Planeta Educação

Diário de Classe

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Lições da cozinha
Coluna Diários de Classe

Pizza

Queijos e pizzas podem nos ensinar matemática. Aprender história com ajuda do arroz e feijão torna a tarefa muito mais interessante. Peixes, aves e carnes vermelhas são elementos que certamente irão nos fazer entender melhor um pouco de ciências. Geografia com o apoio de frutas e vegetais é muito mais gostosa. Artes ou filosofia acompanhadas de bifes com batatas fritas podem nos levar a muita inspiração e divagação...

Os alimentos estão no centro das atividades humanas desde sempre, ou seja, por necessitarmos dos mesmos para sobreviver, desde que surgimos nesse planeta nos ocupamos dos mesmos e tentamos não apenas incorporá-los as nossas dietas... Também queremos entendê-los, dividir ou multiplicar cada uma das espécies que descobrimos, equacionar e racionalizar seus usos para nosso maior e melhor prazer, mapear suas origens para saber onde encontrá-los e, de certa forma, compreender a nossa própria existência com o auxílio daquilo que nos serve de comida.

Nesse sentido os alimentos podem ser norteadores de inúmeras atividades e projetos a serem desenvolvidos de forma regular em nossas escolas. Sabemos, a propósito, que isso já acontece em inúmeras unidades educacionais pelo país afora e, o que pretendemos é apenas sugerir algumas atividades e pedir aos professores que acessam o Planeta Educação que socializem os seus bem-sucedidos projetos para que a conversa seja ainda mais saborosa e atenda aos mais diversos paladares.

Uma das mais disseminadas práticas percebidas nas escolas no que tange ao trabalho com os alimentos são as hortas cultivadas pelos alunos sob a orientação dos professores. Existindo um espaço disponível no âmbito da escola, não tenham dúvida, estabeleçam um diálogo na sala dos professores, criem uma estratégia de trabalho dividindo as responsabilidades entre as várias disciplinas e grupos de alunos e, com base num projeto bem estruturado, que seja condizente com a realidade local e com o currículo de cada turma, conversem com a direção para que os planos saiam do papel e abasteçam as aulas e as merendas locais.

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Hortas escolares podem envolver ainda mais os estudantes no estudo de ciências, matemática, história, geografia,... além disso, ajudam a reforçar a merenda escolar.

Isso mesmo, além de ajudar em suas aulas, o contato e manutenção das hortas pelos estudantes, sempre monitorados pelos educadores de sua escola, pode ainda reforçar a merenda e torná-la muito mais saudável.

Nesse ínterim os professores devem pensar em realizar projetos que levem os estudantes a estudar, entre outras particularidades das espécies produzidas na horta escolar, temas como:

• O conhecimento sobre as técnicas e recursos de produção... Os períodos mais apropriados para o plantio; as melhores formas de preparação da terra; os nutrientes necessários para que as plantas se desenvolvam adequadamente; a utilização de materiais de base orgânica para que a produção local seja o mais saudável possível para a composição da merenda; a época certa para a colheita desses vegetais,...

• Informações sobre o que está sendo plantado... Que tipos de alimentos estamos produzindo? Quais são suas características mais marcantes? De que forma esses produtos auxiliam no crescimento e desenvolvimento de nossos corpos? Esses alimentos são ricos em que tipos de nutrientes?

• Dados sobre a origem desses alimentos... Vieram de quais países? São típicos do Brasil? Como são trazidos para cá? De que forma a origem influencia o preço para o comércio? Como tais vegetais são consumidos em outras nações?

• Além das informações científicas, históricas ou geográficas... Há referências em obras literárias sobre esses alimentos? E na arte, existem pinturas ou outras formas de expressão que trabalham os alimentos? Como esses recursos retratam a relação entre a humanidade e os alimentos?

• A matemática pode ajudar também... Monitorando o crescimento dos vegetais, verificando o quanto de economia o consumo desses alimentos representa para a escola, acompanhando o volume de alimentos colhidos, pesando e avaliando por medições a qualidade do produto, simulando feiras virtuais através das quais essa produção poderia ser vendida,...

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Como se faz o vinho? De onde vem os melhore produtos? O clima pode auxiliar na obtenção de safras superiores em qualidade? Qual é a história desse produto chamado de néctar dos deuses?

E não é só a horta que pode ajudar nossos alunos a aprender com o auxílio dos alimentos... Estudos sobre alimentos industrializados também podem ser enriquecedores. Como se faz o vinho? Em indústrias e produção artesanal há diferenças notáveis que influenciam a qualidade, a quantidade, o preço, o reconhecimento do produto pelos especialistas e pelo mercado,...

Gráficos e tabelas sobre o consumo de vinho podem ser pesquisados, a palavra dos produtores possibilita a compreensão do processo produtivo, as variedades de uvas teriam que ser identificadas para explicar o surgimento de produtos distintos disponibilizados no mercado,... O mesmo poderia ser feito com laticínios, carnes, cereais, sucos, refrigerantes, sorvetes, chocolates,...

O resgate da história desses alimentos e de sua relação (mais ou menos estreita) com a humanidade também ajudaria a compreender os motivos que nos levam a consumir, rejeitar, promover, produzir, vender ou comprar os gêneros que fazem parte de nossas listas de supermercado e feiras livres. A propósito, visitas a estabelecimentos que comercializam, industrializam ou a fazendas produtoras também constituem atividades que muito acrescentam ao conhecimento dos alunos.

Outra boa alternativa de trabalho refere-se à busca de informações sobre os alimentos depois de trabalhados pelas cozinheiras e chefs... Receitas tradicionais explicam nossas origens, ajudam a mapear a cultura de nossas regiões e de diferentes países, permitem que cada povo preserve seus valores e identidades, demonstram como muitas vezes estamos sofrendo processos poderosos de aculturação através da alteração de hábitos alimentares,...

O que podemos dizer ao certo é que há várias alternativas de trabalho com alimentos a serem pensadas e colocadas em prática nas escolas. Desde trabalhos em laboratórios de ciências, passando pelas hortas, reunindo as turmas na cantina da escola para a produção de receitas, levando todos a visitas a indústrias ou fazendas, motivando os grupos a lerem jornais e revistas especializadas, fazendo com que a própria internet se torne fonte de receitas que irão auxiliar na melhoria dos cardápios escolares e familiares.

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Quais são os alimentos saudáveis? De que forma podemos estimular os nossos alunos a consumir verduras, frutas e legumes? É possível combater a epidemia de obesidade que assola o planeta? Questões como essas podem e devem fazer parte dos projetos com alimentos nas escolas...

Até mesmo hábitos de consumo podem ser ensinados em nossas escolas. Se seus alunos não estão habituados a comer frutas ou verduras, que tal trabalhar com eles as propriedades fundamentais desses alimentos para o crescimento e a boa saúde? Fígado ou jiló geram enorme rejeição na sala de aula, desmistifique o sabor, proponha alternativas de cozimento que podem ajudar a melhorar o gosto final desses alimentos, ponha um pouco de química nessas receitas...

Um bom estudo acerca dos hábitos de consumo no Brasil e no mundo atual nos informa que sabemos o que deve ser consumido, no entanto, a cada novo nascer do sol, nos alimentamos cada vez menos da forma correta e equilibrada que preconizamos... A mudança deve acontecer, num primeiro momento, a partir de nós mesmos, adultos conscientes e “vacinados” que somos, para que depois, com o auxílio da educação e do exemplo que possamos transmitir, atinja também as novas gerações...

O que não devemos perder de vista, no entanto, é que comer bem é uma arte que depende da ciência e que orientada pela matemática, esclarecida pela geografia ou explicada pela história... Pode ser ainda melhor! Bon apetit!

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