Em feira de tecnologia, alunos de Etecs e Fatecs de SP apresentam projetos que resolvem problemas do cotidiano com ideias criativas
Um carrinho de compras inteligente, uma cadeira de rodas para o ambiente urbano e um aplicativo de alimentação saudável. Com soluções para muitos problemas do dia a dia, a 8a edição da Feira Tecnológica do Centro Paula Souza apresentou 244 projetos desenvolvidos por alunos das Etecs (Escolas Técnicas) e Fatecs (Faculdades de Tecnologia) do Estado de São Paulo.
Os trabalhos apresentados na feira são reflexo de uma formação voltada para a integração entre o cotidiano e o conhecimento científico, como explica Lucília Guerra, responsável pelo Centro de Capacitação Técnica, Pedagógica e de Gestão do Centro Paula Souza. “É você extrair do aluno o potencial de achar soluções para os problemas que a gente tem no dia a dia”, defendeu. Segundo ela, isso faz com que o estudante consiga se tornar um profissional mais criativo e inovador.
Foi a partir desse olhar para o cotidiano que surgiu uma ideia na Etec de Perus, região noroeste de São Paulo, que propunha tornar mais simples a tarefa de fazer compras no supermercado. Desenvolvido como trabalho de conclusão do curso de eletrônica, os alunos Bruno Tavares, 25, Ronaldo Ferreira, 22, e Tiago dos Santos, 30, criaram um carrinho de compras inteligente.
Ele usa uma tecnologia que substitui o código de barras por um microchip e consegue somar o valor dos produtos inseridos pelo consumidor. Um visor mostra o valor total da sua compra. Se ele desistir de levar algum produto, basta retirá-lo para que o valor seja subtraído. De acordo com o aluno Tiago dos Santos, isso ajudaria a reduzir o tempo de espera na fila, pois o cliente já sabe quanto vai pagar antes mesmo de chegar ao caixa.
O aluno do curso de projeto mecânico Emilson Bonjorno, 47, da Etec Professor Aprígio Gonzaga, na Penha, zona leste de São Paulo, também desenvolveu o seu projeto com base em uma observação do dia a dia. Ao ver a dificuldade que os deficientes físicos tinham para se locomover na cidade, ele elaborou uma cadeira de rodas autoestabilizadora. “Percebi que poderia fazer alguma coisa para ajudar”, disse.
Com um sistema de amortecimento dinâmico, a cadeira de rodas não transfere as imperfeições do piso e, durante subidas e descidas, o assento não se inclina, garantindo maior conforto. Edmilson já trabalhava como mecânico de manutenção e procurou o curso de projeto para se aperfeiçoar. Segundo ele, isso ajudou a pensar de forma mais prática. “O ensino técnico abre muito a mente do aluno. Na parte de projetos, você tem um leque enorme. Uma ideia, que antes não tinha tanto valor, pode se tornar em algo fabuloso.”
Uma das vantagens do ensino técnico, conforme destacado por Lucília Guerra, é de oferecer um ambiente de aprendizado bastante dinâmico, onde o aluno pode vivenciar a articulação entre a teoria e a prática, de forma semelhante ao que acontece no mercado de trabalho. “A aprendizagem baseada em projetos vem, justamente, nesse socorro de que o aluno consiga fazer as experiências dentro de um projeto que ele pode errar e começar de novo.”
“Na verdade, a inovação que a gente pode observar na educação, especificamente dentro do Centro Paula Souza, é a de tentar respeitar o repertório dos alunos. Você parte do interesse dele para aplicar conhecimentos que são essenciais durante a sua formação”, afirmou Lucília.
Os vários acidentes envolvendo motociclistas ocasionados por cortes de linhas de pipa serviram de inspiração para o projeto de Carlos Alberto Ferreira, 38, aluno da Fatec Thomaz Novelino, em Franca, no interior do estado. Ele teve a ideia de começar a pesquisar sobre materiais que evitassem o problema e, ao lado do colega Jeferson Balbino, 20, fez um protetor de pescoço que arrebenta a linha com o atrito, impedindo que o motorista sofra lesões. “Eu já percebia essa necessidade. Durante o percurso, quando demos início ao trabalho, também conversamos com uma pessoa que sofreu um acidente e isso nos motivou a continuar pesquisando”, lembrou Carlos Alberto.
De acordo com Lucília Guerra, do Centro Paula Souza, projetos como esses, que foram expostos durante a feira, mostram que os alunos estão com um olhar muito aguçado para as dificuldades que encontram no dia a dia. “Você não precisa de um milhão de dólares para ser criativo.” Diante das ideias apresentadas, o papel do professor muda e ele passa a trabalhar próximo ao aluno para o alinhar a viabilidade. “É dar foco para que o aluno consiga tirar o maior proveito dessa solução que ele está propondo.”
A dupla Jorge Miguel, 17, e Larissa Cavalcante, 17, da Etec Nova Odessa, munícipio no oeste do estado, resolveu unir o cuidado com a saúde e a dependência da tecnologia para criar um aplicativo simples, ao mesmo tempo funcional. Alunos do ensino médio integrado ao técnico de informática, eles desenvolveram o Vida em Movimento, um sistema que permite fazer o controle diário da alimentação e os exercícios físicos praticados. Segundo Larissa, o curso técnico teve um papel fundamental no desenvolvimento desse projeto. “Ele exercita a sua mente para sair da zona de conforto e buscar soluções novas”, contou.
E não foram apenas os estudantes que estão matriculados nos cursos técnicos que se arriscaram a colocar em prática as suas invenções. Três alunos do ensino médio da Etec Piedade, interior de São Paulo, ficaram sabendo da feira de tecnologia e também decidiram elaborar um projeto. David Henrique, 16, Lincon Munhoz, 15, e Paulo Roberto, 16, apostaram na criação de uma bicicleta ecológica com bambu. De acordo com David, a ideia era valorizar o meio ambiente e aproveitar o momento em que estavam sendo realizados investimentos em ciclovias na cidade. “A oportunidade incentiva a gente a tomar uma atitude.”
A 8a Feira Tecnológica do Centro Paula Souza foi realizada de 21 a 23 de outubro, no Expo Barra Funda, zona oeste de São Paulo. O evento contou com a participação de alunos e professores de 122 Etecs e 42 Fatecs, além de um público estimado de 20 mil pessoas.
Fonte: Porvir
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