São Paulo - Até pouco tempo atrás seria difícil imaginar uma sala de aula na qual o aluno aprendesse ao mesmo tempo a grade oficial do ensino médio - como matemática - e assuntos relacionados à educação financeira.
Isso já é realidade, porém, para 3 mil escolas públicas que neste ano estão recebendo pela primeira vez livros do Programa de Educação Financeira no Ensino Médio, coordenado pela Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil).
Em uma experiência piloto feita entre 2010 e 2011, o conteúdo voltado ao ensino médio foi testado em 891 escolas públicas. Desenvolveu-se então os livros que somente agora chegam aos colégios. Trabalhar o tema no ensino médio é só o primeiro passo.
Em 2015, o projeto piloto voltado ao ensino fundamental começa a ser testado em escolas de Manaus e Joinville. A partir da experiência, também serão elaborados os materiais e metodologia para os alunos mais jovem.
Estimular o assunto para este público surge como uma maneira de educar os futuros adultos, mas também toda a comunidade com a qual a escola tem contato.
"O programa capacita as secretarias estaduais, que por sua vez treina seus professores. Quando o conteúdo chega ao aluno este vira um agente multiplicador dentro da sua família. O programa atinge muitas pessoas", diz a superintendente da AEF-Brasil, Silvia Morais.
Até fevereiro, cinco Estados (Amapá, Ceará, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Tocantins) e o Distrito Federal haviam feito a adesão ao programa e recebido o treinamento da AEF, que agora conversa com outras secretarias para conseguir capacitá-las.
Os três livros desenvolvidos no programa abordam 72 situações que os professores podem trabalhar com os alunos.
"É um programa transversal. Foi elaborado de maneira que pode interagir com as 18 disciplinas do ensino médio. A educação financeira não compete com o conteúdo obrigatório da grade", afirma Morais.
Os capítulos passam por empreendedorismo, blocos econômicos e mesmo temas básicos de orçamento. Um tópico, por exemplo, aborda a evolução das moedas, o que poderia entrar nas aulas de história.
Outro fala sobre o consumo consciente e mostra quanto tempo os materiais demoram para se decompor, assuntos que se relacionam com biologia.
Ao se educar financeiramente crianças e adolescentes uma das atenções deve se voltar aos temas abordados, explica a especialista em educação infantil Cássia D Aquino, que em 1996 também criou um programa transversal de finanças para crianças e jovens de 2 a 17 anos.
"É um programa prático, mas que paradoxalmente pouco fala de dinheiro porque o que interessa não é ter uma criança que lide bem com a grana, ela não recebe salário. O interessante é preparar as bases para que na vida adulta ela seja capaz de fazer isso", explica Cássia.
No caso de adolescentes, ela diz que seu programa tenta mostrar pessoas admiradas pelos jovens, que sirvam de modelos.
"É dado o exemplo do Skank, uma banda de bares em Belo Horizonte que fez uma caderneta de poupança por um ano para conseguir gravar o primeiro disco e então estourar", diz a educadora ao explicar que o projeto tenta provocar atitudes positivas em relação ao dinheiro.
Entre as crianças, a importância está no fato de que é neste período que elas desenvolvem características da personalidade. "O interesse é total porque elas estão no momento de criar raiz. São muito atentas, interessadas e curiosas", diz Cássia.
O resultado prático é visto na maneira de lidar com as finanças. Segundo um estudo do Banco Mundial sobre o projeto piloto da AEF no ensino médio, houve aumento de 1% do nível de poupança dos alunos participantes.
"Parece um número pequeno, mas é significativo porque mostra que o jovem tomou alguma atitude", afirma Silvia.
Acesso ao conteúdo
Pais e mestres interessados podem ter acesso aos materiais dos programas. No caso do projeto de Cássia D Aquino, há 15 anos o conteúdo foi transformado na coleção Educação Financeira, com quatro livros.
Há situações, exemplos e informações que podem ser usadas nas salas de aula.
O material do programa da AEF está disponível gratuitamente na internet, inclusive os livros dos professores. Até fevereiro, 2.175 pessoas já haviam feito o cadastro.
Além de escolas, estudantes e pais acessaram os livros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Exame
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