O que pode ser mais complexo para a educação, num país de mais de 50 milhões de estudantes matriculados no Ensino Fundamental – como é o caso do Brasil –, do que pensar em reformulação de currículo escolar em grande escala? Ao mesmo tempo, o que pode ser mais ameaçador para a autonomia de uma nação, em termos de economia, do que ignorar as demandas de formação dos jovens em uma sociedade pautada, como em nenhuma outra época, pelo desenvolvimento tecnológico baseado em sistemas computacionais?
Para alguns pesquisadores, esse segundo questionamento se impõe a qualquer outro e por isso reformas urgem, como defende o britânico Wolfran Conrad, que clama por um novo modelo de currículo para a matemática tendo a computação como base “de tudo”. Ele hoje viaja de país em país conversando com governos sobre o quanto isso é fundamental e já emplacou, no início deste ano, na Estônia, a primeira experiência de política pública de computer based math.
A grande mudança em relação à aula de matemática “padrão” que se tem hoje é que em vez dos intermináveis cálculos voltados somente a resolver equações, os alunos teriam outras atividades e desafios, pois a tarefa de calcular passa a ser delegada ao computador. Conrad e seus pares defendem que os estudantes passam muito tempo “apenas calculando” e, ainda, calculando expressões muito simples. “No tempo em que você faz um cálculo à mão, você pode fazer 20, 30 no computador, e explorar ali cálculos mais complexos. Além disso, poder realizar muitas outras atividades relacionadas à matemática a partir desses cálculos, como programar e pensar, depois, como programar para resolver problemas reais”, diz ele.
No Brasil, computação não faz parte do currículo nacional a não ser por meio das aulas de informática, embora se tenha notícia de escolas no país que, de alguma forma, a contemplam na perspectiva da matemática, seja por meio da robótica, de atividades de programação por meio de softwares etc. As que se dispõem a abrir esses espaços respondem, de forma alinhada à cultura digital, aos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Definidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) explicitam que “a aprendizagem na área de ‘Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias’ indica a compreensão e a utilização dos conhecimentos científicos para explicar o funcionamento do mundo, planejar, executar e avaliar as ações de intervenção na realidade”.
O “computer based math” trata disso, o que sinaliza que há convergências entre essa linha e o que se propõe hoje, no papel, para o Brasil, embora, na prática, nenhuma iniciativa de política pública ainda utilize a computação como base para a matemática em escolas brasileiras.
Computador para a expansão
A professora de matemática e pesquisadora gaúcha Aline Bona, embora não tenha exatamente transformado o currículo junto a seus alunos, inovou na metodologia com algumas experimentações e é a favor de mais computação na educação. “Precisa entrar mais [computação] nas disciplinas, pois a forma como a gente pensa quando usa a máquina como suporte realmente é outra e expande as possibilidades”, afirma.
Ela acabou de defender a sua tese de doutorado, pelo Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação/UFRGS, e está concorrendo ao Prêmio Capes Teses 2013 com o que escreveu a partir das experiências de aprendizagem de matemática que seus alunos tiveram com o uso do computador. “Eu postava problemas on-line, em um grupo do Facebook, e eles tinham autonomia para resolver, para decidirem como calcular. Eles calculavam, inclusive usando a máquina, resolviam as questões, e iam além, muitas vezes trazendo outros questionamentos”, diz.
“Certa vez fizemos um exercício que abordava um parque eólico, como o cálculo se tornou, ali naquele ambiente, uma atividade mais livre e até coletiva, eles passaram a questionar por que as hélices no parque eólico não são circular, e sim em formato de ‘Y’, e isso já gerou outras atividades”, conta a professora, reforçando, com exemplos, a teoria que Wolfran Conrad defende ser a base da matemática do presente e do futuro.
Fonte: Porvir
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