Quando eu estava no ensino fundamental, meus amigos e eu revendíamos doces que comprávamos na [loja norte-americana de varejo] Cotsco a preços mais baixos do que os da máquina e os da tia da cantina. A margem de lucro era pequena, mas ganhar qualquer dinheiro naquela idade era bem legal. Infelizmente, a escola não gostou muito da nossa iniciativa um tanto disruptiva e experimentamos, pela primeira vez, o gosto amargo do sistema escolar.
A Incubator School, que abriu suas portas neste mês em Los Angeles, promete tratar com mais gentileza desse tipo de empreendedorismo. Financiada pela Next Generation Learning Challenges, a escola vai começar com uma turma de cerca de 50 alunos de 6º e 7º anos e três professores. O plano é ir adicionando uma série por ano até chegar ao 3º ano do ensino médio.
A proposta empreendedora da nova escola, porém, não teve apoio unânime na comunidade – para falar a verdade, algumas pessoas foram tão receptivas à ideia quanto a tia da cantina da minha escola uns anos atrás. Como o Los Angeles Times mostrou, as preocupações que chegaram a ameaçar a abertura da escola iam desde sua ideologia (considerada pelos críticos muito ligada ao capitalismo) até suas práticas pedagógicas. Depois de idas e vindas, a escola finalmente recebeu o aval para funcionar, por enquanto em sede provisória.
Fundar qualquer tipo de negócio ou organização, os empreendedores hão de concordar comigo, não é tarefa fácil. Esse começo atribulado, então, pode ser bem apropriado para uma escola que, segundo sua idealizadora, Sujata Bhatt, “é voltada a desenvolver empreendedorismo e para [os futuros] fundadores de startups”. Bhatt, que lecionou por 11 anos na rede pública de Los Angeles, quer que “os professores deem suas aulas essencialmente como se estivessem em uma startup”. “Eles não desempenharão apenas uma função. Vão desempenhar 15 ou outras tantas que ainda nem foram inventadas.”
Em entrevista ao EdSurge, Bhatt descreveu um dia típico na escola. Ele consiste, basicamente, em três etapas:
Durante duas horas no período da manhã, alunos terão acesso individual a dispositivos móveis (laptops ou tablets). Eles trabalharão nos currículos de matemática e língua inglesa com programas de iniciativas como StudySync [plataforma voltada a desenvolver habilidades em leitura e escrita para alunos de ensino fundamental a médio], Khan Academy e Think Through Math [plataforma adaptativa especializada em ajudar alunos com os fundamentos de álgebra].
Criado com a assessoria de organizações como o New Learning Institute [especializado em desenvolver programas digitais de aprendizado baseado em projetos] e o Cooney Center [laboratório independente de pesquisa que estuda tecnologias educacionais emergentes e colabora na transformação dos estudos em ação]. Nesses espaços, os estudantes vão se dedicar aos estudos sociais e de ciências a partir de projetos.
Durante uma hora por dia, os alunos vão aprender sobre como desenvolver a missão de uma empresa, os planos de negócios e ainda conceitos relacionados, como introdução à educação financeira. Os alunos também terão algo próximo do que o Google tem em seu “horário flexível”: eles terão duas horas por semana para explorar seus interesses pessoais.
Como um professor que “sempre trabalhou para trazer várias tecnologias para a vida educacional criativa dos alunos”, Bhatt diz que planeja usar uma série de ferramentas on-line tanto para pesquisa quanto para atividades relacionadas ao aprendizado baseado em projetos. Para trabalhos em grupo, por exemplo, estudantes vão usar programas colaborativos, como os recursos do Google Apps for Education [plataforma, que tem versão em português, permite formação de grupos de estudos e compartilhamento de informações], Mavenlink [plataforma pensada para facilitar trabalhos em grupo, com parte das funcionalidades gratuitas e parte vinculada à assinatura de mensalidades] e Realtime Board [plataforma também voltada à criação de projetos em grupo, que permite o compartilhamento de diversos tipos de arquivos; há versões paga e gratuita].
Games como Civilization IV [jogo de estratégia em que usuários são desafiados a construir um império] serão incorporados às lições de ciências sociais. A LiveSchool [uma plataforma que pretende ajudar professores a coletarem dados sobre o comportamento dos alunos] também será usada para introduzir a ideia de gestão do comportamento no contexto de economia escolar. Exercícios tradicionais por escrito, diz ela, vão ajudar os estudantes a desenvolverem agilidade.
“Nosso objetivo é ser muito mais um chão do que um teto”, diz Bhatt. Alunos da Incubator School vão, durante os dois primeiros anos (6º e 7º anos), aprender os princípios do empreendedorismo antes de, efetivamente, lançar seus próprios negócios no 8º ano. É cedo para prever que tipo de empresa os alunos vão lançar, mas Bhatt está confiante de que o trabalho da escola vai potencializar a disposição natural para o empreendedorismo que os alunos já têm.
Toda escola, ela diz, “já tem uma economia de bastidores na qual as crianças compram coisas no Dunkin Donuts ou no Burger King e revendem na escola. Então por que não aproveitar essa natureza empreendedora dos alunos?”, pergunta. Talvez seus alunos tenham mais sore que eu no meu empreendimento com doces.
Fonte: Porvir
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