De Olho na História
A Crise de 1929
Os loucos anos 1920
Fazendo um estudo comparativo entre
a crise de 29 e a crise
econômica atual (2008) somos levados a crer numa certa
incapacidade dos
americanos de lidar com o sucesso.
Que eles são
trabalhadores e muito criativos não dá para
negar, mas falta-lhes, creio eu, o hábito da
reflexão aprofundada, uma visão
geral dos fenômenos econômicos e sociais,
falta-lhes certa prudência, a partir
das experiências anteriores, como acontece a europeus e
asiáticos.
Enquanto as outras
nações definham lentamente, dando lugar
às novas forças hegemônicas, os
americanos simplesmente desabam, criando um
perigoso vácuo político-econômico
– a última vez em que isso ocorreu, o mundo
acabou na mais sangrenta guerra mundial da história.
Os elementos são
parecidos: uma crença ingênua no
liberalismo clássico, quase inexplicável depois
de tudo que o já aconteceu, nas
leis cegas de mercado e em um ciclo de prosperidade aparentemente
interminável,
embora a crise de atual tenha um agravante em
relação à de 29: a crise atual
pegou os americanos em meio a uma guerra longa e ainda indefinida,
contra os
inimigos de Israel.
Espero que uma reflexão
sobre 29 ajude a compreensão daquilo
que está ocorrendo atualmente e, na medida do
possível, tranquilize os
angustiados e alerte aos responsáveis.
A sociedade do pós-guerra
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, milhões de jovens, com os bolsos cheios de dinheiro e ideias na cabeça, foram desmobilizados do exército americano e absorvidos pelo sistema fabril ou abriram novos negócios, para aproveitar a maré de prosperidade que invadia o país, pois a guerra propiciara uma colossal transferência de capitais da Europa para os Estados Unidos.
Essa transferência
continuaria nos anos seguintes, pois os americanos
não estavam dispostos a abrir mão dos juros e
taxas acordados anteriormente com
os europeus, ainda mais agora que a Europa recusava-se a aplicar a
proposta americana
para uma paz sem vencidos nem vencedores elaborada pelo presidente
Woodrow
Wilson.
Ao invés de buscar virar
o jogo com uma diplomacia de longo
prazo os americanos, preferiram dar ouvidos ao discurso
demagógico e populista
de Warren Harding, que se tornará um dos mais corruptos
presidentes da história
do país, eleito em 1920 com a proposta de um retorno
à “normalidade”, que na
prática significava o retorno à velha
nação do século XIX, fechada sobre si
mesma, com o Estado bem distante da economia e das reformas sociais.
O fluxo de dinheiro era enorme,
fruto da poupança nacional e
dos recursos gerados tanto pela venda de armas aos durante a guerra
como de
empréstimos de capitais aos europeus.
Com os caixas forrados de dinheiro
os bancos puseram-se à
caça de talentos empreendedores para fazer o capital girar
na forma de novas
empresas, abertas aos milhares por jovens ex-soldados ambiciosos e
motivados.
Rapidamente se fizeram fortunas e
começou a surgir, forte e
pujante, uma numerosa classe média tipicamente urbana.