FLÁVIA FOREQUE, de Brasília - Folha de S.Paulo
A dimensão atual do Enem e as dificuldades para sua aplicação deixaram em plano "secundário" o debate sobre o conteúdo da prova.
A análise é feita por Reynaldo Fernandes, professor da USP e presidente do Inep entre 2005 e 2009, ano em que o exame foi reformulado para substituir o vestibular.
O órgão do Ministério da Educação é o responsável pelo Enem, cuja edição deste ano será neste fim de semana.
"O lado logístico acaba tomando grande parte das preocupações. É até natural. E menos discussão se faz sobre se de fato ele é um bom sinalizador para o ensino médio", disse à Folha.
Para ele, é preciso tornar o debate "mais pedagógico". "Discutir o formato da prova é discutir o formato do ensino médio que queremos. Esse foi um dos motivos porque ele surgiu, mas que nesses anos ficou um pouco secundário."
Fernandes estava à frente da organização do Enem quando houve o vazamento de questões e nova prova teve de ser elaborada em tempo recorde. Desde então, avalia, o Enem teve avanços e se consolidou. Prova disso é a crescente adesão de instituições de ensino e a demanda -neste ano, são 8,7 milhões de inscritos.
O ex-presidente do Inep reconhece a necessidade de mais de uma edição por ano, mas diz que isso só será possível com mudanças na lei.
"Nos EUA, por exemplo, a instituição que faz o SAT [uma espécie de Enem] entrega a prova para centros de teste. Eles aplicam e devolvem [para correção]. Isso, aqui, fica muito difícil: a legislação de licitações e convênios dificulta muito esses arranjos."
Para ele, três edições anuais seriam algo "bastante razoável" e duas "já melhoraria bastante."
Uma polêmica recorrente é a correção das redações. Em 2013, houve mudança nos critérios de pontuação após divulgação de textos que não receberam nota zero apesar de incluir trechos com receita de miojo e hino de futebol.
"Encontrar problemas, num universo de milhões de redações, é quase inevitável. São pessoas que as corrigem, e pessoas têm subjetividades."
Na visão do economista, a redação poderia ser dispensada como critério para ingresso no ensino superior, mas tem função relevante para o ensino médio. "É fundamental sinalizar que a escrita é importante. Como exame de final de ciclo [da educação básica], ela é importante."
Fernandes pondera ainda ser "natural" que, no futuro, o Enem seja utilizado como indicador de qualidade do ensino médio. Hoje, isso ocorre de forma amostral, por meio de outra avaliação.
"O problema é que o Enem é voluntário. Quando a cobertura chegar à totalidade [de concluintes do ensino médio], e está chegando nesse ponto, acho que vai ser natural que sirva como indicador do ensino médio também."
Fonte:Folha de S.Paulo
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