Ela fez um revisão de toda a música folclórica brasileira, brilhou como cantora do rádio e lutou pelo lirismo que agonizava.
Luís Antônio Giron, do cmais+
Inezita Barroso (Imagem: Reprodução)
Inezita Barroso passa à história como uma das maiores pesquisadoras e animadoras do folclore musical brasileiro, divulgadora das tradições sonoras de todos os cantos do país. Foi também uma das grandes estrelas do rádio – e diva insuperável da canção brasileira em São Paulo. Uma artista universal que cantou todos os gêneros essencialmente brasileiros, fundados nas práticas populares mais genuínas.
Ela não foi apenas a “defensora da música caipira”, como ficou conhecida por causa do programa Viola, Minha Viola – que apresentou por longo tempo ao lado de seu criador, o jornalista Moraes Sarmento. É certo que o mercado sertanejo lhe deve muito porque ela ajudou a definir o produto e balizar o seu público. Inezita elevou a música sertaneja, em especial a caipira, à condição de clássico popular brasileiro. Também o fez com a música do Nordeste e do Sul. Gravou e divulgou cocos, baiões e toadas nordestinas. Foi fundamental na consolidação das tradições gaúchas, ao estudar e gravar dois LPs de danças gaúchas, em 1956 e 1961, obras-primas do gênero.
Sim, a paulistana Inezita é considerada uma estrela gaúcha, até porque ela ajudou a evidenciar a relação visceral entre o folclore paulista (em especial o da região de Sorocaba) e o ciclo do fandango gauchesco. No início do movimento tradicionalista gaúcho, ela estava a postos para defender a importância de uma música desprezada, tão desprezada como o eram a catira, o congado e a toada de São Paulo. Foi ela que traçou o parentesco entre o xótis venerável do Sul com o xótis nordestino. Ela associou o cateretê ao vanerão e outros ritmos de festa dos fandangos do Rio Grande. Foi ela que demonstrou a centralidade da música caipira paulista na formação musical do Brasil.
Como a colonização começou por São Paulo, foi de lá que partiram as músicas que inseminaram os folclores do Nordeste, do Centro-Oeste e do Sul. Esta foi a sua contribuição mais importante: ter levantado o tesouro maior da música brasileira em todos os quadrantes, apontando as origens e as manifestações mais relevantes, ao mesmo tempo em que formulou uma explicação sobre os fundamentos da identidade nacional, fundada na variedade e na miscigenação.
Sem a ação dela no cinema, no rádio e na televisão para a divulgação de um patrimônio que abarca o Brasil, não teríamos a música sertaneja que conhecemos hoje – e que se tornou nos últimos anos a corrente principal da música popular brasileira. Inezita foi o avatar da atual pujança do segmento sertanejo.
No entanto, ela não se limitou a pesquisar e divulgar. Destacou-se como estrela do rádio. Em 1953, lançou o seu segundo disco de 78 rotações, pela Sinter (dois anos antes, havia lançado o afro-brasileiro "Funeral de um Rei Nagô" e a canção amazônica "Curupira"). No lado A, trazia o samba "Ronda", de Paulo Vanzolini. No lado B, “A moda da pinga”, de sua autoria, na verdade uma evocação das velhas modas caipiras do início do século XX, lançadas a partir de 1929 por Cornélio Pires. “A moda da pinga”, apesar de não parecer, era obra de uma estudiosa devotada do folclore – é uma composição de resistência cultural, que chamava a atenção para uma arte que agonizava. As duas canções se tornaram as marcas simbólicas de sua carreira: de um lado, a canção popular brasileira mais culta; de outro, a música folclórica, desprezada pelas elites até que ela mostrasse o seu valor. As duas facetas estão no programa A Voz Popular que a Rádio Cultura produziu sobre a arte de Inezita Barroso.
Teria sido mais fácil para ela assumir o estrelato como diva radiofônica, pois era uma moça de família de São Paulo que circulava nas rodas mais cultas da cidade. Impressionava pelo charme e pela voz potente de contralto, pelo violão bem ponteado, pelo gosto musical exato. Mas ela optou pelo caminho mais complexo, o de investigar as bases das culturas do Brasil. Ela se inseriu em um movimento que já vinha desde os anos 1920, com o Modernismo, de levantamento e valorização do folclore brasileiro. Não foi por acaso que ela nasceu em uma casa na rua Lopes de Oliveira, na Barra Funda, vizinha à casa de Mário de Andrade, o líder do Modernismo e idealizador do movimento de renovação do folclore. Ainda menina, quando aprendia canto e piano, ela admirava e se espelhava em Mário de Andrade.
De 1951 a 2013, Inezita foi incansável em um trabalho do qual ela não desviou nem sequer um semitom: artístico, acadêmico e saudosista. Isso porque possuía um discurso articulado e uma metodologia rigorosa, talvez decorrente de sua formação universitária. Era formada em Biblioteconomia. Tocava violão e piano, Sabia música como poucos na área popular.
Inezita Barroso é um verbete importante da enciclopédia musical brasileira. Foi a mais alta e verdadeira encarnação da voz popular no Brasil. Seria impreciso e injusto associá-la unicamente à música sertaneja.
Fonte: Portal Cmais+ / TV Cultura
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