A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Como chegar à Educação de Qualidade? - 15/09/2008
Diferencial para a Qualidade: O Professor

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“De todos os fatores numa escola, certamente o que mais explica a excelência na sala de aula diz respeito à capacidade dos professores de despertar a curiosidade intelectual dos alunos e lhes transmitir conhecimento. É algo básico, mas freqüentemente ignorado. Veja o que revelam os números. Tendo um ótimo professor durante cinco anos seguidos, uma criança egressa de um ambiente de pobreza e analfabetismo poderá alcançar o mesmo nível de conhecimento de outra vinda de uma casa em que os pais têm diploma de ensino superior e boa situação financeira. A questão é que os diretores das escolas raramente aplicam os critérios certos para rastrear os bons profissionais.” [Eric Hanushek, professor da Universidade Stanford, em entrevista para a Revista Veja, pesquisador dos efeitos do bom ensino no crescimento econômico].

            O mais temido “apagão” que pode abater o crescimento econômico do Brasil nos anos vindouros não é o do setor energético, dos transportes ou mesmo relacionado a recursos financeiros... É o caos que pode ser causado pela falta de trabalhadores qualificados... O país pode e, certamente irá, ficar para trás na corrida econômica mundial se a educação não melhorar e permitir a superação dos pífios resultados apresentados até agora.

        As palavras de Hanushek, doutor em economia pelo MIT (Massachussetts Institute of Technology) e estudioso destacado das questões relativas ao impacto de uma educação de qualidade na economia de um país trazem a tona o que todos dizemos saber, mas que, infelizmente, ainda não redundou em medidas efetivas para os projetos educacionais de nosso país.

         O diferencial para a plena aprendizagem é o estímulo, o incentivo, a participação e o direcionamento que podem e devem ser dados pelos professores em sala de aula. Elementos que têm que, necessariamente, despertar a curiosidade, encantar, seduzir e despertar os alunos para o conhecimento em suas várias roupagens e possibilidades.

        E quem é esse professor? É o Ph.D. em Educação? Ou seja, é o especialista top de linha, que fez mais cursos, aperfeiçoamento e têm mais horas de leituras, pesquisa e estudo? É claro que todas essas particularidades podem ajudar no desenvolvimento desse profissional, no entanto, de acordo com as pesquisas de Hanushek, “os Ph.Ds. não apenas não são necessariamente os melhores professores, como muitas vezes figuram entre os piores.”

        Muitas vezes esse profissional é alguém que simplesmente não se conformou com o sistema educacional prevalente em terras nacionais. É aquela pessoa que aprendeu a duras penas, galgou os degraus que o levaram a uma licenciatura ou a uma graduação em pedagogia e que percebeu a distância entre o discurso da educação nas universidades e a realidade das salas de aula. Trata-se, evidentemente, daquele que ousou renovar suas práticas, ainda que enfrentasse o desdém e a desconfiança de outros profissionais, dos gestores das escolas ou mesmo da comunidade...

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        Esse professor encarou críticas por ter dado voz ativa e trazido os alunos ao palco central das ações que se desenrolam numa sala de aula, fazendo com que os educandos fossem valorizados quanto aos conhecimentos anteriores por eles adquiridos em outras instâncias e momentos de suas existências.

        É também um sujeito que não reduziu suas experiências pedagógicas ao que havia visto outros professores fazendo em sala de aula. Quis trazer outros recursos, metodologias, ações e proposições para o âmbito educacional em que estava atuando.

        Leu e estudou os mestres e pesquisadores da educação e procurou, na medida do possível, aprender novos caminhos com eles, adaptando esses saberes a sua realidade, a sua clientela. Não se deixou levar pelos problemas, que todos sabemos ainda existir nas redes educacionais públicas brasileiras, para acomodar-se e dizer que salários baixos, falta de recursos, baixa participação das famílias nas escolas ou mesmo ausência de apoio dos gestores da escola foram empecilhos intransponíveis na busca pela educação de qualidade, efetiva, que transformasse a vida de seus alunos.

        Esse educador sabe que a valorização profissional pode até tardar um pouco, mas que virá e que está associada à realização, a efetividade de seu trabalho. De certa forma, muitas vezes até inconsciente, já sabia que por seus méritos profissionais seria valorizado, ou seja, adiantado em relação à massa, percebia e vivia nos conformes da meritocracia.

        Além de saber que esse reconhecimento viria na forma de valorização financeira e profissional, com o surgimento de melhores propostas financeiras e cargos, viveu durante muito tempo (e continua experimentando isso) o melhor dos prêmios que poderia receber ao ser estimulado e valorizado pelos alunos e turmas com as quais teve a oportunidade de trabalhar.

        E o sentimento de que valeu a pena mesmo consolidou-se ao final quando pôde ver que esses alunos, ao qual devotou seu tempo, seus conhecimentos, seu estudo e suas energias, formaram-se e acabaram se tornando cidadãos respeitados e profissionais que encontraram emprego e boas condições de trabalho num mercado cada vez mais acirrado.

        É por isso que Hanushek afirma, categoricamente que “reconhecer concretamente os talentos individuais é a medida mais eficaz quando se trata de preservar apenas os mais talentosos – e [conseqüentemente] melhorar o ensino”...

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18 COMENTÁRIOS

1 Zilda D`Arc de A. A. dos Santos - Campinas / São Paulo
Sem dúvida o professor tem dentro de uma sala de aula um papel muito importante. Ele não só o transmissor de conhecimentos, como também um exemplo para seus alunos. Infelizmente, nem todos os professores conseguem levar a sério o seu papel, diante de tal situação. Porém, posso afirmar que há professores, não só tido como transmissor dos conhecimentos mas também, como um transformador de comportamentos, de carater um verdadeiro profissional capaz, de transformar um aluno a principio desenteressado em um verdadeiro cidadão culto e capaz de viver em liberdade para viver nessa sociedade em que vivemos.
31/03/2009 16:03:13


2 telma cristina de oliveira - ubatuba
O artigo reflete sobre o que produz Qualidade na Educação. E sem sombra de dúvidas ainda é o professor ! A visão crítica do professor sobre seu papel como elemento constitutivo do processo educativo é um dos caminhos para redimencionar a educação, resgatando significação política de suas práticas pedagógicas, pois como formador de cidadão, tem necessariamente que ser consciente de seu papel valorizando sua posição.
06/10/2008 22:02:03


3 Tatiana Santiago de Oliveira - Ubatuba
Compartilho da idéia de que no momento em que voltamos nossa qualificação proficional para a melhoria da qualidade de ensino, e melhoramos nossa prática nós somos gratificados: e a meu ver, despertar o interesse do aluno e perceber uma melhora em seu rendimento é uma grande recompensa.Gostei muito do texto.
23/09/2008 19:41:36


4 Sônia Maria Righetto - Ubatuba
O artigo nos leva a reflexão da responsabilidade do professor para uma educação de qualidade. Buscar o aperfeiçoamento profissional, acreditar no seu poder de agente transformador, não se conformar com a situação, e correr em busca do que realmente vai fazer a diferença. São aspectos essenciais para o bom desempenho do papel do professor.
21/09/2008 12:08:45


5 Arnaldo Alves - Ubatuba sP
A reflexão sobre a prática docente é fundamental para o sucesso do educador. É por meio da reflexão que surgem o aprimoramento de seu trabalho, lapidandoo ao ponto de reluzir e alcançar o reconhecimento. Assim o educador se renova e tornase ímpar.
19/09/2008 15:39:22


6 marcia coelho - Ubatuba
Devemos ter o cuidado para não confundirmos educação de qualidade com mão de obra qualificada. A educação deve estar a serviço da formação de caráter, da ética, resultando assim em uma sociedade que conhece o que é melhor para os seus, e não simplesmente, para poder concorrer com outros paises no mercado de financeiro. Não restam dúvidas que as atuais ferramentas disponíveis à educação, além dos títulos acadêmicos , de nada servirão sem o envovimento necessário dos professores.
19/09/2008 15:18:15


7 Rozemara Cabral Mendes de Carvalho - Ubatuba/SP
O artigo mostra que quem pode mesmo fazer a diferença é o professor. Apresentar uma aula envolvente, que desperte o interesse, acuçando o desejo pelo saber, são tarefas para o professor que acredita no que faz, que tem consciência do seu poder transformador. Um professor que vibra com as conquistas de seus alunos e que enxerga a sua participação em cada uma delas, já tem a maior valorização possível profissionalmente. Professores, colhamos os frutos de nosso bom trabalho!O mundo merece e o reconhecimento virá!
19/09/2008 15:08:42


8 osmarina ferreira - ubatuba SP
O artigo nos faz refletir sobre o papel do professor,sua prática pedagógica,a importância de uma boa formação para sua atuação . O professor engajado estará sempre buscando meios para despertar em seus alunos a curiosidade intelectual e o prazer pelo saber.
19/09/2008 15:04:53


9 Regina Célia de Sousa - Ubatuba
É realmente para se pensar. Se pensarmos que sala de aula é gostar do que faz e não a valorização salarial, é preciso acreditar que só depende do professor. A vontade e o compromisso é primordial para o bom desempenho profissional.
19/09/2008 14:51:59


10 Claudia Helena - ubatuba
Essa é uma abordagem bastante polêmica. Identificar as características que se repetem em todos os `bons professores e utilizar esse levantamento como instrumento de reflexão e ação para todos é, sem dúvida, extremamente proveitoso. Porém, concordo com a posição do leitor e comentarista Euclides Marinato ao dizer que não podemos transformar a educação em produto e os perigos contidos nesses critérios avaliativos.Vejo, ainda, que esse tipo de abordagem por excelência é próprio de uma sociedade neoliberal, na qual o crescimento individualizado é super valorizado em detrimento da idéia que crescemos em comunhão,como disse Paulo Freire. Além do mais, remetenos a uma mensuração classificatória que estabele quem são os melhores e exclui os piores, desconsiderando os processos evolutivos de cada ser humano, seja ele um profissional da educação ou um educando, causando, assim, uma avalanche de injustiças e maus entendidos.
19/09/2008 14:36:19


11 euclides marinato - RolândiaPR
O autor do artigo confundiuse. O citado Hanushek quer transformar a Educação em um produto. Ela não é. Não pode haver meritocracia num país Brasil com tamanhas desigualdades regionais. O reconhecimento de individualidades em sala de aula na forma posta por Hanuschek levaria a uma valorização das elites. Um professor valorizado por encontrar pepitas de ouro, não buscaria desenvolver alunos medíocres é essa educação que queremos? preservar os talentosos já é o que o Brasil tem feito. Esquecimento da escola pública, sucateamento de toda estrutura. Que pena João Luiz de Almeida! Gosto de como você fala sobre os educadores e tudo mais. Porém, este artigo do Hanuschek é uma vergonha! Meritocracia como ele colocou é a república dos melhores, e não o tratamento democrático inclusive daqueles que sequer tem acesso aos programas de inclusão social. Por favor, não confunda, gostei de seu argumentos, mas não acho que o Hanushek seria o melhor pano de fundo para ele.
19/09/2008 09:30:59


12 Flavia Cômitte do Nascimento - Ubatuba/SP
Realmente um dos grandes diferenciais para uma educação de qualidade é o professor, que tem o papel de seduzir para o conhecimento. Hoje estudamos muito a respeito da reflexividade docente que é o processo pelo qual os professores devem passar no interior de suas instituições de trabalho para desenvolver uma postura crítica diante de suas perspectivas profissionais e dilemas que cercam a profissão e para isso entra em cena um outro ator que também é de suma importância para a qualidade na educação, o gestor escolar, que é responsável pela formação continuada do corpo docente. Por trás de uma equipe docente eficiente e eficaz está um gestor que promove a construção de um projeto pedagógico sólido com metas claras e possíveis de serem alcançadas, promovendo com sucesso a aprendizagem dos alunos sejam eles de qualquer classe social.
18/09/2008 23:02:24


13 Debora H. S. Nardi - Ubatuba/SP
Este artigo nos faz refletir sobre nosso papel de profissional da Educação. Sabemos que a quantidade de diplomas não quer dizer quem são os melhores professores. O bom professor é aquele que sabe do seu papel social e que acredita na educação como transformadora.
18/09/2008 23:02:12


14 Roseli dos Santos Silva - Ubatuba/SP
Esse texto diz tudo!! O professor desempenha um papel fundamental na busca de uma educação de qualidade. É preciso refletir sobre a prática, a fim de melhorar sempre. É necessário conhecer o aluno, sua realidade, considerar seus conhecimentos prévios, para atender todos de maneira mais eficaz usar recursos variados e ações diversas, ter clareza de que valorização profissional é importante, mas também é conseqüência de um bom trabalho.
18/09/2008 21:57:48


15 CIDA VANZELLA - Ubatuba SP
Sempre fui adepta da idéia que o magistério é uma vocação. O professor que se preocupa em desenvolver um bom trabalho, não só busca um meio de seduzir seu aluno como preocupase muito com sua própria formação profissional e sempre busca os saberes que a sociedade desenvolve. Mas conheço realidade social que necessito de respostas, é muito cruel e existem sequelas profundas que ainda precisamos buscar soluções.
18/09/2008 21:19:46


16 Telma Raizer - Ubatuba SP
Com este artigo podemos ver que educação de qualidade requer boa vontade. Para ser um bom profissional basta quer ser. Não devemos esperar apenas por políticas públicas que transformem a educação, podemos transformála começando pelas ações desenvolvidas em sala de aula.
18/09/2008 12:36:45


17 Paulo Celso de Oliveira Coelho - Ubatuba
Gostei do artigo e fico pensando na função da escola! Ensinar para? Ou educar para? Que dúvida cruel. Acredito que o melhor professor é aquele que gosta e acredita no que faz... Pois muita muita coisa que consideramos certo para hoje, muitas vezes amanhã são contestadas, ou ineficientes. O importante é mergulhar na nossa realidade, sair da janela e deixar de acreditar que os problemas são dos outros.
17/09/2008 16:13:20


18 NATANAEL DINIZ - Patrocínio Mg
Fantástico este artigo! Nos faz pensar na tão sonhada mudança que a educação brasileira precisa enfrentar para se preparar para o futuro, na formação de pessoas éticas e cidadãs.
15/09/2008 10:24:15


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