A criança e o faz-de-conta - 08/10/2008
Vera Lúcia Camara F. Zacharias
No presente artigo estaremos usando a expressão faz-de-conta com o seguinte sentido: uma conduta lúdica da criança que usa a representação dramática sem as preocupações que a palavra representar tem no seu sentido usual, ou seja, para um público, para ser apreciada por observadores.
É uma atividade psicológica de grande complexidade, é uma atividade lúdica que desencadeia o uso da imaginação criadora pela impossibilidade de satisfação imediata de desejos por parte da criança.
Essa atividade enriquece a identidade da criança, porque ela experimenta outra forma de ser e de pensar; amplia suas concepções sobre as coisas e as pessoas, porque a faz desempenhar vários papéis sociais ao representar diferentes personagens.
Quando brinca, a criança elabora hipóteses para a
resolução de seus problemas e toma atitudes
além do comportamento habitual de sua idade, pois busca
alternativas para transformar a realidade. Os seus sonhos e desejos, na
brincadeira podem ser realizados facilmente, quantas vezes o desejar,
criando e recriando as situações que ajudam a
satisfazer alguma necessidade presente em seu interior.
Vygotsky assinalou que uma das funções
básicas do brincar é permitir que a
criança aprenda a elaborar/ resolver
situações conflitantes que vivencia no seu dia a
dia.
E para isso, usará capacidades como a observação, a imitação e a imaginação.
Essas representações que de início podem ser "simples", de acordo com a idade da criança, darão lugar à um faz de conta mais elaborado, que além de ajudá-la a compreender situações conflitantes ajuda a entender e assimilar os papéis sociais que fazem parte de nossa cultura ( o que é ser pai, mãe, filho, professor, médico, ... ). Através desta imitação representativa a criança vai também aprendendo a lidar com regras e normas sociais. Desenvolve a capacidade de interação e aprende a lidar com o limite e para tanto, os jogos com regras são fundamentais, principalmente a partir dos 06 anos aproximadamente.
Quando Vygotsky discute o papel do brinquedo, refere-se especificamente à brincadeira de "faz-de-conta", como brincar de casinha, brincar de escolinha, brincar com um cabo de vassoura como se fosse um cavalo. Faz referência a outros tipos de brinquedo, mas a brincadeira "faz-de-conta" é privilegiada em sua discussão sobre o papel do brinquedo no desenvolvimento.
As crianças evoluem por intermédio de suas próprias brincadeiras e das invenções das brincadeiras feitas por outras crianças e adultos. Nesse processo, ampliam gradualmente sua capacidade de visualizar a riqueza do mundo externamente real, e , no plano simbólico procuram entender o mundo dos adultos, pois ainda que com conteúdos diferentes, estas brincadeiras, possuem uma característica comum: a atividade do homem e suas relações sociais e de trabalho. Deste modo, elas desenvolvem a linguagem e a narrativa e nesse processo vão adquirindo uma melhor compreensão de si próprias e do outro, pela contraposição com coisas e pessoas que fazem parte de seu meio, e, que são portanto, culturalmente definidas também.
Para Vygotsky, ao reproduzir o comportamento social do adulto em seus jogos, a criança está combinando situações reais com elementos de sua ação fantasiosa. Esta fantasia surge da necessidade da criança, como já dissemos, em reproduzir o cotidiano da vida do adulto da qual ela ainda não pode participar ativamente. Porém, essa reprodução necessita de conhecimentos prévios da realidade exterior, deste modo, quanto mais rica for a experiência humana, maior será o material disponível para as imaginações que irão se materializar em seus jogos.
A construção do real parte então do social ( da interação com outros), quando a criança imita o adulto e é orientada por ele, e paulatinamente é internalizada pela criança. Ela começa com uma situação imaginária, que é uma reprodução da situação real, sendo que a brincadeira é muito mais a lembrança de de alguma coisa que de fato aconteceu, do que uma situação imaginária totalmente nova. Conforme a brincadeira vai se desenvolvendo acontece uma aproximação com a realização consciente do seu propósito.
Vygotsky coloca que o comportamento das crianças em situações do dia a dia é, em relação aos seus fundamentos, o contrário daquele apresentado nas situações de brincadeira. A brincadeira cria zona de desenvolvimento proximal da criança que nela se comporta além do comportamento habitual para sua idade, o que vem criar uma estrutura básica para as mudanças da necessidade e da consciência, originando um novo tipo de atitude em relação ao real. Na brincadeira, aparecem tanto a ação na esfera imaginativa numa situação de faz-de-conta, como a criação das intenções voluntárias e as formações dos planos da vida real, constituindo-se assim, no mais alto nível do desenvolvimento pré-escolar. ( Vygotsky, 1984, p.117).
Outro aspecto importante colocado por Vygotsky (1984) é que, no jogo de faz-de-conta, a criança passa a dirigir seu comportamento pelo mundo imaginário, isto é, o pensamento está separado dos objetos e a ação surge das idéias. Assim, do ponto de vista do desenvolvimento, o jogo de faz-de-conta pode ser considerado um meio para desenvolver o pensamento abstrato.
A interpretação de Vygotsky atribui ao jogo imaginário uma dupla tendência - com ações subordinadas ao real, pelos seus vínculos com acontecimentos e regras daquilo que é vivenciado, e com a transformação do real, pelas possibilidades de recombinação criativa das experiências, conforme salienta Rocha (1994). No entanto, segundo a mesma autora, a primeira tendência foi enfatizada por outros autores da abordagem histórico-cultural, tendo sido subestimado aquilo que o teórico esboçou como processo de criação imaginativa. Tanto a atividade lúdica quanto a atividade criativa surgem marcadas pela cultura e mediadas pelos sujeitos com que ela se relaciona.
Mas além de ser uma situação imaginária, o brinquedo é também uma atividade regida por regras. Mesmo no universo do "faz-de-conta" há regras que devem ser seguidas. Ao brincar de ônibus, por exemplo, exerce o papel de motorista. Para isso tem que tomar como modelo os motoristas reais que conhece e extrair deles um significado mais geral e abstrato para a categoria "motorista". Para brincar conforme as regras, tem que esforçar-se para exibir um comportamento ao do motorista, o que a impulsiona para além de seu comportamento como criança. Tanto pela criação da situação imaginária, como pela definição de regras específicas, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. No brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto/significado.
Vygotsky vem quebrar a dicotomia de mundo-adulto-sério-real e mundo-infantil-lúdico-fantasioso. Fantasia e realidade se realimentam e possibilitam que a criança - assim como os adultos - estabeleça conceitos e relações; insira-se enquanto sujeito social que é. Ele sinaliza que, ao brincar, a criança não está só fantasiando, mas fazendo uma ordenação do real; tendo a possibilidade de ressignificar suas diversas experiências cotidianas. Não podemos nos esquecer de que para ele, a imitação, o faz-de-conta, permite a reconstrução interna daquilo que é observado externamente e, portanto, através da imitação são capazes de realizar ações que ultrapassam o limite de suas capacidades.
Pois, se através da imitação (no sentido atribuído por Vygotsky, um instrumento de reconstrução), a criança aprende, nada mais positivo que a escola promova situações que possibilitem a imitação, a observação e a reprodução de modelos.
Logicamente o sentido de imitação explícito nas idéias no autor, não pode ser confundido com o que podemos constatar ainda em tantas escolas: proposição de atividades que visam tão somente a reprodução, descontextualizadas, imitações mecânicas de modelos fornecidos pelos professores, as "famosas cópias" de desenhos fornecidos pelos docentes ou retirados de alguma cartilha. As situações de imitação precisam intervir e desencadear um processo de aprendizagem.
A promoção de atividades que favoreçam o envolvimento em brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, têm nítida função pedagógica. A escola e, particularmente a pré-escola, poderiam a partir desse tipo de situações, atuar no processo de desenvolvimento das crianças. Principalmente na pré-escola, a brincadeira não deveria ser considerada uma atividade de passatempo, sem outra finalidade que a diversão.
Para tanto, é preciso, inicialmente, considerar as brincadeiras que as crianças trazem de casa ou da rua e que organizam independentemente do adulto, como um diagnóstico daquilo que já conhecem, tanto no diz respeito ao mundo físico ou social, bem como do afetivo e, é necessário que a escola possibilite o espaço, o tempo e um educador que seja o elemento mediador das interações das crianças com os objetos de conhecimento.
Bibliografia:
ROCHA, M.S.P.M.L. (1994) A constituição social do
brincar: Modos de abordagem do real e do imaginário no
trabalho pedagógico. Dissertação de
Mestrado, UNICAMP
Vygotsky. A formação social da mente. Martins
Fontes, 1984.
1 Luciana fernandes cardozo - Mesquita
Bom dia!Sou estudante de letras e estou com dúvidas sobre algumas questões .Será que pode me ajudar? 1Considerando a construção de sentido possíveis,analise e explique o seguinte diálogo de duas garotinhas numa festa. Você gosta de milho verde? Nem de verde,nem de cor nenhuma. 2justifique,linguisticamente, o raciocínio desenvolvido por uma menina de 8 anos para elaborar a pergunta a seguir,feitas aos pais. Quem tem bronquite é porque leva muita bronca? Por favor me ajude.Obrigada beijos.
12/08/2013 10:55:29
2 Luciana fernandes cardozo - Mesquita
Bom dia!Sou estudante de letras e estou com dúvidas sobre algumas questões .Será que pode me ajudar? 1Considerando a construção de sentido possíveis,analise e explique o seguinte diálogo de duas garotinhas numa festa. Você gosta de milho verde? Nem de verde,nem de cor nenhuma. 2justifique,linguisticamente, o raciocínio desenvolvido por uma menina de 8 anos para elaborar a pergunta a seguir,feitas aos pais. Quem tem bronquite é porque leva muita bronca? Por favor me ajude.Obrigada beijos.
12/08/2013 10:55:12
3 Luciana fernandes cardozo - Mesquita
Bom dia!Sou estudante de letras e estou com dúvidas sobre algumas questões .Será que pode me ajudar? 1Considerando a construção de sentido possíveis,analise e explique o seguinte diálogo de duas garotinhas numa festa. Você gosta de milho verde? Nem de verde,nem de cor nenhuma. 2justifique,linguisticamente, o raciocínio desenvolvido por uma menina de 8 anos para elaborar a pergunta a seguir,feitas aos pais. Quem tem bronquite é porque leva muita bronca? Por favor me ajude.Obrigada beijos.
12/08/2013 10:54:50
4 norma - sp
Vera...adorei seu artigo !!!
vamos manter contato!!!
NORMA exTorricelli
19/03/2012 23:51:18
5 andrea - campinas
Estou simplesmente, maravilhada com o artigo que li na revistanossa imagem do mês de outubro criança feliz aprende tudo o que eu queria dizer na escola da minha filha e não achava as palavras, não sabia como me expressar,tenho tido exatamente este tipo de problemas na escola , eles querem a minha filha sigo o padrão, mas ela tem seu tempo, eu tenho 3 filhos homens 25 23 e22 anos , quando eles eram pequenos , tinha o pensamento que eles tinham que ser o mais inteligente e competir com os amigos da mesma idade, isto é coisa imatura agora eu sei, Ja agora com a Ana Julia que tem apenas 2 anos e 10 meses eu vejo diferente, eu não quero forçala a ser gente grande logo, quero que ela curta e aproveite cada minuto do seu tempo de descoberta do mundo. Este artigo estou enviando para a psicologa da escola, sei que terei um grande confronto de idéias , mas é o que realmente acredito, parabens e muito obrigada por este artigo.
11/11/2011 15:48:44
6 kinita gold - rio de janeiro
as obras dos mestres da pedagogia são o meu ponto de referência de quando estou em contacto com as crianças principalmente na educação infantil, pois é quando elas entram no laboratório da vida, o brincar. As brincadeiras são o mediador entre a fantasia e a realidade. a onde a criança adquire o aprendizado, e seu crescimento como um individuo um cidadaõ.
16/02/2011 17:03:45
7 GUERTA S. B. LONGO - São lourenço do Oeste SC
Adorei seu artigo , encontreio por acaso , estou desenvolvendo meu tcc e por conhecidencia o tema que escolhi é o real e o imaginario,gostaria de mais informações.
01/07/2009 15:43:36
8 Criseide - Lençóis Paulista
Excelente este texto. Brincadeira é coisa séria para a criança. A brincadeira favorece a aprendizagem além de tornála mais prazerosa.
18/05/2009 13:57:33
9 ELAINE CRISTINA FERRAZ DA SILVA GÓIS - LENCÓIS PAULISTA
TODAS AS ATIVIDADES QUE PROMOVEM UMA BRINCADEIRA PEDAGÓGICA TEM COMO OBJETIVO FINAL UM APRENDIZADO MAIS COMPLETO. MUITO INTERESSANTE ESSA ARTIGO.
18/05/2009 09:37:36
10 JOSEFA - POA
OLA SOU A JOSEFA GOSTEI MUITO DO TEXTO POIS NAO TENHO LIDO MUITO FICOU MUITO BOM GOSTARIA DE OBTER MAIS INFORMAÇAO BJUS
16/04/2009 23:09:47
11 Vitor Antunes - são josé dos pinhais pr
òtimo o artigo de Zacharias, gostaria de saber ainda a data de publicação do artigo dela Vygotsky e a educação pois pretendo aproveitar algumas falas e não tenho a data somente a do acesso. Agradeço a ajuda.
10/11/2008 22:10:30
12 Marinela de Camargo Macedo - Londrina
É muito bom, ter acessos confiáveis e escritos com clareza para embasar nossa prática diária bem como reforçar as bases de fundamentação.
28/10/2008 23:00:28
13 victoria santosandrade - Caçapava
olá eu sou victoria estudo na escola edmir viana de moura amei esse texto é um exemplo !!!!!! pra todos os alunos...
bjOs
tchau
abraços!!!!!
22/10/2008 13:32:23
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