
7 Gisele Pecchio - Osasco
Profa. Tânia, parabéns por considerar as necessidades diferentes de seus alunos e por tratálos com igualdade. Vou postar este link no meu blog http://gpecchio.blogspot.com
20/02/2009 08:31:00
8 Isabel Cristina Possatti Rodrigues - São Vicente
Cabe ao professores especialistas fazerem esta divulgação e deem o suporte para que sucessos como o de Jéssica, sejam conseguidos e a inclusão perca o estigma que a acompanha.
Nem tudo é assim tão perfeito!
Mas se não vivermos as situações como aprender?
Olhar e sentir são os principios, porém a teoria e a prática fazem o trabalho acontecer
16/02/2009 14:13:36
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