Diário de Classe
Uma câmera na mão e várias idéias na cabeça...
Projeto de Produção de Vídeos de 5 minutos
Nossos alunos mudaram. O mundo ao nosso redor modificou-se. Isso nos leva a crer que as transformações também devem ocorrer no universo escolar. Não há outra alternativa, a não ser modificar a forma como a escola trabalha e estabelece seus vínculos e relações com os seus clientes diretos e indiretos para que a instituição não apenas sobreviva, mas também para que ela se revigore e demonstre estar preparada para os desafios do novo milênio que começou há pouco.
A reformulação/reestruturação das escolas pede, portanto, a atualização de suas práticas, projetos pedagógicos, estruturas de funcionamento, materiais e equipamentos, planejamentos, currículos e, diga-se de passagem, até mesmo da postura assumida pelos profissionais que atuam nas escolas.
Num primeiro momento, por exemplo, é de essencial importância compreender os novos tempos e como as pessoas com as quais lidamos se modificaram em função do contexto atual. Globalização, novas tecnologias, integração de mercados, políticas públicas, questão ambiental, regionalismos, educação permanente, acirrada competição nos mercados internacionais e outras temáticas não podem passar despercebidas pela escola.
E nem, tampouco, a certeza de que as novas gerações, que já nasceram num contexto marcado pela presença maciça dos computadores, da internet, das transmissões em tempo real, da televisão via satélite ou cabo e de tantas outras tecnologias que unem diferentes mídias e alternativas de apresentação de idéias, precisam ser compreendidas para que sejam devidamente incorporadas ao trabalho nas escolas.
Não estamos fazendo corretamente a lição de casa. Sabemos da intensa, acelerada, vívida e, por vezes, dolorosa metamorfose pela qual passa o mundo. Assistimos televisão, nos plugamos na rede mundial de computadores, lemos jornais e revistas... Estamos atualizados quanto à informação, mas que uso fazemos de tudo aquilo que ficamos sabendo?
Discutir as idéias e produzir um roteiro são etapas importantes do processo de criação.
Por exemplo, uma das constatações de pesquisadores dos mais diversos países, inclusive do Brasil, refere-se ao fato de que as novas gerações de habitantes do planeta são eminentemente visuais. E o que isso significa? Que devemos trabalhar leitura, produção de textos, interpretação de literaturas específicas de cada disciplina e, ainda, de preferência, que os ensinemos a realizar com constância o pensamento interdisciplinar, já que falta aos nossos alunos do presente momento que vivemos o interesse e o preparo para lidar com esses materiais.
No entanto, significa também que devemos e podemos aproveitar o interesse e a riqueza dos aspectos visuais para tornar nossas aulas mais interessantes, estimulantes e provocativas aos olhos dessas novas gerações com as quais trabalhamos. Incorporar filmes, propagandas, videoclips, apresentações em powerpoint, produções em softwares como o Movie Maker ou estimular o trabalho com fotografias passa a ser mais do que uma sugestão... Tornou-se uma necessidade.
Isso me faz recordar a célebre frase de um de nossos mais famosos e festejados cineastas, o baiano Glauber Rocha (diretor de filmes que marcaram época como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” ou “Terra em Transe”). Quase como predizendo o surgimento dessas gerações tão ligadas ao poder da imagem, Glauber vaticinou que para criarmos precisaríamos apenas de “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”, ainda no início da década de 1970. Hoje, com a popularização dos equipamentos digitais, cujos preços tornaram-se acessíveis a uma boa parcela da população, a frase passou a ter mais sentido e pode, inclusive pautar projetos a serem desenvolvidos nas escolas.
Pensando nessa possibilidade, que penso ser aplicável a qualquer nível de ensino, inclusive a educação infantil e ensino fundamental do primeiro ao quinto ano (com as devidas adequações e orientações por parte dos professores que trabalharem com esses níveis), criei e desenvolvi um projeto de produção de vídeos de 5 minutos a serem produzidos por duas turmas de estudantes com as quais trabalhei.
“Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça.” Glauber Rocha parecia estar prevendo o que estamos vivendo hoje, com o surgimento de gerações tão ligadas ao visual.
Nesse artigo da coluna “Diário de Classe” trago as orientações que dei aos estudantes e alguns comentários sobre os resultados obtidos e convido outros professores a elaborar, recriar e repensar para seus contextos e clientelas essa eficiente e produtiva estratégia de trabalho. Confiram a seguir:
Projeto de Produção de Vídeos de 5 minutos
Há toda uma necessidade prévia de planejar, estruturar o trabalho, verificar locais onde a filmagem possa acontecer, dividir responsabilidades, atribuir funções e, principalmente, de entrosar o grupo, para que a produção aconteça.
Resultados: Tivemos as produções entregues no prazo previsto, com a utilização dos recursos pedidos (3 grupos optaram pelo uso do Movie Maker e apenas um concentrou-se na utilização de recursos de uma câmera de celular para realizar a gravação). As etapas preconizadas para o desenvolvimento do projeto foram seguidas, ou seja, num primeiro momento os grupos reuniram-se para discutir a leitura dos capítulos e as idéias principais destacadas por cada um; posteriormente tiveram a preocupação de pensar como poderiam trabalhar esses princípios numa produção filmada; escolheram as ferramentas assim que o roteiro já estava criado; sentiram dificuldades com a nova linguagem, mas se divertiram bastante (conforme me disseram) com o desafio; perceberam o quanto é difícil sintetizar e colocar em 5 minutos de vídeo, de forma a tornar atraente a produção, idéias de um livro ou texto; apresentaram as produções cientes de que, com mais tempo poderiam ter feito um trabalho melhor e que, certamente, esse novo aprendizado poderá ser muito útil para eles em outros momentos de suas histórias de vida pessoal e profissional.