Cronos e Cairós - 09/11/2007
Bárbara Freitag
“Os gregos diferenciavam, como sabemos, entre dois conceitos distintos de tempo: cronos e cairós. O primeiro refere-se à passagem contínua do tempo (donde, cronologia) e o segundo conceito refere-se ao momento certo, maduro, para certos eventos. Há, também, no caso da psicogênese infantil, momentos certos (cairós) para promover o pensamento lógico, a moralidade autônoma e a competência lingüística. Sociedades que se omitem e não fornecem as condições materiais e sociais adequadas para as novas gerações nos momentos certos, perdem a oportunidade de criar cidadãos maduros, capazes de assumir com responsabilidade e autonomia suas funções na sociedade.”
(Bárbara Freitag, Socióloga Brasileira).
Batons e perfumes substituem as bonecas aos 8 ou 9 anos de idade. Telefones celulares se tornam presentes aos 10 ou 11. Se aos 12 ou 13 o menino ainda não “ficou” pra valer com nenhuma “gatinha”, tendo trocado beijos e carícias, ele passa a ser discriminado. Quando a menina tem 13 ou 14 anos espera-se que ela já tenha “experiências” e que freqüente “bailinhos”, festinhas e barzinhos...
A infância tornou-se uma chaga. Ninguém mais quer ter crianças em casa. A televisão apregoa através de exemplos em filmes, telenovelas ou noticiários que todos devem ser “espertos”, “descolados” e cada vez mais ousados. Brincar em parquinhos ou vestir roupas com símbolos da infância para quem tem 10 anos torna-se inaceitável. Surgiu até uma nova etapa do crescimento e evolução humana, detectada por especialistas, chama-se pré-adolescência...
O Cronos, medida de tempo dos gregos como nos ensina Bárbara Freitag, se sobrepõe ao Cairós. A passagem contínua do tempo supera a natural e impõe compromissos e realidades que não se relacionam diretamente ao que os corpos e mentes de nossas crianças acomodam, esperam, precisam e carecem.
Não há, ironicamente, tempo para a maturação. Aboliu-se a possibilidade de vivenciar etapas em que a aprendizagem e o crescimento acompanham as possibilidades físicas, intelectuais e afetivas naturais das pessoas. Precisamos ser adultos ou, ao menos, protótipos dos mesmos, ainda hoje... E como o tempo urge, parece que estamos sempre atrasados...
Não à toa as crianças começaram a ter enfermidades de adultos... Dores de cabeça inesperadas da superação precoce de etapas que a vida sempre nos ensinou a preservar, respeitar, reconhecer e admirar...
Não há muito espaço para os pequenos exercerem seus direitos de criança. E esses domínios não são apenas restritos no âmbito das cidades, escolas, casas ou demais áreas por eles freqüentadas... A imposição cultural nesse sentido é tão autoritária e premente que a alienação se estabelece também na cabeça de todos...
Os próprios pais e mães, educadores e autoridades, parentes e amigos próximos cobram, a todo instante, de forma consciente e inconsciente, que em lugar das crianças surjam os tais protótipos de adultos... Onde está o respeito ao Cairós? Será que algum dia devolveremos as crianças a possibilidade de vivenciar a infância com alegria, sem preocupações não condizentes a essa etapa da existência humana, com chances de amadurecer e se desenvolver no tempo certo?
1 Cassia Valeria - Recife
Sou chamada de careta ultrapassada,por não concordar com essa ditadura da moda em todo seus aspectos.Criança deve ser respeitada como criança.Vejo adultos que se dizem modernos fazendo papel de verdadeiros imbecis obedecendo como escravos a essa ditadura,onde incentivam suas crianças a não ser mais criança.
Parabéns pelo texto!
22/07/2008 02:54:47
2 maria ines galvez ruiz costa - porto alegre
As discussões contemporâneas acerca da infância, sustentam a possibilidade de se construir um olhar diferenciado sobre este tema. Isto porque novos tempos prenunciam uma nova era na infância. Provas desta drástica mudança estão por todos os lados, mas muitos ainda não se deram conta disso. Enfim, existem diferentes infância geradas por condições sociais, políticas, econômicas e culturais específicas de cada comunidade e de cada época. Esses vários olhares sobre a infância se traduzem, no cotidiano, nas concepções de “o que é ser criança” e de “como se vive a infância”, presentes nas relações sociais e veiculadas pelos meios de comunicação, mas também pela literatura, pelos brinquedos, e até mesmo pela moda.
Se nos tempos presentes, a infância vem desaparecendo, sendo perdida, negada e desconfigurada concordo com Postmam, isto é não estaríamos implicados somente no fim da infância mas em outros muitos fins e este ajustado a adultez preconizada pela pedagogia.
05/12/2007 11:01:01
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