Um toque na língua - 25/06/2008
Lição13
“A competência para grafar corretamente as palavras está diretamente ligada ao contato íntimo com essas mesmas palavras. Isso significa que a freqüência do uso é que acaba trazendo a memorização da grafia correta. Além disso, deve-se criar o hábito de esclarecer as dúvidas com as necessárias consultas ao dicionário. Trata-se de um processo constante, que produz resultados a longo prazo”. (Pasquale Cipro Neto & Ulisses Infante, Gramática da Língua Portuguesa).
***
PROCURE LER TAMBÉM EM BRAILLE, ELE O AJUDARÁ A FIXAR MELHOR A GRAFIA DAS PALAVRAS.
***
"Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O Professor, assim, não morre jamais..." - Rubem Alves.
"É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade" - Allan Kardec.
Um toque na língua - Lição13 (20 de junho de 2008)
Na lição 13, distribuída sexta-feira passada, dia 20, escrevi
propositadamente uma palavrinha de forma errada, a fim de verificar se
meus queridos alunos têm estado bem atentos às minhas lições,
principalmente em relação à parte sobre ortografia.
No entanto, como até hoje, dia 23, não recebi nenhum e-mail me cobrando
esta incorreção ortográfica, posso pensar ou que muitos ainda não
puderam ler esta lição, ou que passaram "batidos" pelo errinho...
Nesse sentido, vou ficar mais um pouco ao aguardo de quem será o meu
aluninho mais atento e esperto que vai descobrir este erro ortográfico
primeiro!
Abaixo, segue novamente a lição13.
Abraços desafiadores!
Profº. Edu
***
No dia seguinte, já em sala de aula, os alunos do Professor Edu, num burburinho cada vez maior, fazem especulações sobre o atraso de quinze minutos de seu mestre, que costuma ser bastante pontual.
- Ei, Lucas, o que deve ter acontecido com o Professor Edu?... Ele nunca se atrasou tanto assim...
- Ah, Zeca, pergunte para a nossa pitonisa de plantão, a nossa colega Janete jamanta!!!
- Mas ninguém merece! Já vai começar com a implicância logo cedo, Senhor Lucas Cascão!?
- Esse sobrenome ficou ótimo no Lucas, Janete. Tem mesmo o jeitão dele!
- Luana, dá um tempo! Vamos fazer silêncio que o Professor Edu ta entrando na sala...
- Norminha, você acabou de salvar suas amiguinhas de receberem toda a minha fúria indignativa com o pronunciamento de tais calúnias e infâmias!...
- Tá bom, Lucas. Guarde agora toda essa sua fúria indignativa para outra hora e vá sentar na sua cadeira, porque o Professor já vai começar a aula.
- Olha, pessoal, desculpem-me pelo atraso, mas é que o ônibus em que eu vinha ficou preso numa barreira policial, e até liberarem o veículo... Bem, mas o que importa é que ainda temos um bom tempo para trabalhar a nossa matéria de hoje.
- Sim, Mestre. O Senhor tinha falado ontem, lá na pracinha, que hoje ia nos ensinar o emprego dos sufixos "-ês", "-esa" e "-isa".
- Isso mesmo, Norminha. E como comecei a lhes dizer ontem, os sufixos "-ês" e "-esa" são empregados na formação de nomes que designam títulos honoríficos de posição social, assim como em palavras que indicam origem ou condição social, ou ainda nacionalidade. Por exemplo: marquês, burguês, camponês, freguês; português, japonês, francês...
- Ah, Professor Edu, então as palavras femininas correspondentes a esses nomes que o Senhor acabou de nos dizer seriam: marquesa, burguesa, camponesa, freguesa; portuguesa, japonesa e francesa; não é isso?
- Exatamente, Norminha. E alguém poderia me dizer outros títulos femininos da chamada classe das pessoas nobres?
- Claro, Mestre: princesa, duquesa, baronesa, alteza...
- Opa, Epa, opa... Só um minutinho, Fred. Princesa, duquesa e baronesa são realmente grafadas com o sufixo "-esa"; mas alteza leva o sufixo "-eza", com a letra z.
- Ué, e por que essa diferença, Professor?
- Porque veremos, mais adiante, em nossas aulas sobre este tema, que os sufixos "-ez" e "-eza" são empregados para formar nomes abstratos que derivam de adjetivos. Por exemplo, de alto vem alteza; de nobre, nobreza; etc.
- Assim como de pobre vem pobreza; de rico vem riqueza e de mal vem malvadeza, não é mesmo, Professor Edu?
- Exatamente, Zé Luís. Mas o uso deste sufixo e muito mais veremos quando conversarmos sobre o emprego da letra "z". Vamos continuar agora falando ainda de outros casos em que também grafamos algumas palavras com "s". Por exemplo, após os ditongos, como em lousa, coisa, causa, ausência, náusea, Eusébio, Neusa...
- Ei, Mestre, minha tia se chama Neusa, e o nome dela é escrito com "z", tanto no Neusa quanto no Sousa, que é o sobrenome dela.
- E eu tenho uma amiga com o nome de Cleusa, que também é escrito com "z"... E agora!?
- Calma, gente, vou explicar o que ocorre nessas situações. Em primeiro lugar, quero lhes dizer que os nomes próprios, como qualquer palavra da nossa língua, estão sujeitos às regras ortográficas vigentes. Nesse sentido, existe uma forma correta de grafar esses nomes. Em segundo lugar, esclareço que, Se um nome foi registrado com uma grafia equivocada, a pessoa pode usá-lo da forma como ele se encontra em seus documentos sem problemas; essa tem sido a prática mais consagrada em nossa cultura. Além disso, a grafia dos nomes das pessoas que se tornam publicamente conhecidas aparece corrigida em publicações feitas após a morte dessas pessoas.
- Professor Edu, agora fiquei curiosa sobre a grafia correta de certos nomes próprios...
- E que nomes seriam esses, Luana?
- Vou escrevê-los aqui no quadro, Professor, para o Senhor confirmar se eles devem ser escritos desse jeito, ou não.
Anderson, Jeferson, César, Teresa, Sousa, Jussara, Felipe.
- Vejam bem: Ânderson e Jéferson devem receber acentos na antepenúltima sílaba por se tratarem de nomes proparoxítonos; César, Teresa e Sousa se grafam mesmo com "s", apesar de conhecermos muitos Césares, Teresas e Sousas grafados com "z"; Juçara se escreve com "ç" por ser um nome de origem indígena; e o correto é se grafar Filipe, e não Felipe.
- Valeu, Mestre! Obrigada pelos toques!
- Bem, agora para terminar a aula sobre o uso do "s", só falta mostrar-lhes que esta letra também é empregada em algumas formas dos verbos "pôr" e seus derivados, e "querer”.
Vejam estes exemplos. Do verbo pôr: pus, pusera, pusesse, puséssemos; do verbo repor: repus, repusera, repusesse, repuséssemos; do verbo querer: quis, quisera, quisesse, quiséssemos, quiser.
- Professor, o que eu vejo de gente escrevendo quiser com "z" nas listas de discussão da internet...
- Eu também tenho visto muitos errinhos ortográficos por aí, Janete, e não só em listas de discussão, mas também em sites, blogs, no orkut...; enfim, tudo porque as pessoas não estão lendo o suficiente para adquirir o gosto e o hábito da leitura, a fim de memorizarem visualmente a grafia das palavras, pois nem sempre nos lembramos, na hora de escrever, dessas regrinhas gramaticais que lhes estou apresentando.
- E no meu caso, Mestre, estou procurando seguir aquele toque que o Senhor me deu sobre ler mais em Braille, para também memorizar, através do tato, como se escreve corretamente as palavras, já que a leitura pelo computador é falada, e quase sempre a gente fica com preguiça de ir com as setinhas verificar a grafia de uma palavra quando temos dúvida sobre ela; e a leitura, então, segue batida, e as outras dúvidas, também.
- É isso aí, Zé Luís! A preguiça é inimiga de muitas coisas, entre elas a ortografia.
- Ah, Professor Edu, falando em "entre elas", quando é que a gente usa "entre" ou "dentre"?
- Zé Luís, um bom toque que posso lhes dar para guardarem bem a diferença entre essas duas preposições é o seguinte: a preposição "entre" só deve ser usada com "unidades", isto é, entre elementos ou entre conjuntos. Vamos anotar estes exemplos futebolísticos, mais fáceis de guardar: "A bola passou entre os jogadores da barreira"; "Ronaldinho, na foto do jornal, ficou entre Cacá e Robinho"; "Todos desejam a paz entre as torcidas organizadas”.
- Isso é uma grande verdade, Mestre! Eu deixei de ir ao Maracanã com meu pai, porque, ultimamente, tem saído muita briga entre as torcidas, que parecem se organizar só para isso, pois têm grupos de torcedores que até combinam, pela internet, os locais para encurralar as torcidas rivais antes e depois do jogo.
- Realmente, isso que vem ocorrendo, principalmente em dias de grandes jogos, é lamentável, Norminha! Entretanto, me parece que providências, para coibir essas brigas entre torcedores, já estão sendo tomadas em muitos estádios brasileiros; e, assim, espero que a situação melhore logo, a fim de que todos possam assistir aos jogos de futebol em paz e tranqüilidade. Bem, mas continuando as explicações sobre as preposições "entre" e "dentre", faço agora uma observação importante: deve-se tomar certo cuidado ao se empregar a preposição "entre" antes de palavras com idéia "coletiva". Por exemplo: Não devemos dizer que "a bola passou entre a barreira", e sim que "a bola passou no meio da barreira", ou "entre os jogadores que formavam a barreira", ou ainda "entre a barreira e o juiz"; nem que "Ronaldinho, na foto do jornal, ficou entre a dupla de craques Cacá e Robinho", e sim que "Ronaldinho ficou entre os dois craques", ou ainda, "entre a dupla e o troféu”.
- Ei, Professor, nos mostre mais alguns exemplos desse caso aí!
- Certo, Aninha. Então, aqui estão mais estes: Recordando aquela excursão que fizemos à Floresta da Tijuca, no ano passado, não devemos dizer que "andamos entre a floresta", e sim que "andamos entre as árvores da floresta", ou "entre a floresta e o rio"; nem dizer também "todos desejam a paz entre a população", e sim "todos desejam a paz entre os torcedores, entre as pessoas, entre os habitantes, entre os povos"; ou ainda "entre a população e o governo”.
- E a preposição "dentre”, Professor, quando devemos usar?
- Devemos empregar a forma "dentre", Zeca, que é a contração das preposições "de" e "entre", significando "do meio de", quando houver, por exemplo, a idéia de "movimento". Vejam estas frases:
"Dentre os turistas, que estavam na Floresta da Tijuca, saiu uma criança correndo e chorando"; "Dentre os animais fotografados por nós, surgiu um gambá enorme"...
- Não era o Lucas, não, Professor Edu? Ahahah...
- Janete, não comece a provocar o rapaz, porque hoje ele está bem calminho para minha surpresa...
- É que eu tava pensando num exemplo bem exemplar para dizer ao Senhor e a certas criaturinhas redondamente chatinhas...
- E que "exemplo bem exemplar" é esse, meu caro e raro Lucas?
- É o seguinte: "No Dia de São João, alguém dentre nós vai ser presa várias vezes se não se comportar direitinho, pois eu fui eleito o xerife da festa!" Não está certo este meu exemplo mais que exemplar, meu bom Mestre?
- Claro que está, xerife Lucas. E no dia da festa, até eu vou procurar me comportar direitinho, a fim de não ir para a cadeia. Ahahah... Bem, pessoal, o sinal do intervalo já bateu, e, por isso, nos veremos agora somente no dia de São João. Até lá e bom fim de semana a todos!
***
Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.