O Brasil amarga a primeira colocação no ranking de países que mais consomem crack no mundo, aponta um estudo divulgado neste ano pela Universidade Federal de São Paulo. Enquanto os índices parecem crescer assustadoramente no país, parecem faltar iniciativas mais incisivas, sobretudo nas escolas, que trabalhem a conscientização de crianças e adolescentes.
Essa preocupação levou a Secretaria de Desenvolvimento Social de Direitos Humanos a pedir para a Unicap (Universidade Católica de Pernambuco) um estudo científico sobre o crack. A universidade topou o desafio e decidiu ir além: criar também jogos, em parceria com a faculdade de jogos digitais, para criar games gratuitos que instruam e ajudem crianças de comunidades de baixa renda no combate ao consumo da droga, partindo de situações do dia a dia.
“Nossa intenção é servir como uma outra fonte de informação, uma outra porta de entrada que pode ter influência positiva na vida da criança. O papel da família é imprescindível para evitar que os jovens se envolvam com as drogas. No entanto, todo combate à prevenção feito hoje é pouco, precisamos que mais e mais seja feito”, afirma Lucas Alencar, 22, graduado em jogos digitais no ano passado pela Unicap e um dos criadores dos games.
A iniciativa, que surgiu por meio do Projeto de Enfrentamento ao Crack da Secretaria de Desenvolvimento Social de Direitos Humanos, foi desenvolvida por três professores e quatro universitários da Unicap, que se dividiram para realizar a pesquisa, o webdesign e a arte dos games As Aventuras de Biu Biu e Desafios da Vida. No último dia 18, os jogos educativos foram apresentados na Campus Party Recife, evento que reuniu inovações na área da tecnologia, internet e entretenimento eletrônico.
Os jogos são destinados a crianças de 7 a 11 anos e estão disponíveis gratuitamente no site da Unica. Porém a ideia é que eles ganhem escalabilidade no estado, sendo usados em projetos sociais e organização sem fins lucrativos. Para chegar a mais estudantes, sobretudo de regiões mais vulneráveis da capital pernambucana, em parceria com o Governo Estadual de Educação, os jogos serão levados a escolas de regiões vulneráveis. Somente no estado, segundo levantamento do Ministério de Saúde, há mais de 30 mil usuários de crack.
De acordo com Alencar, durante a criação dos personagens, que contou com o apoio de psicólogos e outros especialistas, houve a preocupação de não retratar os personagens por meio de estereótipos. “Pensamos em não colocar, por exemplo, a figura de um traficante com essas ou aquelas características, porque as crianças poderiam associá-las ao seus pais, tios ou outros familiares. Decidimos adotar personagens neutros.”
No primeiro game, As Aventuras de Biu Biu, o jogador passeia pelas ruas de uma bairro de vila e precisar ir à padaria, levar um colega para fazer compras ou organizar um encontro com amigos no parque. Para avançar de fase, tem que driblar os chamados Senhores Cracks, que vão tentar oferecer a droga aos jogadores.
Já no segundo jogo, Desafios da Vida, os personagens fictícios João e Maria passam por diferentes estágios da vida, lidando com questões de saúde, família e estudos. Como uma espécie de analogia ao crescimento das crianças, que, primeiro, precisam se divertir no parque, depois ajudar nos afazeres de casa e, por fim, estudar para ter uma profissão. No entanto, para alcançar esses estágios, vão sendo apresentados obstáculos nos quais o jogador precisa se atentar para não se desviar de seus objetivos. “No meio do caminho, há coisas que trazem danos, uma delas é a pedra do crack. Caso o jogador toque nela, automaticamente o mouse começa a mexer com um sinal de que está fazendo algo errado, ou seja, se entrar nesse caminho pode perder o rumo de suas metas”, completa Alencar.
Fonte: Porvir
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1 José Carlos Abrão Avaliador do SINAES - Ribeirão Preto
Consideraçõs sobre o uso da mídia no E.Fundmental
Segundo o texto, tratase de jogos destinados a crianças de 7 a 11 anos, portanto em séries do Ensino Fundamental. As minhas breves reflexões fixarseão neste quadro didáticopedagógico, embora o texto comporte outras considerações. Inicialmente destaquemse as boas intenções dos organizadores, incluindo também os de apoio interdisciplinar, em construir meios e estratégias tecnológicos para enfrentar o crescimento assustador em Pernambuco e também no Brasil do consumo de crack. Ressaltese que se trata de um recurso para consumo do mercado em geral, por assim dizer, e em particular às escolas de Ensino Fundamental principalmente as públicas. Enfim, tratase de um recurso semelhante ao de um livro didático qualquer doado ou não por instituições públicas. Vou me ater aos desdobramentos deste elemento que faz parte de um conjunto de outros que permeiam a complexidade ensinoaprendizagem. Assim, Indo diretamente ao conteúdo do 2o. vídeo, com base no texto, ali são colocados em destaque dois personagens, JOÃO e MARIA. São personagens extraídos da memória coletiva e histórica burilados pelos Irmãos Grimm e que, no recurso midiático, têm a missão de tomarem decisões de caráter ético: a preservação da vida diante de um mal social o consumo de crach. E aqui chego a um ponto cujos desdobramentos levam a um caminho que se afasta das intenções dos organizadores deste recurso midiático. Se eu fosse um professor de ensino fundamental hoje e tivesse que ser convidado a usar esse recurso em sala de aula, eu me recusaria numa atitude semelhante àquela ocorrida recentemente por parte de uma professora de 9a. série do Colégio Militar de Porto Alegre. Ela foi afastada da sala de aula por ter feito críticas ao livros didático que foi imposto pela direção da escola é claro que tem toda uma estrutura militar atrás da direção. Tratavase de livro de História que defendia o golpe militar de 64 e ela deixou claramente aos alunos que este livro não abrangeu toda a História, ou seja, entre outras decisões, a morte e a perseguição de centenas de brasileiros. A professora recorreu junto à Justiça Federal e foi reconduzida à sala de aula. No caso de João e Maria utilizados nos vídeos , eu vejo um contrassenso em relação aos personagens da história dos Irmãos Grimm. Neste caso João e Maria se livram da bruxa através da morte em ação em que Maria empurra a bruxa no tacho de água fervendo. E este é um dos momentos do conto em que a criançada de hoje costuma vibrar. Sutilmente os autores dos vídeos conservam os nomes sem qualquer recurso que os liguem à tradição históricooral para que professores e alunos criem a sua própria oralidade diante de um contexto atual ligado à disseminação do crack em que eles possivelmente não saibam ou se omitem diante do quadro social, econômico e policial do consumo e do tráfico de crack. Nestes últimos anos tenho encontrado com exalunos da Pedagogia que hoje lecionam em escolas públicas de Ensino Fundamental de periferia no Estado de São Paulo. Resumindo: há professores/as que conhecem principalmente os alunos que consomem ou traficam o crack. Sobre isso esses e dezenas de outros professores são levados ao silêncio porque sabem que suas vidas correm risco. Será que em Pernambuco o quadro ensinoaprendizagem, incluindo sobretudo os alunos e alunas é diferente do que ocorre nas escolas públicas estaduais paulistas? Neste caso, então, o tráfico por parte destes alunos pode ter outra implicação: o de levar dinheiro para casa... mas, de qualquer forma eles não têm autonomia, pois estão ligados a uma grande rede... Não podemos nos esquecer de que João e Maria dos irmãos Grimm levam para casa dos pais jóias que estavam em poder da bruxa...
30/07/2013 16:26:13
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