Spencer Kagan (*)
Você já parou para pensar quantas aulas um professor pode dar em uma semana? E quantos alunos esse professor precisa atingir? Será que todos os alunos conseguem compreender o conteúdo e tirar suas dúvidas?
A educação tem tentado resolver os problemas do século XXI utilizando conceitos do século XX. E isso simplesmente não funciona nem vai funcionar. O problema: o planejamento da aula. Como Einstein sugere, a solução é adotar uma nova consciência. A educação precisa de uma nova perspectiva, de um novo olhar, de uma mudança de paradigma.
À medida que entramos no novo milênio, uma série de fatores está convergindo para fazer o atual trabalho dos professores parecer impossível. Estamos preocupados somente com resultados. Um exemplo é a prova do IDEB. Obter notas mais altas é uma visão estreita do processo educacional. Nós precisamos desenvolver os alunos em diferentes aspectos. Nossa força de trabalho tornou-se mais global e interdependente, por isso queremos que os alunos saibam trabalhar em equipe e desenvolvam habilidades sociais. A tecnologia está se expandindo em um ritmo vertiginoso. Nossa estrutura social está em constante mudança e a carga de ensino de habilidades sociais e emocionais recai cada vez mais sobre os professores. Enfrentamos demandas para entregar um currículo cada vez mais aprimorado e, ao mesmo tempo, encaramos situações de sala de aula, cada dia mais difíceis. Existe uma diversidade crescente entre os níveis de desempenho dos alunos de alta e baixa renda e entre estudantes de minorias sociais.
Nós podemos atender a todos esses desafios no ensino, mas não se valendo de um conceito do século XX. A tarefa dos educadores do século passado era relativamente simples. Para ter êxito, o aluno precisava das mesmas habilidades e conhecimentos que seus pais e avós tinham sobre leitura, escrita e aritmética. E, para fornecer esses conhecimentos, o professor podia confiar em estratégias instrucionais aceitas por décadas – palestra com lousa e giz, repetição e memorização contextualizada. O aluno não tinha conhecimentos e habilidades suficientes; o trabalho do professor era ficar em pé à frente da sala e transmitir o conteúdo.
O mundo mudou. Como resultado das transformações econômicas e sociais, essa visão do século XX da educação caducou. Um professor já não pode prever com confiança os tipos de conhecimentos e competências de seus alunos trabalhados ao longo da vida. A transmissão de valores tradicionais já não é mais garantida. Os pais precisam trabalhar fora, então as crianças não adquirem virtudes de caráter e habilidades sociais em casa. Para a criança e o jovem, ter dois responsáveis já não é mais garantido. O lar monoparental é cada vez mais comum. Os pais têm menos contato com os filhos; então a ajuda com a lição de casa, o ensinamento das diferenças entre certo e errado é mais difícil. Os professores passam a enfrentar alunos menos socializados, indisciplinados e desmotivados.
Com as mudanças do século XXI, os educadores enfrentam um cenário radicalmente diferente de desafios. Hoje, temos que preparar os alunos para trabalhar e viver em um mundo que só podemos imaginar vagamente. A maioria dos estudantes que entra no jardim de infância hoje provavelmente atuará no futuro em categorias de trabalho ainda não criadas.
Quando entramos neste século, os educadores responderam ao desafio estimulando habilidades de raciocínio ao invés de memorização; o processo sobre o conteúdo; e outras formas de preencher o vazio da socialização, incluindo o desenvolvimento de habilidades sociais, virtudes de caráter, inteligência emocional e de liderança. A interdependência no local de trabalho levou os empregadores a exigir das escolas que preparassem os alunos com habilidades para o trabalho em equipe, ajudando a alimentar o movimento de Aprendizagem Cooperativa. Habilidades de diversidade e a capacidade de trabalhar bem com os outros a partir de diferentes origens são componentes essenciais para o sucesso da educação nos dias de hoje.
Mas como podemos cumprir a crescente carga no currículo acadêmico e não acadêmico e, ao mesmo tempo, oferecer estratégias de ensino mais complexas e exigentes? A resposta: Estruturas da Aprendizagem Sistêmica. O que são essas estruturas? Simplificando, são estratégias instrucionais. Elas descrevem como os alunos estão interagindo com o professor, com o conteúdo e uns com os outros, permitindo aos professores atender simultaneamente às demandas atuais. Como exemplo, o professor faz uma pergunta, os alunos conversam em pares e se revezam para dar a resposta. Utilizar a Estrutura Dupla Dinâmica ensina os alunos a se revezar e a cooperar, adquirindo habilidades sociais básicas. Todos os alunos participam e não somente os alunos de alto desempenho. Todo estudante presente na sala compartilha suas respostas várias vezes, permitindo maior engajamento, interação e retenção de conteúdo.
Ao ensinar o mesmo currículo com as Estruturas da Aprendizagem Sistêmica, o professor entrega um currículo integrado muito mais rico do que a abordagem tradicional permite. Toda a estrutura oferece um currículo integrado e o uso inteligente dessa abordagem permite desenvolver virtudes de caráter, engajar e desenvolver as inteligências múltiplas e habilidades para o trabalho em equipe, além de habilidades sociais e de liderança.
(*) Spencer Kagan é parceiro da Planneta, empresa responsável pela implantação da Aprendizagem Sistêmica em diversos municípios brasileiros; pesquisador renomado internacionalmente, autor de mais de cem livros e artigos científicos nos campos de aprendizagem cooperativa, inteligências múltiplas, disciplina e interação na sala de aula. Atuou como psicólogo clínico e professor de psicologia e educação na Universidade da Califórnia. Suas estratégias de instrução são utilizadas em diversos países.