Cinema na Educação
Tainá, Uma Aventura na Amazônia
Pela salvação da floresta e respeitando as crianças
Até muito recentemente a produção cinematográfica brasileira devotada ao público infanto-juvenil pouco produzia além dos filmes dos Trapalhões ou da Xuxa. Levando-se em conta toda a popularidade desses verdadeiros ícones da televisão e as possibilidades reais de retorno financeiro na produção de filmes que os tivessem como protagonistas, entendem-se muito bem os motivos que fizeram com que os produtores dedicassem tanto tempo e dinheiro na realização de longa-metragens desses artistas. Na maioria dos casos, porém o resultado acabava sendo uma adaptação para as telas de idéias e práticas executadas diariamente ou semanalmente nos programas televisivos desses personagens ou personalidades. Pouco ou nada era acrescentado em termos culturais ao imaginário de nossas crianças e dos adolescentes.
Sempre se pensou no Brasil, entre os cineastas, que cinema é coisa muito séria. Concordo plenamente com isso (não devemos deixar de ver que a sétima arte também é uma forma de lazer!). Por isso, a produção para crianças e jovens sempre foi relegada a segundo ou terceiro planos. Queria-se falar para os adultos.
Pretendia-se conscientizar as pessoas das questões sociais, dos posicionamentos políticos ou de intrincados conceitos sociológicos e culturais. As crianças não compreendem isso e, além do mais, elas pouco podem fazer em benefício de mudanças para o Brasil. Acabam se esquecendo que o amanhã é terreno muito mais fértil a qualquer transformação se pudermos permitir maior consciência e esclarecimento a nossas crianças e nossos jovens a partir de hoje, de agora!
Investir fichas em filmes voltados para esse público específico dando-lhes material de qualidade, que estimula a inteligência e diverte ao mesmo tempo é de fundamental importância. Não dar-lhes elementos que confundem infância e adolescência com incapacidade de compreensão é, igualmente, primordial. Respeito é bom e, as crianças e os jovens sabem muito bem disso! Sucessos recentes direcionados a esse público, provenientes da produção internacional, demonstram que a criançada quer aliar ao prazer de ir ao cinema, a inteligência, a curiosidade, a busca pelo saber ("Monstros S.A.", "Shrek" e "A Era do Gelo" aliam velocidade, informação, crítica e muito bom humor, do jeito que esse público deseja).
No Brasil, recentemente, tivemos a oportunidade de ver um filme voltado para a garotada que tinha esse perfil. Trata-se de "Tainá, Uma Aventura na Amazônia" dos diretores Sérgio Bloch e Tânia Lamarca. A despeito de não contarmos com equipamentos e recursos técnicos que permitam equiparar nossos filmes aos norte-americanos, cabe-nos as possibilidades da criatividade e da imaginação. Foi o que pudemos observar em termos desse filme.
"Tainá" nos conta a história de uma indiazinha (a Tainá do título, vivida pela menina Eunice Baía) que mora na floresta Amazônica com seu avô. Como todos os outros habitantes desse incrível meio ambiente, ela e o avô parecem totalmente a vontade entre a vasta vegetação e a rica fauna que os rodeia. Eles aparentam ser parte integrante desse local, integrando-se sem ofendê-lo, sem agredi-lo; utilizando-o sem a voracidade do mundo capitalista, respeitando-o, preservando-o. Já há nessa orientação inicial uma novidade para os pequenos, os índios e a floresta são apresentados de forma diferenciada, não como selvagens, não sendo violentos, não sendo vistos como perigosos, o modo como usualmente são caracterizados. Quem poderia deduzir da figura de Tainá outros pensamentos que não os de pureza e harmonia? Mesmo o avô da menina, está a milhas de distância dos ferozes indígenas que nossas crianças acreditam existir no interior de nossas matas.
A idéia de coexistência pacífica entre homem e natureza é outra dica fundamental do filme. Ao apresentar os índios como elementos que conseguem se estabelecer no seio da floresta amazônica sem que ocorram agressões ao meio ambiente, sem que espécies vegetais desapareçam, sem que os animais da região corram riscos, desperta-se a atenção dos pequenos espectadores para a ecologia e proteção ambiental.
Corre-se certo risco no filme com a apresentação dos cientistas estrangeiros ávidos por capturar um tipo específico de macaco. Apesar de tipos caricatos (bem nos moldes dos referidos Trapalhões), a idéia de que todo cientista ou todo estrangeiro constituem riscos para os índios e para as florestas pode causar idéias errôneas entre a criançada. Será que não vale a pena abrir uma discussão a respeito desse tema com a garotada? Afinal de contas, será que todos os cientistas são realmente meio maluquinhos? Os estrangeiros em relação ao Brasil só pensam em aumentar seus lucros explorando os recursos locais? Não existem pessoas bem intencionadas nas universidades e nos centros de pesquisa fora do Brasil (e mesmo aqui)?
Visualizar a riqueza do território amazônico, sem dúvida alguma um dos maiores patrimônios do mundo em que vivemos e, particularmente dos brasileiros, é outra oportunidade dada pelo filme. Estudar os macacos, as cobras, as onças. Trabalhar com os mapas da região, a vegetação local, os rios. Entender as culturas indígenas e suas diferenças em relação ao nosso mundo (como no caso do contraste entre Tainá e o menino Joninho). Valorizar a floresta e lutar pela preservação dos rios amazônicos. Todas essas possibilidades podem aflorar a partir do trabalho com o filme. As crianças já perceberam, nós também podemos chegar lá. Assista e confira!
Ficha Técnica
Tainá, Uma Aventura na Amazônia
País/Ano de produção:
Brasil, 2000
Duração/Gênero: 90 min.,
Infantil/Drama/Aventura
Disponível:- VHS e DVD
Direção de Tânia Lamarca
e Sérgio Bloch
Roteiro de Cláudia Levay e Reinaldo
Moraes
Elenco: Eunice Baía, Caio Romei, Rui
Polanah, Jairo Reis,
Luis Carlos Tourinho, Beth Erthal e Branca
Camargo.
Links
- http://www.adorocinema.com/filmes/taina/taina.htm
- http://www.taina.com.br
(site oficial)
- http://epipoca.uol.com.br/filmes_critica.php?idf=1624