A Bett é o evento mais reconhecido internacionalmente na área de educação e tecnologia. Na próxima semana a Bett realizará a segunda edição da cúpula de liderança no Brasil. O programa do evento foi desenvolvido após uma extensa pesquisa com mais de 100 especialistas e tomadores de decisão da América Latina, o que permitiu uma agenda com os temas mais atuais presentes no dia-a-dia dos líderes da comunidade educacional da região.
A Planeta Educação vai cobrir em tempo real o evento para trazer as principais informações sobre as palestras, histórias de inspiração e conteúdo de ponta, mas a partir de agora já começa a divulgação com a entrevista que fizemos com Vera Cabral, consultora em educação da Bett. Leia abaixo:
Quando se fala em “Tecnologia Educacional”, como a Senhora acha que o Brasil está posicionado perante o mundo (principalmente perante países desenvolvidos)?
Vera Cabral - Em termos de recursos de tecnologia destinados à educação não há diferenças significativas entre aquilo que está disponível nos países desenvolvidos e no Brasil. Até pelos efeitos da globalização e pelo fato do Brasil ser hoje um dos grandes mercados educacionais do mundo – está entre os oito maiores, à frente inclusive da Grã-Bretanha, segundo dados da OCDE.
A questão é como utilizamos esses recursos. Do ponto de vista ideal, deveríamos nos concentrar fortemente em estudar as possibilidades e potencializar o uso dos recursos de tecnologia para darmos conta do duplo desafio que temos: alcançarmos o atual patamar de desempenho educacional dos países líderes e nos mantermos junto a essa liderança em termos da transformação da educação que o século XXI demanda. Isso significa a geração e a incorporação de inovações no setor que associem qualidade às ditas competências do século XXI e à realidade distinta que vivemos: transformações constantes e rápidas no mundo produtivo, no formato das relações sociais e de trabalho, de acesso aos direitos de cidadania, etc. Países e jurisdições com desempenho educacional de ponta, como Finlândia, Coreia, Austrália, Canadá e Shangai, ao invés de se contentarem com os seus atuais resultados, estão empenhados na busca pela atualização e adaptação constantes de seus sistemas de forma a dar respostas a esses desafios.
O Brasil precisa entender e assumir que os recursos de tecnologia hoje existentes já são suficientes para se iniciar uma revolução em nossa educação. Podemos pular etapas e obtermos importantes e rápidas melhorias se utilizarmos de forma consistente e planejada diversos dos recursos que estão disponíveis. Mais do que comprar e distribuir esses recursos, trata-se de apoiar a sua utilização para a transformação dos processos na educação. Isso envolve, essencialmente, a formação das equipes (dos professores e das equipes escolares), o apoio constante a esses profissionais em sua atuação no dia-a-dia e a constituição de redes de colaboração e aprendizagem entre eles.
Especialmente para um país como o Brasil, onde o percentual da população com ensino superior completo é de apenas 11%, o último colocado entre 35 países pesquisados pela OCDE, a adoção consistente e coerente de recursos de tecnologia pode suprir muitas das nossas lacunas e contribuir para que tenhamos padrões educacionais dignos e compatíveis com as demandas do mundo atual.
No último fim de semana tivemos o ENEM, que por ter ultrapassado a marca de 8,7 milhões de inscritos é classificado por alguns como “segundo maior vestibular do mundo” (somente atrás do Gaokao, o ENEM chinês). Fala-se muito sobre a interdisciplinaridade da prova e a influência positiva que isso poderia trazer para melhorarmos nosso currículo escolar. Quais serão as contribuições da BETT LATIN AMERICA 2014 para este debate sobre melhorias no atual currículo escolar em nosso país?
Vera Cabral - Para além da interdisciplinaridade, a conexão com o mundo real, com os valores da sociedade, com os interesses do aluno são pontos essenciais a serem considerados na construção do currículo compatível com os dias atuais.
A discussão sobre currículo aparece como um dos eixos principais da transformação da educação no mundo todo.
A mudança de modelos curriculares essencialmente conteudistas, enciclopédicos, para outros que privilegiem a capacidade de resolução de problemas, a conexão com valores da sociedade, como é o caso do respeito a diferenças, por exemplo, está presente, explicita ou implicitamente, em todas as discussões. Essa é a essência do que chamamos de transformação da educação. E os recursos de tecnologia são importantes meios e possibilitam a sua efetivação.
Teremos no evento lideranças e representantes de outros países em desenvolvimento. Qual a expectativa sobre a contribuição dos líderes educacionais e representantes desses países?
Vera Cabral - Todos os países da América Latina entendem que o acesso à educação de qualidade a toda a população deve ser uma condição necessária para o desenvolvimento, representado pela redução da pobreza, redução das desigualdades, criação de oportunidades de inserção produtiva, construção de sociedades mais justas. Isso ocorre ao mesmo tempo em que o uso de recursos de tecnologia amplia as possiblidades de adoção de distintos modelos de provisão educacional, viabiliza a superação de tradicionais carências e possibilita a adoção de princípios e metodologias de aprendizagem que despadronizam processos, na linha da personalização, da consideração dos interesses e do protagonismo do estudante.
Diante de tanta mudança, temos muito a aprender e também muito a ensinar.
Os desafios de todos os países da região são imensos e as soluções para eles requerem conhecimentos muito específicos e muita criatividade. Aprender com os pares, com quem compartilha situações análogas, ainda que em contextos distintos, é fundamental.
A contribuição maior de um evento como o Bett Latin America Leadership Summit é a interação, a troca de conhecimentos e experiências entre os participantes. Teremos ministros, dirigentes de sistemas e de instituições educacionais públicas e privadas, dirigentes de organismos multilaterais, acadêmicos e outras lideranças do setor compartilhando experiências. Estamos todos buscando construir a educação de qualidade nos diferentes países, afinada com o mundo no século XXI, cuja realidade é essencialmente distinta daquela que marcou o século XX.
Fonte: Planeta Educação
# Assista na íntegra os vídeos da Mesa Redonda ENEM 2014