As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) começam hoje em meio à polêmica. Por incentivo do Ministério da Educação (MEC), universidades federais do país estão criando formas para substituir definitivamente o vestibular pela prova única do Enem. A proposta revoluciona a atual seleção para acesso ao Ensino Superior no país, um exame instituído em 1911.
Hoje, a preocupação de instituições, professores, pais e alunos não é a mudança em si, mas a falta de tempo para adaptação e preparação à prova, que será aplicada em 3 e 4 de outubro. A discussão ganhou força com a supressão dos testes de língua estrangeira no exame deste ano e uma ação civil pública do Ministério Público Federal contra a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para que a instituição não utilize apenas o Enem como seleção.
Em 25 de março deste ano, o ministro da Educação, Fernando Haddad, anunciou mudanças no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que só dois meses depois foram especificadas em edital. Além de ampliar o exame de 63 para 180 questões, mais redação, o ministro estimulou as universidades federais a utilizarem a avaliação federal como única forma de acesso já no próximo processo seletivo. Para isso, ofereceu mais recursos às instituições que substituíssem o antigo vestibular pelo novo Enem. A verba repassada à assistência estudantil dobrou, atingindo R$ 400 milhões.
No Estado, três das seis federais decidiram usar exclusivamente o Enem na seleção. Com isso, em vez de aplicarem suas provas em dezembro ou janeiro, usarão as notas do Enem, a ser realizado em 3 e 4 de outubro. A decisão revoltou estudantes, sob a alegação de que a preparação para o vestibular havia sido prejudicada.
– Tudo foi mudado no meio do processo, tivemos de nos adaptar. Não acho justo nem correto, pois estão menosprezando todo o nosso empenho – queixa-se Joana Noschang, 34 anos, que tenta uma vaga em Medicina na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), que usará o Enem em vez do vestibular tradicional.
Na tentativa de manter o processo de seleção antigo pelo menos até o próximo vestibular, estudantes da Capital pretendem entrar na Justiça contra a decisão da UFCSPA.
Com apoio da Câmara de Vereadores, devem solicitar a intervenção do Ministério Público Federal contra a substituição do antigo modelo de seleção pelo Enem.
A mobilização é inspirada na dos colegas de Pelotas, que conseguiram em caráter liminar derrubar o uso do Enem como única forma de acesso na Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Até o momento, paira a incerteza entre os vestibulandos da cidade pelotense, uma vez que a Justiça ainda não julgou o mérito da ação civil pública ajuizada pelo procurador Max Palombo, do Ministério Público Federal.
Vestibulandos participarão de audiência com vereadores
Na sexta-feira, às 9h30min, vestibulandos da Região Metropolitana que se sentem prejudicados com a decisão da UFCSPA participarão de audiência da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude da Câmara de Vereadores. Depois do encontro, os estudantes planejam protestar, seguindo em passeata até a sede da universidade, na Rua Sarmento Leite.
Em abril, a reitora Miriam da Costa Oliveira recebeu um abaixo-assinado com 1,5 mil assinaturas contra o uso do Enem. No mesmo dia, a universidade aprovou seu uso exclusivo a partir da próxima seleção. Nesta semana, os abaixo-assinados foram retomados.
A mobilização estudantil é vista como uma esperança para Bianca Juliana Remedi, 19 anos, de Canoas.
– Tomara que dê resultado. Comecei a me preparar em março pensando em janeiro e não outubro (mês em que será realizado o Enem) – afirma a jovem, que tenta uma vaga em Nutrição na UFCSPA.
Maicon Bock(maicon.bock@zerohora.com.br)
Fonte: Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2545758.xml&template=3898.dwt&edition=12519§ion=1015)