O estudante Richard Martim iniciou o ensino médio vislumbrando cursar faculdade de música, mas ao final mudou de ideia e agora vai se tornar professor de física. A razão disso foi a dedicação do seu próprio mestre de física André Tato, que despertou o talento de Richard, ao repassar conteúdos além dos estabelecidos no currículo.
André Tato leciona física no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro e, desde 2007, coordena um grupo de alunos para o aprendizado de astronomia e participação nos eventos da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). Ele conta que as atividades do grupo não valem nota para a disciplina e consegue reunir por volta de 35 alunos.
“Conseguimos fazer um debate civilizado sobre astronomia e a única coisa que ganha é o conhecimento, que vai além da questão conteudista”, diz Tato, explicando que aqueles com mais potencial formam uma equipe mais focada em olimpíadas.
O professor conta que o aluno Richard Martim foi medalhista da OBA em 2009 e 2010 e medalha de ouro na Olimpíada Latino-Americana de Astronomia, em 2010, na Colômbia. “Chegou a um ponto em que não consegui acompanhar o aprendizado dele e tive que passá-lo para outro professor mais especializado”.
E foi durante esse trabalho de orientação que Tato acabou sendo o exemplo. “O conhecimento extrapola muito o do ensino médio, então a gente vê que pra se formar na faculdade é um pulo. Muitos colegas se formaram como bacharéis em física e eu preferi seguir a carreira acadêmica, muito inspirado no trabalho do André Tato”, disse Richard, que está no quarto ano de licenciatura em Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para o futuro professor, é preciso uma mudança no ensino da ciência. “As escolas têm uma meta muito restrita, preparam muito só para o vestibular, fazem sua propaganda em cima do número de alunos aprovados. Mas quando o ensino está focado no ser humano, no cidadão, a visão de mundo dos alunos muda e esse tipo de ganho é que vai despertar o interesse profissional”.
Enrick Magalhães, também ex-aluno de André Tato, diz que não encontrou outro professor que se comparasse a ele em termo motivacionais. “O que o Tato faz é louvável, ele faz com que a galera que não quer estudar física se interesse, gasta o tempo dele e não ganha nada mais por isso. A experiência para mim não vai render profissionalmente, mas teve um apelo tão forte que foi insubstituível na minha vida, me faz ser uma pessoa melhor”, disse Enrick, que faz faculdade de Desenho Industrial.
Para o professor João Batista Garcia Canalle, do Instituto de Física da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, astrônomo e coordenador nacional da OBA, é uma satisfação encontrar professores que extrapolam o que se vê. “O professor não pode ser um burocrata, ele precisa ir além do trabalho em sala de aula, envolver os alunos no que está acontecendo a sua volta”.
Assim como André Tato, a professora Maria Salete Battilani, que leciona ciências, química e física na Escola Estadual Antônio de Almeida Prado, em Iepê (SP), também vai além e coordena vários projetos e viagens com os alunos, organiza e participa de encontros de astronomia com os professores da região, prepara os estudantes para a OBA e é uma entusiasta do conhecimento científico.
“Ela é uma pessoa fora do normal, a melhor professora que já tive, incentiva os alunos, é uma amiga e dou muita força para ela. Por ser professora de uma escola pública, sem muitos recursos, o que ela faz não é pouco”, disse o estudante Rafael Engel Ducatti, ex-aluno de Salete.
Segundo o professor Canalle, a professora Salete faz um trabalho exemplar. “Ela tem iniciativa, e os alunos respondem participando dos eventos que ela organiza. São exemplos como esse que gostaríamos de ver em toda escola, um professor que faz muito mais”.
A prova deste ano da OBA está marcada para o dia 16 de maio, e as inscrições para escolas ainda não participantes já estão abertas.
Fonte:
Agência Brasil
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