Estudantes possuem materiais didáticos e programa de aprendizagem específicos.
A rede de escolas estaduais paulistas conta com mais de nove mil alunos que se auto declaram indígenas ou descendentes. Aqueles que vivem em comunidades indígenas estão alocados em 40 escolas bilíngues mantidas em aldeias na capital, litoral e região central. Com foco e respeito às tradições, essas escolas contam com uma política especial de aprendizado, desde a adoção do material didático exclusivo até o calendário escolar.
Hoje, os alunos indígenas têm acesso a livros e cadernos em cinco línguas: guarani, tupi-guarani, terena, kaingang e krenak, pertencentes às etnias remanescentes do Estado de São Paulo. "A rede estadual paulista é uma das mais diversificadas do País”, afirma Julieth Melo de Souza, do Núcleo de Inclusão Educacional da Secretaria. “Além de indígenas, estão matriculados em nossas escolas alunos estrangeiros e todas as unidades de ensino trabalham com atividades inclusivas e priorizam o acolhimento”.
“Cada dia mais, temos oportunidade de fazer que nosso jovem resgate nossa sabedoria tradicional, em especial, nossa língua. Queremos evitar o distanciamento deles da nossa história”, afirma o professor indígena Ubiratã Gomes, cacique da aldeia Bananal, em Peruíbe.
Ele, juntamente com outros educadores da rede, participou, com apoio do Estado, de um curso de licenciatura Intercultural Superior Indígena, na Universidade de São Paulo, em 2005. “Nessa formação, aprendemos e colocamos em prática a cada semana o que daria resultado em nossas aldeias”, lembra. “Contamos com a participação dos nossos mais velhos para a elaboração das atividades, justamente para a preservação do nosso passado”, conta.
Na tentativa mostrar ao jovem indígena a necessidade de manter viva a trajetória cultural, Ubiratã tem inovado no processo de aprendizagem dos seus alunos. “Já produzimos três documentários sobre nossa história em atividades extra-curriculares. Vamos mostrar para outras pessoas não indígenas nosso respeito a natureza, os nossos utensílios e a alimentação”. Este ano, Ubiratan está criando com seus alunos um manual prático com frases da língua nativa. “A cultura indígena é passada na oralidade. Por isso, a ideia que eles aprendam frases para saber se comunicar. Não apenas palavras soltas. Pretendo compartilhar isso com outros educadores indígenas”.
Um trabalho parecido é executado pelo também professor indígena Tiago Oliveira, da E.E. Aldeia Nimuendajú, em Bauru. Também formado pela Universidade de São Paulo no curso Intercultural Superior Indígena, ele conta que o processo de ensino diferenciado tem ido de encontro às necessidades do povo indígena. “Nossas atividades são ligadas ao dia a dia da nossa comunidade”, afirma. Tiago, nascido no Estado do Paraná, mesclou sua formação formal entre a escola regular e indígena. “Pude ver a diferença do aprendizado escolar moldado para nossa cultura”. A formação indígena ajuda preservar e repassar nossas tradições”.
Professor Ubiratã Gomes, da Aldeia Bananal, em Peruìbe. Foto: arquivo pessoal
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