Qual
a diferença entre aurora boreal e aurora austral? Por que os
felinos roncam? Por que os dinossauros foram extintos? Inquietos com
questões como essas, os alunos do quinto ano da Escola
Municipal Catulo da Paixão Cearense, em Caxias do Sul, Rio
Grande do Sul, reviraram livros, revistas e a internet para descobrir.
Não só aprenderam, como vestiram jalecos de
cientistas para dar aulas aos colegas.
O projeto pedagógico Pesquisadores Malucos –
Trabalhando com o Método Científico, criado pelo
professor Willian Daniel Hahh Schneider, 23 anos, surgiu com perguntas
dos próprios alunos, que têm de 10 a 12 anos de
idade. A primeira etapa constou da escolha das perguntas. Os estudantes
foram posteriormente divididos em seis grupos de quatro.
“Eles foram estimulados a achar hipóteses para as
perguntas, de acordo com o conhecimento prévio”,
explica Willian.
A terceira etapa do método científico foi a
pesquisa em livros, revistas e na internet. Em seguida, os alunos foram
orientados a documentar todas as etapas das pesquisas no
laboratório de informática. Ele usaram o software
conhecido como wiki, que pode ser baixado gratuitamente. A quinta etapa
constou da preparação de material
didático, como cartazes e maquetes. A sexta e
última foi a apresentação do trabalho
aos demais colegas de sala de aula. “Todos os alunos
receberam jalecos brancos para se transformar em cientistas
malucos”, conta o professor. “Quem trabalha com
conhecimento é um pouco maluco, não é?
E quem não é um pouco maluco não
é normal hoje em dia.”
Com formação em biologia e acostumado a pesquisar
em laboratório, o professor revela que o projeto surgiu para
desenvolver pesquisas com os alunos do quinto ano e, assim, responder
às perguntas, passando por todas as etapas de um
método científico. “No final, muitos
não encontraram uma resposta concreta”, afirma.
“Para explicar a origem das estrelas, por exemplo,
há a teoria criacionista, de Deus, e a teoria
científica, do bigue-bangue, que teria dado origem ao
universo.” Inclusão — O
projeto de pesquisa teve o mérito de incluir todos os
estudantes. Na sala do professor Willian, em 2012, havia três
alunos com deficiência: uma cega, um com baixa
visão e altas habilidades e um com síndrome de
Asperger e dificuldade em conhecimento matemático, mas com
domínio na área de ciência.
“A síndrome é um tipo de autismo, mas
ele responde a qualquer pergunta da disciplina”, ressalta o
professor. “Ele se interessa por ciência.”
Esse estudante foi incentivado a apresentar como ocorre o aquecimento
global e o efeito estufa. E o aluno com altas habilidades usou vinagre
e bicarbonato de sódio para demonstrar como um
vulcão entra em ebulição.
“Era tudo o que ele queria”, diz o professor.
A aluna cega cantou a música Lindo Balão Azul, de
Guilherme Arantes. De acordo com o professor, a estudante emocionou
alunos, professores e pais. Ela participou do grupo que pesquisou sobre
o surgimento das estrelas. “Por que fazer tanto? Quando a
gente vê a turma pró-ativa e disposta a colaborar
para atingir os objetivos, a solução vem em forma
de outra pergunta: então, por que não fazer
tanto?”, destaca Willian.
O surgimento de mais perguntas deve motivar a continuidade dos
cientistas malucos na escola. “Eles querem bis, e isso
é muito bom”, afirma Willian. Ele está
entre os 40 professores de escola pública que tiveram os
projetos pedagógicos premiados em 2012 pelo
Ministério da Educação. “Vou
continuar com o projeto, com outras perguntas”, garante.
“O mundo não é movido pelas respostas,
mas pelas perguntas.”
O professor acredita que os estudantes captaram a ideia. “A
resposta vem e desencadeia outra pergunta, e a ciência, como
o método científico, sempre evoluiu dessa
forma.”
Rovênia Amorim
Fonte:
MEC
(http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=18478).