A Semana - Opiniões
Reflexões sobre o mundo do trabalho
O que se espera do trabalhador do futuro...
• "Olhando pelo lado positivo, empregadores estão contratando funcionários com níveis cada vez mais elevados de educação, e os empregos estão demandando ainda mais sofisticação e aperfeiçoamento. De acordo com o Bureau of Labor Statistics (Escritório de Estatísticas sobre o Trabalho), 34% dos trabalhadores adultos nos Estados Unidos possuem algum curso de pós-graduação, crescimento de mais de 29% em relação há 10 anos. Indo além, os modernos locais de trabalho não mais se parecem com a linha de produção das fábricas e sim assemelham-se a estúdios de design, onde os valores principais e básicos são a colaboração e a inovação e não o trabalho repetitivo e alienado. Pessoas talentosas são muito demandadas no mercado..." (Which way to the Future, artigo de Michael Mandel, para a Revista BusinessWeek, 20-27 de Agosto de 2007)
Educação, pesquisa, aprofundamento, conhecimento das novas tecnologias e domínio de línguas estrangeiras são fatores essenciais para atingir o sucesso profissional. E o topo depende essencialmente da relação inteligente que temos que fazer entre todos esses fatores de nossa formação em nossas vidas pessoais e profissionais. Criatividade vale ouro e para conseguir chegar lá o caminho é longo, duro e tortuoso, ou seja, cheio de pedras e espinhos...
O que quero dizer com isso? Em termos individuais significa muito estudo pelo resto de nossas vidas... No que se refere ao coletivo, pensando-se em país... Significa que ou melhoramos realmente a qualidade da educação no país ou então estamos fadados ao apagão da mão de obra prevista por executivos, estudiosos, especialistas...
E como fazer isso? Que tal começar estimulando as indústrias criativas, como propõe Gilson Schwartz?
• "São criativas as indústrias que têm sua origem na criatividade, competência e talento individuais e que têm um potencial de geração de riquezas e empregos pela criação e exploração de propriedade intelectual" definiu, em 2001, o Departamento de Cultura, Mídia e Esporte da Inglaterra. Sucede que, em inglês, o termo industry é ambíguo, vai além da manufatura e usualmente designa setor. Os setores intensivos em criatividade seriam, portanto, a publicidade, a arquitetura e as artes, assim como o design, a moda, o audiovisual (cinema, TV, rádio, fotografia), a produção de software, jogos de computador, conteúdo digital, música, espetáculos e outros conteúdos." (Indústrias Criativas, texto de Gilson Schwartz, para a revista Época Negócios, Edição nº 7 - Setembro de 2007).
Schwartz e a revista Época Negócios podem abordar o tema criatividade o quanto quiserem, tratam-se no caso, de uma pessoa e de uma publicação que esbanjam qualidade não só quanto ao assunto, mas, em especial, também no que tange a criatividade por si. A despeito do elogio, vale mencionar que criatividade é essencialmente uma característica que não depende da genética (se bem que isso também pode ajudar) e sim do estudo, leitura, pesquisa e esforço individual para que qualquer pessoa possa aprofundar seus conhecimentos, criar sinapses entre os conhecimentos que desenvolve, amadurecer os saberes e tornar-se cada vez mais e mais criativo...
Outro passo essencial é integrar de vez as novas tecnologias ao cotidiano, explorando ao máximo o potencial das mesmas e sempre acompanhando os avanços que surgirem.
• Blogs, sites de relacionamento, fotologs, videoblogs e podcasts são instrumentos que, por meio da Internet, são compartilhados e criados de forma colaborativa. Além disso, câmera digital, celular e cinema itinerante também são ferramentas cada vez mais acessíveis às pessoas. Segundo especialistas, as tecnologias digitais atuais acenam como possibilidade para a democratização cultural. (Novas mídias possibilitam democratização cultura, disponível no portal Aprendiz, no link http://aprendiz.uol.com.br/content.view.action?uuid=d1ea5e2f0af4701001fe571fedaa7b46).
Não há como negar que as tecnologias vieram para ficar e que estão determinando um novo ritmo de estudos, trabalho, pesquisa, produção e compreensão do mundo em que vivemos. Nesse sentido as palavras acima, extraídas de uma matéria do prestigiado portal Aprendiz (do jornalista Gilberto Dimenstein, da Folha de São Paulo) apenas reiteram e reforçam o assunto a partir das falas de especialistas no assunto.
Torna-se imperativo, no entanto, que as pessoas entendam isso como parte do mundo em que vivemos, que utilizem essas ferramentas com maior constância e que, em especial, dêem a esses recursos roupagens inteligentes e úteis, capazes de melhorar a vida cotidiana de todos. Temos que explorar blogs, fotoblogs, videoblogs e podcasts - postando mensagens, idéias, relatos do cotidiano, notícias, pesquisas, pensamentos, imagens e vídeos sempre que quisermos e pudermos, mas não podemos abrir mão da qualidade daquilo que estamos escrevendo - sejam nossas memórias, relatos pessoais, diários de bordo ou artigos jornalísticos e teses acadêmicas. Enriquecer pela quantidade não é suficiente, o debate ganha quando além de um aumento real no número de produções, também a qualidade é prezada e estimulada!
Não podemos, no entanto, desprezar o fator humano, aquele que nos faz solidários e nos aproxima no esforço diário que fazemos por um mundo melhor. A globalização não pode e não deve nos distanciar e nos fazer, apenas, agentes de conglomerados e corporações, indiferentes as pessoas, as culturas, aos países e ao próprio planeta Terra...
• "O mercado em escala mundial (distante de compreender toda a troca comercial) não integrou os países e as pessoas, nem poderá fazê-lo, devido aos baixos níveis de competitividade de que muitos partem. É claramente insuficiente. As desigualdades na saída não podem produzir mais do que desigualdade acentuada no caminho e na meta. A globalização não pode ficar limitada a uma ligação entre "os de cima", deixande de fora "os de baixo". Trocar bens e produtos cria laços de interdependência (também de dependência), mas não gera per se relações pessoais, laços de solidariedade, compartilhar ilusões e projetos, compreensão e respeito pelo outro, etc. A sociabilidade tem que se apoiar em outras interdependências, em formas de integrar os sujeitos em atividades e projetos comuns." (SACRISTÁN, Gimeno. A Educação que ainda é possível: Ensaios sobre uma cultura para a educação. Porto Alegre: Artmed, 2007)
A globalização criou laços que unem os países e que, também ocasionaram a diminuição das distâncias e a agilização dos transportes e da comunicação. A base de toda essa realização está diretamente ligada à questão dos laços comerciais que unem as nações.
Produzir alhures, comercializar mundialmente, cortar custos, encontrar melhores opções de matérias-primas, utilizar mão de obra mais barata e, principalmente, aumentar as possibilidades de vendas entrou na pauta das nações com enorme ênfase nos últimos 20 anos.
O que não foi aperfeiçoado, no entanto, foram as relações humanas entre essas mesmas nações. O que se quer é dinheiro, cada vez mais e maiores lucros. Se para isso é necessário apertar as mãos de outras pessoas, de diferentes culturas e origens, sempre com um sorriso no rosto para expressar cordialidade e simpatia - assim será feito... Mas até que ponto estamos nos preocupando em criar um mundo onde os laços de solidariedade e de humanismo possam sobressair nesse universo onde os negócios estão sempre em primeiro plano?
Sacristán traz a tona essa preocupação que compartilho. As relações de dependência ainda existem e, paralelamente a elas, também surgiram e estão se consolidando laços de interdependência. Temos que atentar, porém, para a desigualdade dos pares... Há países muito ricos e outros apenas remediados, há alguns em desenvolvimento acelerado e tantos outros que estão afogados em problemas ainda básicos, relativos à sobrevivência (como a produção de alimentos, o analfabetismo, a poluição ambiental,...).
E esses pares desiguais, que dançam ao som de ritmos completamente distintos, pisam continuamente uns nos pés dos outros... Acertar o ritmo dessa valsa (ou samba, rock, pop music, tango,...) exige muito mais do que cifras e investimentos (também muito necessários), demanda consenso, debate, ação e entendimentos em prol não apenas de interesses mesquinhos, localizados ou setorizados - mas globais, que redundem em benefícios e melhorias para todos...