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Em SP, 76% dos formandos em medicina erram questão básica de emergência - 27/05/2009 10:32:54

Se uma criança chegasse a um pronto-socorro com traumatismo, suas chances de ser atendida por um profissional que não está totalmente seguro sobre o que fazer são de 76%. Esse foi o percentual de estudantes saídos do sexto ano do curso de medicina que não sabiam que "lesões traumáticas de medula são raras na criança".

Essa era uma das 120 questões de um exame que o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) aplica a recém-formados desde 2005. Em 2008, a prova contou com 679 participantes, cuja adesão foi voluntária.

O mau desempenho dos graduandos na prova - 61% deles foram reprovados já na primeira fase - é apenas um dos sintomas de como vai (mal) a saúde brasileira.

"Os estudantes não sabem resolver problemas básicos e comuns", adverte Braulio Luna Filho, conselheiro do Cremesp. A entidade está lançando uma campanha pela "carteirinha" de médico, que tornaria obrigatório um exame de conhecimentos para o exercício da profissão.

Na edição 2008 da prova, 93% dos alunos erraram a questão sobre como proceder com uma gestante de 30 semanas que chegasse com aumento brusco de peso - 2 kg em uma semana. Ginecologia e obstetrícia, ao lado de pediatria, é uma das áreas mais desconhecidas dos estudantes.

Outra das 120 questões com alto índice de erro foi sobre quando suspeitar de caso de tuberculose - 56% dos jovens médicos não sabiam dos sintomas da doença, um caso de saúde pública. Para registro: a resposta correta seria "tosse com expectoração por três ou mais semanas, febre, perda de peso e de apetite; paciente com imagem radiológica compatível com tuberculose".

Mais de metade dos avaliados também desconhecia em que condições uma paciente HIV-positiva poderia ter o parto vaginal liberado.

Segundo a publicação do Cremesp, "Exame do Cremesp: uma contribuição para a avaliação do ensino médico", os graduandos que compareceram à segunda fase do exame da instituição fazem parte da elite econômica do país. Eles "têm em média 24 anos e são brancos na grande maioria. (...) A maior parte dos graduandos mora com os pais, não trabalha e 28% têm renda familiar mensal acima de 30 salários mínimos. (...) Cerca de 88% cursou o ensino médio em escola privada e mais de 80% fizeram cursinho".

Na pesquisa, os recém-formados avaliaram as faculdades em que estudaram. "De acordo com o questionário, 75,6% dos alunos disseram que seu curso poderia ter sido um pouco ou muito mais exigente. No ano de 2007, essa porcentagem estava em 64,1%, o que permite concluir que os cursos diminuíram ainda mais seu nível de exigência, segundo os alunos", descrevem os pesquisadores.

Mais de metade deles (52%) têm aulas teóricas em classes com 71 a 100 alunos. Para 33%, a supervisão dos professores foi "inadequada ou insuficiente". Para mais de um terço dos alunos, os equipamentos dos laboratórios estavam "mal conservados ou desatualizados".

O Cremesp faz questão de ressaltar: "Deve-se observar que o expressivo número de alunos, na segunda fase do Exame do Cremesp, provém de escolas que são consideradas como as melhores e mais tradicionais do Estado de São Paulo".

Diante do quadro, o Cremesp começa, nesta segunda, uma campanha institucional para tornar obrigatória uma prova de conhecimentos para o exercício da medicina. A entidade defende que os médicos tenham uma carterinha de exercício profissional, assim como os advogados têm carteirinha da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

"Queremos fazer uma avaliação terminal [ao final do curso]; isso no Brasil é crucial", defende Luna Filho. "Os médicos [formados em São Paulo] não conseguem resolver problemas básicos de clínica médica, pediatria, ginecologia e obstetrícia e cirurgia geral", completa.

Questionado se este diagnóstico dos futuros profissionais poderia se estender ao restante do país, Luna Filho responde: "Temos mais um Estado, o Espírito Santo, aplicando a prova nos mesmos moldes e a situação é a mesma". (UOL)

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