Estudantes que guardam os sábados chegarão aos locais de prova às 13h, mas só vão responder as questões às 19h
Diz-se que o Enem é um teste de resistência. Os 69.396 inscritos como guardadores do sábado por motivos religiosos sabem bem disso. Por só poder começar o exame após o pôr do sol, os sabatistas precisam chegar às 13h ao local de prova, como os demais candidatos, e ficar confinados até as 19h, quando começa a aplicação para eles. Se usarem as 4h30m permitidas para resolver as 90 questões, ficam trancafiados quase 11 horas.
Sobretudo para judeus ortodoxos, com muitas restrições devido ao shabbat, fazer o exame de sábado é uma prova da fé. A direção do Colégio TTH Bar-Ilan, em Copacabana, pede há dois anos que os locais de prova de seus alunos sejam próximos de suas residências, pois eles não podem usar meios de transporte no dia. Apesar de grande parte da colônia judaica morar no bairro da Zona Sul do Rio, os candidatos foram alocados na Praça Onze.
A solução encontrada pela escola e pelos pais foi hospedar os alunos num hotel na Avenida Presidente Vargas desde sexta-feira para que possam fazer um trajeto menor a pé, de 20 minutos. Mas nem todos resistem. Daniel Youssef, de 18 anos, fez o Enem como treineiro em 2013 e teve que subir oito andares de escada, pois os judeus não podem usar elevador nem qualquer coisa que interfira em energia elétrica no shabbat. Este ano, concorrendo para Medicina, ele não se inscreveu como sabatista:
"É muito complicado. Temos que acordar cedo para rezar, almoçamos às 11h30m, um empregado do hotel precisa abrir a porta do quarto, que é de cartão magnético, e um funcionário da escola nos ajuda a levar o material para a prova e os lanches, pois não podemos carregar coisas. Vamos jantar tarde, e, no dia seguinte, mais provas. É cansativo."
Segundo o Inep, a distribuição pelos locais de aplicação é feita segundo critérios de logística e de segurança que respeitem a isonomia entre os candidatos.
Alunas do 3º ano do Colégio Adventista de Jacarepaguá, Tatyana Machado, Sara Junker e Ágatha França (foto) farão o Enem no mesmo prédio dos judeus. Com menos restrições, os adventistas não enfrentam problema com deslocamento e usam o tempo de espera para rezar e cantar louvores.
"Deu até para tirar um cochilo. Cantamos e fizemos o culto do pôr do sol adventista. Quando nossa fé é colocada à prova, é um testemunho que a gente dá", diz Tatyana, de 17 anos, que quer fazer Nutrição.
Ágatha lembra os casos de jovens que se inscreveram como sabatistas por engano.
"Em 2013 teve um garoto em pânico chorando. Outro começou a gritar e xingar dizendo que nem sabia o que era sabatista. E dois gêmeos marcaram a opção sem querer e queriam ir embora. Nós os convencemos a ficar."
Fonte:O Globo
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