Uma criança de espírito curioso pode se perguntar: será que é justo uma pessoa de pé pequeno pagar o mesmo preço por um sapato do que uma pessoa com o pé maior? Ou um jovem que acabou de se matricular na academia pode querer saber: quanto tempo será que eu preciso correr para queimar as calorias daquele hambúrguer de ontem? Foi com esse tipo de pergunta, nascida de dúvidas da vida real, que o norte-americano de origem síria Karim Ani conseguiu chamar a atenção de seus alunos e ajudar os que tinham mais dificuldade. Sua abordagem deu tão certo que atraiu a atenção de muitos colegas e, para compartilhar com mais gente as lições que inventava, criou a Mathalicious, cujo método é premiado nos EUA.
“A verdade é que a matemática nada mais é que é uma linguagem”, afirmou Ani, que tem tentado mudar a forma como a matéria é apresentada aos alunos, ao site Porvir. “Abra um livro de matemática, qualquer um. Tudo parece irrelevante, quando, na verdade, é justamente o contrário”, lamenta ele, que cita números devastadores para a matemática: nos EUA, 61% dos alunos prefeririam levar o lixo para fora de casa do que fazer o dever de casa de matemática. Para lutar contra isso, Ani gasta boa parte de seus dias transportando o que de fato acontece no mundo para o currículo de um jeito criativo. “Oferecemos um novo jeito de ver o mundo, meio como o Sherlock Holmes. Fazemos os alunos perceberem como a matemática está envolvida com tudo na vida, mostramos sua utilidade”, diz o professor, que foi considerado pela publicação especializada Education Week um dos jovens líderes dos EUA que estão transformando a educação.
Além do paradigma do sapato e do custo-benefício do hambúrguer descritos acima, ele já escreveu aulas sobre se é justo o corredor Usain Bolt competir com pessoas de diferentes pesos e estaturas, sobre a velocidade dos videogames e sobre rodas da fortuna. Tudo isso devidamente correlacionado com o que se espera que os alunos aprendam em diferentes etapas do ensino fundamental 2 e ensino médio, com material de apoio ao professor e descritivo de atividades. “O Mathalicious faz perguntas abertas de maneira que os alunos entendam os problemas e se sintam empoderados a desenvolver suas próprias estratégias para resolvê-los. Os estudantes devem justificar seus métodos e conclusões e avaliar a validade dos argumentos dos colegas”, explicam os educadores responsáveis pelo material no site.
Essas adaptações renderam ao site o segundo lugar em um concurso feito neste ano pela cidade de Nova York, o NYC Challenge App, que procurava os melhores aplicativos de educação. O prêmio fez a procura pelo site crescer. Mas, para Ani, o sucesso do Mathalicious se deve muito ao fato de ser uma ferramenta para o professor. “Eu senti na pele o que acontece em sala enquanto fui professor. Dar aula é uma atividade muito desgastante. Nem sempre você tem tempo de preparar a melhor aula”, disse ele. Com a falta de tempo para pensar em atividades estimulantes, os professores acabam optando por seguir o livro-texto e o que se vê a partir daí é um círculo vicioso: os alunos não se engajam no que está sendo exposto, os professores têm mais dificuldade de gerir a sala de aula e não se cria um ambiente positivo para o aprendizado.
Hoje, as lições estão disponibilizadas no site Mathalicious.com e podem ser compradas tanto por professores individualmente quanto por redes inteiras. Para os professores, a equipe do site oferece três preços e o educador escolhe quanto pode pagar: US$ 10, US$ 15 ou US$ 20 dólares por mês. Cada um decide conforme suas possibilidades. Nos três casos, as lições são exatamente as mesmas. Para escolas e redes inteiras, o acesso anual ao material custa US$ 185 por professor. Além de poder ser usado em instituições de ensino, a equipe também estimula que o material seja usado em casa. “Nós acreditamos que aprender matemática é um processo social”, afirmam os educadores, em tom bem humorado, no site.
A ideia de tratar a matemática de um jeito leve e divertido se reflete também no nome da plataforma. “Todo mundo me pergunta se Mathalicious é uma mistura de matemática [mathematics] e delicioso [delicious]. Mas não é. É baseada em uma dupla de hip-hop com letras muito positivas chamada Blackalicious”, diz Ani, que chega a arriscar algumas palavras em português. Antes de fundar o Mathalicious, ele passou uma temporada no Brasil para entender o que queria fazer da vida. Ao voltar para os EUA descobriu que a sua praia, além das da ilha de Itaparica, era ensinar. “Podemos encontrar matemática na música, na poesia. A matemática está em tudo”, resume.
Fonte: Porvir
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