De Olho na História
Eduardo Simões Licenciado pela Universidade Federal do Ceará; Professor efetivo da rede de ensino estadual de São Paulo

A Crise de 1929 - 14/11/2008
Os loucos anos 1920

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Fazendo um estudo comparativo entre a crise de 29 e a crise econômica atual (2008) somos levados a crer numa certa incapacidade dos americanos de lidar com o sucesso.

Que eles são trabalhadores e muito criativos não dá para negar, mas falta-lhes, creio eu, o hábito da reflexão aprofundada, uma visão geral dos fenômenos econômicos e sociais, falta-lhes certa prudência, a partir das experiências anteriores, como acontece a europeus e asiáticos.

Enquanto as outras nações definham lentamente, dando lugar às novas forças hegemônicas, os americanos simplesmente desabam, criando um perigoso vácuo político-econômico – a última vez em que isso ocorreu, o mundo acabou na mais sangrenta guerra mundial da história.

Os elementos são parecidos: uma crença ingênua no liberalismo clássico, quase inexplicável depois de tudo que o já aconteceu, nas leis cegas de mercado e em um ciclo de prosperidade aparentemente interminável, embora a crise de atual tenha um agravante em relação à de 29: a crise atual pegou os americanos em meio a uma guerra longa e ainda indefinida, contra os inimigos de Israel.

Espero que uma reflexão sobre 29 ajude a compreensão daquilo que está ocorrendo atualmente e, na medida do possível, tranquilize os angustiados e alerte aos responsáveis.

A sociedade do pós-guerra

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, milhões de jovens, com os bolsos cheios de dinheiro e ideias na cabeça, foram desmobilizados do exército americano e absorvidos pelo sistema fabril ou abriram novos negócios, para aproveitar a maré de prosperidade que invadia o país, pois a guerra propiciara uma colossal transferência de capitais da Europa para os Estados Unidos.

Essa transferência continuaria nos anos seguintes, pois os americanos não estavam dispostos a abrir mão dos juros e taxas acordados anteriormente com os europeus, ainda mais agora que a Europa recusava-se a aplicar a proposta americana para uma paz sem vencidos nem vencedores elaborada pelo presidente Woodrow Wilson.

Ao invés de buscar virar o jogo com uma diplomacia de longo prazo os americanos, preferiram dar ouvidos ao discurso demagógico e populista de Warren Harding, que se tornará um dos mais corruptos presidentes da história do país, eleito em 1920 com a proposta de um retorno à “normalidade”, que na prática significava o retorno à velha nação do século XIX, fechada sobre si mesma, com o Estado bem distante da economia e das reformas sociais.

O fluxo de dinheiro era enorme, fruto da poupança nacional e dos recursos gerados tanto pela venda de armas aos durante a guerra como de empréstimos de capitais aos europeus.

Com os caixas forrados de dinheiro os bancos puseram-se à caça de talentos empreendedores para fazer o capital girar na forma de novas empresas, abertas aos milhares por jovens ex-soldados ambiciosos e motivados.

Rapidamente se fizeram fortunas e começou a surgir, forte e pujante, uma numerosa classe média tipicamente urbana.

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