Planeta Educação
NOTÍCIA
Investimento privado em educação pública chega a R$ 1 bilhão por anov - 07/07/2009 08:56:09

Em ações cada vez mais comuns, institutos e fundações de empresas ajudam escolas a melhorar desempenho

Com apoio técnico para elaborar um plano de gestão e aprendizado, além de um aporte de R$ 100 por aluno ao ano, escolas de ensino médio da rede estadual de Porto Alegre e Belo Horizonte conseguiram que seus estudantes melhorassem o desempenho em português e matemática em uma proporção que as unidades não beneficiadas só atingirão em cinco anos.

Os dados, de pesquisa feita pelo economista Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nas avaliações nacionais do Ministério da Educação, mostram os resultados de um programa de investimento social privado no ensino público. No caso, o responsável pela ação é o Instituto Unibanco, mas há diversas outras instituições e fundações trilhando caminhos semelhantes com resultados também positivos.

Não à toa, a maior fatia do investimento social privado no País vai para a área educacional - mais de 80% das empresas que fazem algum tipo de investimento social têm projetos nesse setor, segundo levantamento do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife).

A maior parte é aplicada em propostas de formação de crianças e jovens carentes, desde o ensino infantil até fundamental e médio. Estimativas do movimento Todos pela Educação, que reúne gestores públicos, especialistas e grandes empresas em torno do tema, indicam que o setor recebe cerca de R$ 1 bilhão ao ano de instituições e fundações ligadas a empresas.

Basicamente, há três focos de atuação dos institutos e fundações. Uma linha é a dos que optam por criar e manter suas escolas próprias, servindo como modelo de metodologia e gestão para a rede pública. A segunda propõe ajudar estudantes da rede pública, com bolsas de estudo, por exemplo, ou então auxiliar diretamente a escola pública. E a terceira opção de ação "entra" nas redes, levando uma base comum de atuação para todas as escolas.

Um outro exemplo de atuação particular em parceria com a rede pública é o Instituto Ayrton Senna - municípios que adotaram seus programas de gestão e acompanhamento escolar entre 1995 e 2007 tiveram crescimento de quatro a seis vezes maior do que a média nacional na taxa de aprovação e na melhoria do número de alunos que estão na série em que deveriam estar (adequação idade-série).

Essas redes apresentaram também uma queda bem maior do que o resto do País nos índices de reprovação e evasão escolar. Em seis anos, o instituto trabalhou com 947 cidades em vários Estados - quase 20% dos municípios do País.

ESCALA

A atuação hoje de institutos caracteriza uma tentativa de associar a qualidade que os projetos privados costumam ter com a escala que apenas governos carregam. "Estamos hoje numa fase que é de parcerias com setores governamentais", afirma Wanda Engel, superintendente executiva do Instituto Unibanco. "Deixamos para trás a fase em que as organizações não governamentais apenas combatiam o governo. E também passamos da que elas tentavam substituir a ação do Estado."

A tendência é que essas ações, antes restritas a pequenos nichos, como uma escola isolada, passem a ganhar escala.

A Fundação Bradesco, por exemplo, que administra uma rede de 40 escolas próprias distribuídas em regiões carentes de todos os Estados, pretende focar seus recursos na difusão das tecnologias educacionais. "Pretendemos compartilhar nosso conhecimento com as redes públicas, difundir as práticas que criamos e testamos com sucesso ao longo das décadas", explica Ana Luisa Restani, diretora superintendente da fundação.

Pesquisa feita pela diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lúcia Lima, mostra que 89% dos investidores em educação atuam em parcerias com governos ou fundações - a grande maioria não inclui repasse direto de recursos, mas fornecimento de capacitação, infraestrutura e ferramentas de gestão, item que, segundo especialistas, traz impacto significativo na rede pública. "Existe um debate hoje entre quem investe em educação que é o de alinhar as ações privadas com as políticas públicas, mas para isso precisamos entender como está montado esse cenário, bastante diversificado", conta Ana Lúcia.

ÁRVORE DE NATAL

Esse alinhamento é necessário para evitar que as escolas se tornem verdadeiras árvores de Natal, nas palavras da diretora executiva do Instituto Ayrton Senna, Margareth Goldenberg. "É importante focar as ações de empresas com as metas que existem para a educação pública, que é a melhoria do desempenho e a redução dos índices de evasão e distorção idade-série. Esse é o maior desafio", explica.

Na análise de Margareth, ainda existem muitas ações isoladas, cada uma com seu objetivo. Quem trabalha com sustentabilidade quer criar um projeto de reciclagem nas escolas; quem atua na área cultural banca ações de música e teatro; quem é de informática faz projetos com computadores e acesso à internet. "As escolas acabam tendo de absorver e aplicar todos esses projetos, porque significam recursos para elas, e se esquecem do seu objetivo principal que é o aprendizado. Por isso é preciso foco", analisa.

Fonte: Estadão, Matéria de Simone Iwasso