Desde há muito, o vulgo já decretou: “Português é muito difícil!” Porém, quando dita no cotidiano, essa frase tende a confundir o que é a língua portuguesa – rica e complexa, como são as línguas – com um campo de estudo mais específico: a Gramática. Segundo essa visão, saber Português é saber Gramática. Mas isso não é verdade.
Então o que é Gramática?
Gramática é, basicamente, o nome que damos à estruturação da língua. Entendemos isso bem se pensarmos que, para formarem sentido, as palavras não são simplesmente jogadas em uma frase, mas organizadas de modo a ficar clara a relação entre elas. Qualquer falante fluente no idioma consegue perceber isso na prática. Veja por exemplo esta frase: “Brasil no tentam melhor refugiados vida”. Sem dúvida, ela é totalmente incompreensível. Não porque não compreendamos essas palavras, mas porque lhes falta a estruturação e, com isso, não se cria sentido. É o que se chama de frase agramatical. Contudo, se estruturadas corretamente, essas mesmas palavras geram uma frase perfeitamente inteligível, como num passe de mágica: “Refugiados tentam vida melhor no Brasil” (pode conferir, são as mesmas).
Como você pode notar, a Gramática é então um elemento importantíssimo na construção do significado. Isso equivale a dizer que, se nos comunicamos (e quase sempre nos entendemos!) em Português, todos nós conhecemos a Gramática, ou seja, a estruturação dessa língua. No entanto, se isso é verdade, então por que essa crença de que “Português é difícil?”
A origem do mal…
Uma hipótese bastante plausível é considerarmos que, por muitos anos, a tradição escolar tratou o estudo da nomenclatura gramatical como ponto de chegada, não como ponto de partida. Nessa lógica, a aula de Português servia para ensinar “nomes gramaticais”. Termos como sujeito, predicativo, objeto direto, aposto, oração substantiva, entre outros, deixavam de ser recursos da língua e passavam a ser nomes cobrados em provas. Fossem ponto de partida, os termos da Gramática seriam obrigatoriamente relacionados ao sentido dos textos e, assim, os alunos passariam a ser usuários da língua mais proficientes. Sendo ponto de chegada, o nome “predicativo do sujeito” vira algo sem sentido, logo desinteressante, chato e – claro – difícil mesmo.
Muitos vestibulandos que se deparam hoje com os exames se veem no meio de uma transição: ainda pegaram resquícios do método antigo, em que se praticava a classificação pela classificação, mas enfrentam provas que exigem relacionar a Gramática à produção do sentido.
Como encarar as questões de Português?
O primeiro passo é relativamente simples: jamais pensar sobre uma questão de Português como se fosse uma língua estrangeira. Muitas questões do exame podem ser respondidas até sem menção à nomenclatura gramatical, mas com base no olhar crítico de um falante nativo. Já o contrário (questões que exigem simplesmente o uso de um termo técnico) é cada vez mais raro.
O resumo é que precisamos tomar os termos da gramática como ponto de partida, sempre para compreender melhor os significados – e, por que não dizer, entender melhor a própria comunicação humana. Nos próximos textos, veremos mais exemplos de como isso acontece.
Fonte: UOL
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