A Semana - Opiniões
Como chegar à Educação de Qualidade?
Diferencial para a Qualidade: O Professor
“De todos os fatores numa escola, certamente o que mais explica a excelência na sala de aula diz respeito à capacidade dos professores de despertar a curiosidade intelectual dos alunos e lhes transmitir conhecimento. É algo básico, mas freqüentemente ignorado. Veja o que revelam os números. Tendo um ótimo professor durante cinco anos seguidos, uma criança egressa de um ambiente de pobreza e analfabetismo poderá alcançar o mesmo nível de conhecimento de outra vinda de uma casa em que os pais têm diploma de ensino superior e boa situação financeira. A questão é que os diretores das escolas raramente aplicam os critérios certos para rastrear os bons profissionais.” [Eric Hanushek, professor da Universidade Stanford, em entrevista para a Revista Veja, pesquisador dos efeitos do bom ensino no crescimento econômico].
O mais temido “apagão” que pode abater o crescimento econômico do Brasil nos anos vindouros não é o do setor energético, dos transportes ou mesmo relacionado a recursos financeiros... É o caos que pode ser causado pela falta de trabalhadores qualificados... O país pode e, certamente irá, ficar para trás na corrida econômica mundial se a educação não melhorar e permitir a superação dos pífios resultados apresentados até agora.
As palavras de Hanushek, doutor em economia pelo MIT (Massachussetts Institute of Technology) e estudioso destacado das questões relativas ao impacto de uma educação de qualidade na economia de um país trazem a tona o que todos dizemos saber, mas que, infelizmente, ainda não redundou em medidas efetivas para os projetos educacionais de nosso país.
O diferencial para a plena aprendizagem é o estímulo, o incentivo, a participação e o direcionamento que podem e devem ser dados pelos professores em sala de aula. Elementos que têm que, necessariamente, despertar a curiosidade, encantar, seduzir e despertar os alunos para o conhecimento em suas várias roupagens e possibilidades.
E quem é esse professor? É o Ph.D. em Educação? Ou seja, é o especialista top de linha, que fez mais cursos, aperfeiçoamento e têm mais horas de leituras, pesquisa e estudo? É claro que todas essas particularidades podem ajudar no desenvolvimento desse profissional, no entanto, de acordo com as pesquisas de Hanushek, “os Ph.Ds. não apenas não são necessariamente os melhores professores, como muitas vezes figuram entre os piores.”
Muitas vezes esse profissional é alguém que simplesmente não se conformou com o sistema educacional prevalente em terras nacionais. É aquela pessoa que aprendeu a duras penas, galgou os degraus que o levaram a uma licenciatura ou a uma graduação em pedagogia e que percebeu a distância entre o discurso da educação nas universidades e a realidade das salas de aula. Trata-se, evidentemente, daquele que ousou renovar suas práticas, ainda que enfrentasse o desdém e a desconfiança de outros profissionais, dos gestores das escolas ou mesmo da comunidade...
Esse professor encarou críticas por ter dado voz ativa e trazido os alunos ao palco central das ações que se desenrolam numa sala de aula, fazendo com que os educandos fossem valorizados quanto aos conhecimentos anteriores por eles adquiridos em outras instâncias e momentos de suas existências.
É também um sujeito que não reduziu suas experiências pedagógicas ao que havia visto outros professores fazendo em sala de aula. Quis trazer outros recursos, metodologias, ações e proposições para o âmbito educacional em que estava atuando.
Leu e estudou os mestres e pesquisadores da educação e procurou, na medida do possível, aprender novos caminhos com eles, adaptando esses saberes a sua realidade, a sua clientela. Não se deixou levar pelos problemas, que todos sabemos ainda existir nas redes educacionais públicas brasileiras, para acomodar-se e dizer que salários baixos, falta de recursos, baixa participação das famílias nas escolas ou mesmo ausência de apoio dos gestores da escola foram empecilhos intransponíveis na busca pela educação de qualidade, efetiva, que transformasse a vida de seus alunos.
Esse educador sabe que a valorização profissional pode até tardar um pouco, mas que virá e que está associada à realização, a efetividade de seu trabalho. De certa forma, muitas vezes até inconsciente, já sabia que por seus méritos profissionais seria valorizado, ou seja, adiantado em relação à massa, percebia e vivia nos conformes da meritocracia.
Além de saber que esse reconhecimento viria na forma de valorização financeira e profissional, com o surgimento de melhores propostas financeiras e cargos, viveu durante muito tempo (e continua experimentando isso) o melhor dos prêmios que poderia receber ao ser estimulado e valorizado pelos alunos e turmas com as quais teve a oportunidade de trabalhar.
E o sentimento de que valeu a pena mesmo consolidou-se ao final quando pôde ver que esses alunos, ao qual devotou seu tempo, seus conhecimentos, seu estudo e suas energias, formaram-se e acabaram se tornando cidadãos respeitados e profissionais que encontraram emprego e boas condições de trabalho num mercado cada vez mais acirrado.
É por isso que Hanushek afirma, categoricamente que “reconhecer concretamente os talentos individuais é a medida mais eficaz quando se trata de preservar apenas os mais talentosos – e [conseqüentemente] melhorar o ensino”...