Garantir que os alunos se mantenham engajados e motivados durante todo o período escolar é um desafio que vem atravessando décadas no setor educacional. Para um grupo de educadores, a resposta está em criar um ambiente seguro onde eles aprendem não só o conteúdo regular, mas também a como se comportar diante de diferentes situações da vida, transformando-os em indivíduos mais confiantes e independentes.
Diferente do que defendem alguns especialistas, os defensores do ensino socioemocional não separam habilidades cognitivas e não cognitivas: para eles todo espaço de aprendizado é uma oportunidade para desenvolver as competências de que necessitarão ao longo da vida. Algumas dessas habilidades são autoconhecimento, capacidade de resolver conflitos, consciência social, facilidade de relacionamento e tomada de decisão.
“Essas competências vêm sendo identificadas por pesquisadores nos últimos 40 anos e estão altamente relacionadas ao aumento do engajamento dos alunos, redução de problemas comportamentais e melhoria nos resultados acadêmicos”, contou Tim Shriver, presidente da ONG Special Olympics, durante o SXSWEdu, um dos maiores eventos internacionais sobre tendências educacionais que aconteceu entre os dias 3 e 6 de março em Austin, nos EUA.
O aumento nos resultados acadêmicos impressiona. Pesquisa de 2011, realizada pela Casel (Espaço colaborativo para o ensino acadêmico e socioemocional, em livre tradução) com 270.034 alunos – do ensino infantil ao ensino médio –, mostrou um ganho de 11 pontos percentuais no resultado acadêmico de alunos que participam de programas com esse modelo.
Mas a grande discussão entre os especialistas no SXSWEdu foi sobre como esse tipo de ensino pode ser implementado em escala. Para a autora Rosalind Wiseman, uma das grandes dificuldades na implementação de programas de ensino socioemocional está na dificuldade de os adultos entenderem que não é para ensinar o conceito das habilidades. “Eles não querem necessariamente ouvir sobre bondade, importância da amizade, compaixão e empatia. O que eles querem é ter domínio sobre algumas situações de suas vidas que eles não se sentem no controle. Eles querem que os adultos, inclusive professores, entendam que a vida deles é complicada e que eles são importantes. Querem ser tratados com respeito”, explica Rosalind.
No sistema público de ensino de Austin, esse tipo de ensino vem sendo implementando em escala desde 2011. Hoje já está presente em 73 escolas, atendendo cerca de 48.000 alunos. O objetivo para 2015 é atender a todos os 87.000 estudantes das 120 escolas da rede.
A superintendente do distrito, Meria Carstarphen, conta que quando assumiu o cargo, em 2009, as escolas estavam sendo fechadas por não terem bons resultados acadêmicos. Em vez de resolver o problema de forma imediata, ela e sua equipe resolveram entender o que faria diferença para os alunos. O que eles perceberam é que não seria possível alcançar bons resultados acadêmicos com alunos inseguros estudando em ambientes onde não se sentiam à vontade, seguros e engajados.
“O ensino socioemocional não é um programa, mas sim uma filosofia de como queremos educar nossas crianças. Temos que pensar no aluno por inteiro. Claro que temos que nos preocupar com os resultados acadêmicos, mas também temos que ajudá-los a desenvolver as habilidades socioemocionais. Se não fizermos dessa forma, acredito que não estaremos dando uma boa educação. Se não integrarmos essas competências, iremos formar pessoas que não estão preparadas para a vida, carreira ou faculdade”, advoga Meria.
No Distrito Escolar Independente de Austin, a implementação acontece por região. Há dois coaches por região, que orientam os professores de diversas disciplinas na implementação das práticas que irão desenvolver as competências socioemocionais. Segundo os especialistas, boa parte da implementação desse tipo de ensino está em envolver a comunidade, especialmente os pais. Uma boa forma de engajar os pais é convocá-los para conversas sobre a filosofia do ensino e intimando-os para que também ajudem seus filhos a se desenvolverem em casa.
Meria e sua equipe foram além dos pais, envolvendo também empresas que ajudam a financiar o programa. Conseguiram, nessa busca de trazer mais atores para o processo educacional, engajar a comunidade médica, que dá suporte médico e emocional aos alunos e suas famílias, para que eles tenham condições de se desenvolverem ainda melhor.
Fonte:
Porvir
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