Um toque na língua - 21/08/2008
Aula 7
"A competência para grafar corretamente as palavras está diretamente ligada ao contato íntimo com essas mesmas palavras. Isso significa que a freqüência do uso é que acaba trazendo a memorização da grafia correta. Além disso, deve-se criar o hábito de esclarecer as dúvidas com as necessárias consultas ao dicionário. Trata-se de um processo constante, que produz resultados a longo prazo." (Pasquale Cipro Neto & Ulisses Infante, Gramática da Língua Portuguesa).
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"Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O Professor, assim, não morre jamais..." - Rubem Alves.
"É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade." - Allan Kardec
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UM TOQUE NA LÍNGUA – Lição 07 (27 de maio de 2008)
Reunidos no pátio da escola, aproveitando o tempo vago pela falta de um dos professores, um grupo de alunos trocam opiniões preocupantes entre si sobre os pontos das diversas disciplinas que foram definidos para as próximas provas.
- Gente, por causa daquela gripe braba que eu peguei, tive que faltar a algumas aulas e acabei perdendo muita matéria. Eu cheguei a estudar mais ou menos para as provas de Matemática e história desta semana; mas para a de português ainda não deu pra estudar direito, porque perdi alguns assuntos que o Professor Edu andou ensinando, como aquela parte de ortografia que fala do emprego do s em muitos substantivos. Quem aí pode me passar esta matéria e também me dar uns toques sobre o que o Professor Edu falou dela?
-
Olha, Zeca, posso passar essa matéria pra você e
também tentar lhe explicar rapidinho o que o Professor falou
sobre ela. Sente aqui do meu lado no banco e pegue logo seu caderno pra
ir copiando tudo do meu.
-
Puxa, legal, Tereza. Já sentei e agora sou todo olhos e
ouvidos pra você!
-
Tudo bem, Zeca. Só que os seus olhos devem prestar mais
atenção nos apontamentos do meu caderno, e
não no decote da minha blusa... Certo?
- Tudo bem, Tetê! Mas também quem mandou você ter uns... uns... uns botões de blusa tão bonitos!
-
Botões de blusa, é!? Sei... Bem, mas vamos
começar logo que eu não posso me demorar muito.
Anote aí: o Professor Edu mostrou que devemos empregar o s
em todos os substantivos derivados de verbos terminados em -ender,
-verter e - pelir. Por exemplo: se temos os verbos apreender, ascender,
compreender e distender, teremos como substantivos derivados desses
verbos os termos apreensão, ascensão,
compreensão e distensão...
-
E por falar em distensão... alguém daqui a pouco
vai ter uma bruta
distensão no pescoço...
-
O que foi que você disse, Lucas?
-
Nada, Tereza! O Lucas não disse nada! Ele só
estava pensando alto, né,
grande Lucas?
-
Sim... pensando alto... muito alto... Aliás, pensamentos bem
volumosos, não é mesmo, Zeca!?
-
Tereza, não ligue para o que esse panaca tá
falando, não. Continue, por favor!
-
Cruzes! Esses garotos têm, às vezes, um papo
tão esquisito... Mas vamos continuar. Agora dos verbos
estender, pretender, suspender, e tender, derivam-se os substantivos
extensão, pretensão, suspensão e
tensão...
-
E aí, Zeca! Como está agora a sua
tensão? Subiu muito? Será que você vai
ter uma distensão em outro lugar também?
-
Lucas, você está insuportável e muito
inconveniente hoje, cara! Olha, pegue aqui esta grana e vá
comprar três refris pra gente, ok?
-
Oba! Posso escolher o refri que eu quiser?
- Pode ser qualquer coisa, desde que você vá logo e nos deixe em paz por uns minutos! Sacou?
-
Hã, hã! Tô ligado!!! Olha, vou deixar
meus cadernos e meu óculos aqui do seu lado no banco, ouviu,
Tetê? Té já, meus pombinhos!
-
Gente! Eu nunca vi cara tão bobo como esse Lucas.
Ninguém merece!
-
Liga, não, Tereza! Acho que ele é um caso perdido!
-
Acho que sim, Zeca. E aí, cara, tá pegando
tudinho?
-
Ah, quem me dera, Tetê! Quem me dera! Hummm...
- Quem me dera o quê, Zeca? Tá pegando a bobeira do Lucas também?
-
Nada disso, Tetê! Eu queria dizer quem me dera pegar tudo
assim tão rapidinho como você, que é
uma aluna muito boa em português, muito boa mesmo!!!
-
Sei... Bem, estamos quase terminando. Veja agora estes substantivos:
versão, reversão, conversão e
subversão. Eles se derivaram dos verbos verter, reverter,
converter e subverter.
-
Tudo bem, Tetê. Falta mais o quê?
-
Falta só falar dos verbos expelir e repelir, dos quais se
formaram os substantivos expulsão e repulsão. E
acabou.
-
Puxa, Tetê! Valeu mesmo! Este toque foi dez!
- Oiii, pessoal! Posso me sentar junto de vocês? Ah! Já sentei! Tereza, eu tava mesmo querendo falar com você...
-
Oi, Janete, tudo bem? O que você queria comigo?
-
Nããããão!
Nããão pode ser! Eu não
acredito no que estou vendo!
-
O que foi, Lucas? Parece que viu um fantasma! Quase deixou cair as
latinhas de refri...
-
Essa... essa gord... essa gooorda sentou em cima do meu
óculos! Puts!!!
- Não é meu óculos, Luquinhas, e sim meus óculos!
-
Que que é isso, sua anta!? Tá louca? Este
óculos que está embaixo dessa tonelada de massa
adiposa é meu.. ou pelo menos era! Levanta, levanta
daí logo!!!
-
Pronto! Já levantei, seu grosseirão, seu
estúpido!!!
-
Ei, pessoal! Que gritaria toda é essa? O que está
havendo por aqui?
-
Foi esse mal-educado do Lucas quem começou a me ofender,
Professor Edu!!!
- Não ofendi essa gord... essa garota coisa nenhuma, Mestre! Ela é que acabou de me dar um prejuízo incalculável!!! E ainda quis se apropriar de um dos meus bens mais valiosos: meu óculos a la Luciano Zafir! Eu fico gatíssimo quando coloco, ou pelo menos colocava, ele em mim, e as minas se amarravam...; mas agora não sobrou nem a alma dele, depois que essa jaman... quer dizer, depois que essa Janete sentou abundantemente em cima dele. Ai! Ninguém merece!
-
Prejuízo incalculável??? Fala sério,
queridinho! Esse seus óculos a la Falcão, na
verdade, não custam mais que dez reais em qualquer
barraquinha de camelô... E quanto a você dizer que
eu tava querendo me apropriar dessa coisa horrorosa aí, eu
tava é querendo mostrar pra você que o certo
é falar meus óculos, e não meu
óculos, porque óculos está no plural.
Não é isso mesmo, Professor Edu?
- Certíssimo, Janete. É recomendado que essa palavra seja empregada sempre no plural, apesar de existir a forma singular óculo. E esse emprego no plural é indicado por se tratar de um par, isto é, dois óculos. Assim também temos as meias, os sapatos, os brincos, as calças, as algemas, as luvas, etc., que normalmente são usados aos pares.
O problema é que, atualmente, como quase ninguém usa o termo óculo, no singular, perdeu-se a noção de que, quando falamos óculos, na realidade, estamos nos referindo a dois objetos, e não a um só, como a maior parte das pessoas acredita.
Quase ninguém lembra mais que óculos é o plural de óculo. No entanto, mesmo tendo se perdido esta noção de plural, deve-se concordar os artigos, os pronomes possessivos, os numerais e os adjetivos com o substantivo óculos quando o acompanharem. Por exemplo: deixei os óculos sobre a mesa da sala; perdi meus óculos no táxi que peguei ontem; que belos óculos você comprou!...
-
E por falar em belos óculos, quero saber dessa coisinha
aí se eu vou ficar no prejú, ou se ela vai me dar
uns óculos novos!?... Viu, Professor Edu, falei certo agora!
-
Bem, queridinho Lucas, se a coisinha a que você
está se referindo sou eu... quero lhe dizer que tudo
não passou de um simples incidente. Mas eu posso lhe dar um
par de óculos novinho se você me levar ao cinema
no próximo fim de semana. Que tal?
-
Eu, hein! Fala sério, mina! Tô fora!... Olha,
não precisa pagar mais nada, não. E dá
licencinha que já estou atrasado pro meu lanchinho... Tchau!
-
Só um minutinho, meu rapaz! Gostaria que você
também ouvisse mais este toque que vou dar a vocês
sobre esta questão.
-
Ok, Mestre! Pode falar. Tô ligado!
-
Bem, é que existem outras palavras que devem ser empregadas
sempre no plural, como bruços e costas. Guardem estes
exemplos: dormir de bruços, de costas. Quem já
não teve uma dor nas costas!? E também temos as
palavras hemorróidas, parabéns,
pêsames... todas sempre usadas no plural.
-
Por falar em pêsames, Professor. Quero lhe dar meus
pêsames por ter que aturar alunos como o Lucas!
- Muito engraçadinho, você, né, senhor Zeca!
- Lucas! Zeca! Deem um tempo, por favor! Para terminar o toque de hoje, quero dizer que há palavras que têm seu significado alterado quando passam para o plural, é o caso da palavra bem, com o significado de virtude; e bens, significando patrimônio.
Outro
exemplo é féria, com o sentido de
salário; e férias, o tão aguardado
período de descanso de todos que estudam e trabalham.
Aliás, tanto faz dizer que alguém saiu de
férias ou saiu em férias. As duas formas
estão corretas. Guardaram?
-
Guardamos, Mestre! E como guardamos, né, galera!? Falar em
férias é com a gente mesmo!
- Você não tem jeito mesmo, hein, Lucas!? Bem, turma, está na hora do nosso segundo tempo de aula, em que o nosso irresistível galã vai apresentar a sua exposição sobre o Sistema DOSVOX. Vamos nessa, que a hora urge, e a minha barriga ruge!
1 Maria do Carmo Santiago - Rio de Janeiro
Olá, professor!!!
Gostei muito de seu artigo e vou até aproveitar o texto para trabalhar com meus alunos. Desejo muito manter contato com você enviandome, se for possível, material, ideias e ideias para trabalhar com nossa Língua Portuguesa de um modo bem prazerozo. Ficarei muito agradecia e muito feliz. Todo o material será muito bemvindo. Posso contar com vc? Leciono para o 2´º segmento do ensino fundamental 6´º ao 9´º ano
Abs,
Maria do Carmo
15/10/2009 17:40:14
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