Um toque na língua - 21/08/2008
Aula 08
"A competência para grafar corretamente as palavras está diretamente ligada ao contato íntimo com essas mesmas palavras. Isso significa que a freqüência do uso é que acaba trazendo a memorização da grafia correta. Além disso, deve-se criar o hábito de esclarecer as dúvidas com as necessárias consultas ao dicionário. Trata-se de um processo constante, que produz resultados a longo prazo." (Pasquale Cipro Neto & Ulisses Infante, Gramática da Língua Portuguesa).
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"Ensinar é um exercício de imortalidade. De
alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver
o mundo pela magia da nossa palavra. O Professor, assim, não
morre jamais..." - Rubem Alves.
"É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade." - Allan Kardec
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UM TOQUE NA LÍNGUA – Lição 08 (30 de maio de 2008)
Após a descontraída exposição sobre o Sistema DOSVOX, na qual Lucas surpreendentemente se esforçará, a fim de apresentar um bom desempenho diante da turma, uma torrente de perguntas mais específicas sobre esse ambiente operacional para deficientes visuais desabou sobre ele, fazendo-o pedir o auxílio de Zé Luís, seu colega cego de turma, para tentar responder a tantos questionamentos levantados pelos demais colegas, dado o grande interesse que o DOSVOX despertou em todos.
-
Gente, já que esta é uma aula de
Português, e essa exposição, feita pelo
Lucas, foi apenas uma idéia que tive para que tanto ele
quanto vocês tomassem conhecimento de uma das mais
práticas e confortáveis ferramentas
computacionais que um deficiente visual pode usar em sua vida
acadêmica, sugiro que marquem uma outra hora no
laboratório de informática para fazerem uma
espécie de tira-dúvidas dosvoxiano e, assim,
ficarem sabendo mais detalhes sobre as inúmeras
possibilidades desse fantástico Sistema. Zé
Luís, você topa fazer esses esclarecimentos junto
com o Lucas, já que você é o fera no
assunto e domina esse ambiente operacional melhor do que
ninguém?
- Claro que sim, Professor! Eu vou adorar falar mais sobre o DOSVOX pra galera.
- Bem, tudo combinado, vou me valer, então, destes
últimos minutos que faltam para terminar a aula para
começar a lhes explicar os diferentes empregos da palavra
"porque", aproveitando a deixa de tantos porquês que surgiram
durante e depois da apresentação do Lucas.
-
Puxa, legal, Mestre! Eu tenho muitas dúvidas sobre isso
também.
- Sendo assim, João, preste muita atenção ao que vou explicar agora, e vocês aí fiquem ligados também! Vamos começar, então, pelo "por que", separado, que deve ser empregado nas seguintes situações: a primeira é quando aparecem claramente numa frase, ou estão subentendidas, as palavras "motivo" e "razão", havendo ou não interrogação na frase. Anotem estes exemplos: "Por que razão os alunos brasileiros lêem tão pouco atualmente?"; "Por que (motivo) vocês não foram à festa no sábado passado?"
-
O quê? Festa no sábado passado?... Como? Quando?
Onde? Não tava sabendo dessa festa, ninguém me
contou... Puts!
-
Calminha aí, Sr. Lucas! É só um
exemplo que eu estou dando. Ninguém teria a coragem de
não convidar, para qualquer evento que fosse, uma figura
tão eminente quanto a do senhor.
-
Puxa, meu grande Mestre, que susto que o senhor me deu! Mas ainda bem
que o senhor reconhece que uma personalidade tão importante
e ilustre como eu não pode faltar em qualquer festa...
-
Hummm, como é pretensioso esse tal de Lucas! Fala
sério!!! Aliás, Professor Edu, aproveitando essa
deixa que o senhor disse também, qual a diferença
entre as palavras eminente e iminente?
-
Luana, segura sua dúvida aí só um
pouquinho, que vou lhe esclarecer essa diferença depois de
explicar os diferentes casos de emprego dos porquês,
combinado?
- Beleza, Mestre!
-
Bem, continuando. O "por que", separado, pode também vir em
frases que não possuam um ponto de
interrogação, mas que revelam um sentido
interrogativo indireto. Por exemplo: "Não sei por que
(razão) a diretora adiou a viagem"; "Ela não
disse por que (motivo) pretendia sair mais cedo de casa";
"Não sabemos por que (razão) ele se afastou da
nossa turma"; "O ministro não conseguiu explicar muito bem
por que (motivo) o preço da gasolina não baixa,
agora que o Brasil é auto-suficiente em petróleo".
-
E por que eles não conseguem explicar isso pra gente
direito, Professor?
-
Olha, Norminha, este é um assunto meio complicado, que
podemos deixar para discutir numa outra ocasião e que
poderá até servir de tema para uma
redação no próximo mês.
Combinado, pessoal?
-
Xiiii, porque essa Norminha não aprende a ficar mais
quietinha na sala de aula... Agora vamos ter mais trabalho pra fazer...
Puts, tô ralado!!!
- Ei, Lucas, você resmungou baixinho, mas pude ouvir muito bem o que disse... Nada de corpo mole, ouviu, meu rapaz!? Aproveito para lhe perguntar se esse porque, dito por você agora, deve ser escrito junto ou separado? Sua intenção era formar uma frase interrogativa direta ou indireta?
-
Bem, Mestre, em verdade, em verdade, era uma indireta bastante direta...
-
Tá legal, Lucas, já entendi! Vamos prosseguir
então. Outro caso em que o "por que" deve ser escrito
separado é quando ele pode ser substituído pelas
expressões "pelo qual", "pela qual", "pelos quais" e "pelas
quais". Guardem estes exemplos: A paz era o ideal por que (pelo qual)
Gandhi tanto lutou"; "A razão por que (pela qual)
não fui à sua festa, você logo
saberá"...
-
Hummm, lá vem o Mestre com essa história de festa
novamente...
-
Dê um tempinho aí, ok, meu rapaz, e Anote mais
estes dois exemplos: "As enchentes e terremotos são um drama
por que (pelo qual) muitos países estão
passando"; "Só eu sei as esquinas por que (pelas quais)
passei".
- Ah, isso aí é Djavan, não é Professor Edu?
-
Sim, Abel, é um verso de uma das belas
canções que ele canta. Mas prosseguindo. No caso
do "por quê", separado e com acento, ele aparece apenas
quando, nos casos em que citei anteriormente, vem no fim da frase, com
interrogação ou não. Exemplos: "Alguns
alunos não fizeram o trabalho e não explicaram
por quê"; "Vocês brigaram e terminaram o namoro,
por quê?"; "Teremos que chegar mais cedo amanhã na
escola, Professor, por quê?...".
-
Ah, Professor Edu, não faça essa maldade com a
gente, não! Ter que acordar mais cedo ainda para vir
à escola não vai ser fácil. Com este
frio glacial que anda fazendo atualmente... Bruuuu...
-
Ei, Aninha, e desde quando uma temperatura de 22 graus é um
frio glacial?
- Ah, Mestre, para mim uma temperatura menor que 25 graus já é um frio glacial!
-
Bem, turma, na verdade não teremos que chegar mais cedo
amanhã ao colégio, mas teremos que deixar o
restante das explicações do uso dos
porquês para a próxima aula, porque nosso tempo
já acabou.
-
Ei, Mestre! Me diga então, rapidinho, qual a
diferença entre as palavras eminente e iminente,
já que na próxima aula eu posso esquecer de
perguntar isso ao senhor.
-
Ok, Luana. Anote aí então. Estes dois termos, que
na verdade são considerados palavras parônimas, ou
seja, palavras parecidas quanto à forma ou à
pronúncia, mas diferentes quanto à
significação, assunto para uma de nossas
próximas aulas, significam o seguinte: eminente é
alguém ou algo que se destaca, excelente,
notável; e iminente é aquilo que está
prestes a ocorrer, pendente. Guardou?
- Beleza, Professor Edu! Guardei, sim.
-
Ah, anote também as palavras eminência, que quer
dizer qualidade do que é eminente, superior,
excelência. Pode ser também uma forma de
tratamento conferida aos cardeais: Sua Eminência, quando nos
referimos a um cardeal; e Vossa Eminência, quando nos
dirigimos diretamente a ele. E a palavra iminência, que
significa proximidade de ocorrência, qualidade,
condição ou característica do que
está iminente; ameaça,
aproximação, urgência...
-
Meu bom e amado Mestre, por falar em urgência,
ameaça, e aproximação, está
se aproximando uma ocorrência urgente
urgentíssima, que me faz pedir uma licencinha ao senhor para
sair bem rapidinho, a fim de ir ao banheiro, já que estamos
na iminência de ouvir a explosão da eminente
bexiga deste belo aluno que lhe fala...
- Ahahah, pode sair, Lucas, pois não queremos ficar perto de um homem-bomba urinífero, não é mesmo, turma!?
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