Parceria do MEC com instituto é alvo de manifesto de professores
Professores de universidades públicas do país fizeram um manifesto conjunto em que criticam um acordo assinado entre o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Cervantes para o ensino de espanhol na rede pública, idioma obrigatório no ensino médio e facultativo no fundamental a partir do ano que vem. O argumento deles é de que o Cervantes não é uma instituição de ensino regular no Brasil e o curso a ser implantado teria currículo precário, preparado sem levar em conta as pesquisas desenvolvidas pelas maiores instituições de ensino.
O acordo, assinado no início do mês, prevê a aplicação piloto dos programas Hola Amigos e AVE, disponibilizados pelo instituto. Serão capacitados 30 professores, de todos os Estados, para trabalhar como tutores a distância na formação de 600 alunos - 400 do ensino fundamental e 200 do médio. O objetivo é fazer um teste de metodologia e tecnologia de ensino para, caso sejam bem sucedidas, poder ampliá-las.
"Não entendemos por que usar metodologia baseada nos princípios de ensino de idiomas da União Europeia, que não tem nada a ver com a realidade do Brasil. Temos muitas pesquisas sobre ensino de espanhol em nossas universidades", afirma Adrián Pablo Fanjul, professor de espanhol da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente da Associação de Professores de Espanhol do Estado de São Paulo. "O que está acontecendo é que se pensou uma lei sem analisar as formas de implementação dela. Agora, ninguém sabe o que fazer", diz Fernanda Castelano Rodrigues, professora de espanhol da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Procurado pela reportagem, o Instituto Cervantes, não se pronunciou. Na avaliação do ministério, a polêmica é fruto de uma confusão das entidades. "Creio que houve um mal-entendido. Reconhecemos que as universidades brasileiras são as responsáveis pela formação dos professores. Mas o acordo não trata disso", explica Carlos Eduardo Bielschowsky, secretário de educação a distância do MEC. "O Cervantes está oferecendo material e vamos aplicá-lo para testar a metodologia."
Segundo Bielschowsky, a metodologia será disponibilizada para uso das redes como ferramenta adicional para o ensino da língua, assim como já são disponibilizados alguns recursos educacionais de multimídia. Além disso, o MEC também deverá utilizar ferramentas de outras instituições.
Em 2006, polêmica semelhante ocorreu em São Paulo. À época, a Secretaria de Estado da Educação assinou convênio com o Cervantes. A então secretária da Educação Maria Lúcia Vasconcelos disse que o objetivo era ensinar espanhol aos professores, e não habilitá-los para dar aulas. Houve críticas das universidades estaduais (USP, Unesp e Unicamp) e o projeto chegou a ser suspenso. Em 2008, foi reformulado e retomado em parceria com a Universidade de Brasília.
Simone Iwasso
Fonte: Estadão (http://estadao.com.br/estadaodehoje/20090817/not_imp419813,0.php)