O
idioma guarani será disciplina obrigatória no
curso de letras, artes e mediação cultural da
Universidade Federal da Integração
Latino-Americana (Unila). Terá dois anos de
duração e começa a ser oferecido neste
ano para todas as turmas.
De acordo com a coordenadora da implantação da
disciplina, Alai Diniz, diversos fatores motivaram a Unila a
desenvolver o projeto. Primeiro, porque o idioma guarani é
falado em quatro países da América do Sul
– Paraguai, Bolívia, Argentina e Brasil
– que estão entre as nações
de atuação da universidade, além de
ser língua oficial do Paraguai desde 1992, junto com o
espanhol, e língua oficial do Mercosul, desde 2007.
No Brasil, explica, o idioma é falado em
municípios dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul,
Mato Grosso, Paraná e São Paulo. Outra
razão citada pela coordenadora é o
caráter versátil e integrador da universidade.
O estudo do guarani, segundo Alai, começa como disciplina
curricular obrigatória no curso de letras, artes e
mediação cultural, mas dentro de uma
década deve abrir um campo de pesquisas que vai interessar a
estudantes e profissionais da América do Sul. A nova
disciplina será ensinada pelo professor Mário
Ramão Villalva Filho, mestre em
Integração da América Latina pela
Universidade de São Paulo (USP), e graduado em
língua guarani, no Paraguai, pelo Ateneo de Lengua y Cultura
Guaraní. Villalva foi aprovado em concurso
público da Unila e começa trabalhar neste
semestre.
Barreiras – Mas até tornar obrigatório
o estudo do guarani no curso de letras da Unila, Alai Diniz diz que foi
preciso vencer algumas barreiras entre professores e estudantes da
instituição, debate que durou cerca de dois
meses. Entre os alunos, a principal pergunta era por que aprender
guarani, língua que eles consideravam sem interesse
profissional e de abrangência reduzida.
Um dos instrumentos usados para esclarecer dúvidas e mostrar
a importância da língua na história da
maior parte do continente sul-americano foi a abertura de um curso de
extensão ministrado em 2011. O curso foi coordenado por um
estudante da Unila, com graduação em guarani.
Segundo Alai, que também fez a extensão
universitária, ao final da formação os
estudantes mudaram a concepção que tinham da
língua. Para encerrar o curso, a turma encenou uma
peça de teatro no idioma guarani que foi apresentada a
estudantes e professores na universidade.
Integração – Elemento de
integração social e de defesa, o guarani foi
fundamental na resistência dos combatentes durante a Guerra
do Paraguai (de 1864 a 1870), enfrentamento que envolveu o
país e a Tríplice Aliança formada por
Brasil, Argentina e Uruguai. Neste episódio, explica Alai,
os paraguaios se valeram da língua materna, então
desconhecida pela maioria dos opositores, para construir
estratégias e enfrentar o exército. Na Guerra do
Chaco (1932-1935), conflito armado que envolveu o Paraguai e a
Bolívia, o guarani também foi fundamental.
O quéchua, idioma falado por grupos étnicos em
diversos países na região dos Andes, e o
aimará, que predomina no Peru, Bolívia, Chile e
Argentina, são os próximos idiomas a serem
oferecidos aos estudantes da Unila.
A professora Alai é doutora em letras (língua
espanhola e literatura espanhola e hispano-americana) pela Universidade
de São Paulo (USP), pós-doutora pela
Universidade de Granada, na Espanha, e professora visitante
sênior na Unila.
Unila – Instituição de ensino superior
criada por lei em janeiro de 2010, a Universidade Federal da
Integração Latino-Americana tem sede em Foz do
Iguaçu (PR). Além de estudantes brasileiros, a
instituição recebeu até 2011 alunos
vindos da Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia e
Peru. No processo seletivo de 2012, também ingressam em
cursos superiores estudantes da Colômbia, Venezuela, El
Salvador, Nicarágua e Haiti. As matrículas do
primeiro semestre devem ser feitas até esta sexta-feira, 2,
e as aulas começam no dia 12 deste mês.
Ionice Lorenzoni
Fonte:
MEC
(http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17555).