Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Lições do mundo empresarial
A escola que ensina é a que aprende sempre

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Trabalho em equipe

Destaco e comento a seguir algumas declarações extraídas do depoimento de Fernando Tigre, executivo da Alpargatas, "que transformou a Havaianas em grife mundial" à revista Época Negócios, (edição n° 4, de junho de 2007):-

• "Uma companhia aérea pode ter os melhores aviões, as melhores rotas, os melhores pilotos, os melhores diretores, mas, se a moça do check-in tratar mal o cliente e a aeromoça for antipática, você perdeu tudo."

Estou no mercado de trabalho há um quarto de século e não posso deixar de afirmar que a colocação de Tigre é de um tremendo bom senso. Não é necessário aprofundar-se em teorias clássicas ou nas mais recentes teses da administração para chegar à conclusão que qualquer atividade desenvolvida pelos seres humanos depende não apenas de perícia técnica, alto grau de conhecimento na área, equipes profissionais e envolvidas com os processos, tecnologia de ponta ou infra-estrutura de suporte se não tivermos por parte das pessoas que trabalham na empresa o necessário cuidado com os clientes que atendemos. 

E quando falamos em cuidado queremos mais especificamente dizer atenção, simpatia, presteza e respeito. Nas escolas não é diferente... A relação professor-aluno tem que ser pautada em autoridade e respeito a evidente hierarquia, mas não devem faltar aos mestres os elementos que tornem o convívio agradável e humano...

• "Quando você entra num lugar, encontra três tipos de pessoas. Há aquelas que estão com você porque querem mudanças. Há as que fingem querer mudar, mas no fundo não querem. E, finalmente, as que estão sempre contra, derrotistas."

Creio que não existam apenas esses três tipos de pessoas, trata-se evidentemente de uma simplificação feita pelo executivo. No entanto, no que se refere a objetivos de uma empresa essa caracterização é bastante fortuita. E deve ficar claro que, no contexto do mundo do trabalho, infelizmente o primeiro grupo, aquele focado nas mudanças e que faz de tudo para implementá-las é o menor dos três. As pessoas estão sempre mais preocupadas com aquilo que lhes é imediato do que com projeções e trabalhos que tenham relação com o futuro...

Na educação o cenário é bastante parecido. Há idealistas que batalham por alterações que pensam e sabem ser muito prementes, há os pseudo-reformadores que até pensam nas teses que gostariam de fixar na “Catedral de Edimburgo” (como Martinho Lutero, na Reforma Religiosa da Idade Moderna), mas que ficam apenas no discurso e na crítica sem que atuem no sentido das modificações necessárias e, por fim, há os arautos das derrotas que ainda vão chegar e que fazem força para que isso aconteça ao se manterem no imobilismo e no tradicionalismo...

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Sonhos e Ideais

• "Sempre gosto de ter algum sujeito meio louco na equipe, aquele que você tem de amarrar senão ele fica voando a 100 metros de altura. Prefiro segurar a ter de empurrar alguém ladeira acima."

Sujeitos de alma livre, inconformados com o que observam ao seu redor, em busca de respostas para dilemas que os afligem e que não tem medo de tentar mesmo que isso acarrete erros e insucessos. Pessoas que irão errar algumas vezes, mas que em algum momento acertarão e que com isso trarão inovações e realizações importantes para si e para todos. Gente que não tem medo do trabalho, que gosta de desafios e que literalmente quer voar... Eu também prefiro estar ao lado deles do que de conformistas e derrotados que somente aguardam o tempo passar esperando a aposentadoria do emprego e, pior ainda, da própria vida...

Robert Wong, um dos mais importantes e destacados head-hunter, ou seja caça-talentos na área executiva, também deixou algumas pérolas para serem pensadas por todos, inclusive pelos profissionais da educação (selecionadas a partir de entrevista dada a Revista Época Negócios, n°4, de junho de 2007):-

• "As empresas de sucesso têm alma. Refiro-me à alma como uma energia contagiante que o líder transmite para suas tropas - e isso pode acontecer mesmo que sua personalidade não se confunda com a do produto. Martin Luther King não disse em tom monocórdio: ´Eu quero que o cidadão negro tenha os mesmos direitos que o branco´. Ele gritou entusiasmado: ´I have a dream! I have a dream!´ Empolgou as pessoas com isso".

Nenhum projeto em nossas vidas pode ir para frente se as pessoas que estiverem envolvidas com o mesmo não se dispuserem a literalmente entrar de corpo e alma no mesmo. Pessoas que procuram apenas empregos e salários e que não se mostram dispostos a trabalhar com muita vontade e a dar de si o melhor em termos de criatividade e envolvimento estão fadadas ao fracasso e podem até mesmo ocasionar a falência de um empreendimento, em qualquer área, se não for logo detectada sua presença nadando na contracorrente... 

Em educação há abnegados sonhadores que, como Martin Luther King ou Ghandi, têm levado adiante seus sonhos e dado sangue por essas realizações. Nadam contra uma maioria que apenas freqüenta as escolas para bater cartão e receber os vencimentos no final do mês. Tentam a todo custo empolgar e envolver também essas pessoas derrotistas e acomodadas, mas a mudança não ocorre a partir de elementos externos (eles podem auxiliar na transformação) e sim a partir dos próprios indivíduos.

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Liderança

• "Ele (o líder) tem de ter três qualidades principais. Primeiro, tem de ter o desejo de liderar. Segundo, tem de ter sempre vontade de se superar, porém, com o foco no bem comum. Não é se superar apenas para si. O cara que ganha só para o seu bolso, isso é fácil. O cara que ganha para o bem comum, esse é o verdadeiro líder. E, terceiro, ele tem de ter autoconfiança. Mas sem afrontar as pessoas, sem dizer ´eu sou o bom´".

Liderança boa é obtida de forma espontânea, natural, sem que as pessoas percebam. O líder não precisa se impor como tal, ele obtém destaque por sua coerência e pertinência quanto a idéias e realizações. Bons líderes não precisam ficar lembrando as pessoas de suas qualidades, elas aparecem a todo o momento e são facilmente perceptíveis aos olhos de todos. São pessoas que, apesar das qualidades que possuem, se mostram sempre com os pés no chão, demonstram respeito no trato com todos, são autossuficientes, mas humildes o suficiente para contar com o auxílio dos demais, valorizam o esforço alheio, tem um olhar amplo que lhes permite ir além do óbvio e do imediato e, apesar de profissionais esmerados, não perderam a essência humana.

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