Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Brasil, o país da impunidade?
Editorial

Cena de jogo violento
Games violentos estimulam a agressividade e fazem das
pancadas, socos e chutes a linguagem de uma juventude sem rumo, civilidade e ética.

Vivemos um tempo de paradoxos... Só para entender um pouco melhor prestemos atenção em duas matérias apresentadas pelos telejornais e rádios do país no dia de ontem...

Para começar essa discussão vejamos uma boa notícia: De acordo com reportagem apresentada no Jornal Nacional da Rede Globo no dia de ontem (26/06/07) nosso país foi descrito por turistas estrangeiros que por aqui passaram como um local muito agradável de ser visitado em especial pela acolhida de nosso povo. Os brasileiros foram descritos como receptivos, calorosos e alegres pelas pessoas que colaboraram com a pesquisa.

O país tem belezas naturais únicas e dignas de visitação, também reconhecidas pelos turistas de outros países, em especial as nossas praias. Além disso, culturalmente há atrativos e ícones brasileiros como o próprio presidente da república e atletas famosos, em especial do futebol, que atraem os olhares e os dólares e euros de viajantes internacionais para o nosso país.

Ao mesmo tempo em que essas notícias eram divulgadas discutia-se em várias redes o destino dos jovens que agrediram covarde e insanamente uma empregada doméstica que esperava o ônibus para conseguir chegar ao trabalho no Rio de Janeiro. Todos os implicados na agressão são jovens universitários, residentes de condomínios luxuosos, com futuros teoricamente promissores e sem motivos reais para demonstrar qualquer tipo de rebeldia...

Cena de luta
O surgimento dos pitboys (termo que define jovens de famílias abastadas que agem de forma agressiva e violenta, como autênticos pitbulls) tem relação direta com a sensação de impunidade que reina no Brasil.

Graças à denúncia de um taxista que anotou a chapa do veículo dos delinqüentes foi possível a polícia prendê-los. E não foi apenas a doméstica, segundo as testemunhas, que foi espancada por ter sido confundida pelos agressores com uma prostituta (como se isso justificasse ato de tamanha ignorância e covardia), outras duas mulheres que também estavam no ponto de ônibus foram igualmente vítimas da violência.

A grande ironia de tudo isso é que um dos jovens agressores é estudante universitário na área de turismo e a cidade maravilhosa, ou seja o Rio de Janeiro, foi apontado pelos estrangeiros que estiveram no país como o lugar que mais ansiavam conhecer. Copacabana, Ipanema, o Cristo Redentor ou o Pão de Açúcar – além das outras praias, do carnaval, da nossa gastronomia e do futebol – sem contar ainda a alegria própria dos brasileiros e dos cariocas em particular fazem do Rio a cidade brasileira mais conhecida no mundo.

Se uma pessoa que estuda para se tornar profissional da área do turismo foca suas energias em depredar, agredir ou gerar tumulto em áreas públicas na cidade brasileira que ainda é o maior destino de turistas do mundo inteiro o que podemos esperar para o futuro daquela metrópole e de todo o país nessa tão imprescindível área de serviços?

E o que promove toda essa selvageria num país onde as pessoas, de acordo com o resultado de pesquisas publicadas no jornal “O Estado de São Paulo” do dia hoje, sentem-se cada vez mais inseguras e incertas ao saírem de suas casas quanto a sua integridade física?

Foto do Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro é o cartão postal do Brasil no exterior. Até quando isso continuará a acontecer tendo em vista tanta violência e atrocidades que atormentam o cotidiano da Cidade Maravilhosa?

Temos visto na televisão que o aparato policial do estado tem sido reforçado e que suas ações são cada vez mais freqüentes, mas ao mesmo tempo ficamos sabendo que o país é hoje a mais importante rota de tráfico internacional de drogas como a cocaína e a maconha para a África e a Europa. E se isso não bastasse, dados divulgados ainda nessa semana demonstram que o consumo dessas drogas no Brasil aumentou significativamente nos últimos 5 anos. Estamos na contramão daquilo que ocorre em quase todas as regiões mais desenvolvidas do planeta...

Mais ações policiais e ainda assim atos violentos, tráfico de drogas em escala crescente, seqüestros, homicídios, latrocínios, estelionatos e outras ações ilegais crescendo nas estatísticas... Brasileiros descritos como calorosos, receptivos, alegres e confiantes pelos turistas estrangeiros ao mesmo tempo em que os crimes estampam as manchetes e ameaçam o cotidiano do cidadão comum, como eu ou você...

Como explicar essas contradições? Quadrilhas sendo desbaratadas, denúncias de corrupção envolvendo políticos e empresários poderosos vindo a público em virtude da eficiente ação da polícia federal, traficantes sendo combatidos e presos a partir de ousados planos executados pelas forças das polícias civis e militares e, ao mesmo tempo, tão grande sensação de insegurança e intranqüilidade?

A resposta não é tão difícil assim e vem sendo discutida publicamente através da imprensa especializada todos os dias... Precisamos de mais eficiência da justiça e de mecanismos efetivos de punição a todas as pessoas que forem denunciadas, julgadas e presas. A apuração dos fatos pela justiça brasileira tem que ser mais acelerada e os atos inescrupulosos e nefastos que afetam o dia a dia do trabalhador honesto de nosso país devem resultar em um preço alto a ser pago pelos infratores.

Um pulso algemado a uma cédula de Dólar
Enquanto os poderosos não forem punidos a certeza da impunidade permanecerá e acarretará outros casos de corrupção, agressões covardes e insanas, homicídios, seqüestros,...

Sejam eles quem forem... Filhos de pessoas de classe média ou alta, políticos importantes ou empresários ricos devem ser submetidos a mesma lei que leva traficantes ou ladrões de galinha para as cadeias brasileiras.

O exemplo disso tem que ser dado a partir da apuração das denúncias contra políticos que comandam negociatas escusas e movimentam milhões de reais como se estivessem contabilizando trocados acumulados em seus bolsos. Investigações, inquéritos e até mesmo denúncias e reportagens que demonstrassem ganhos acima daquilo que deputados, senadores, prefeitos, vereadores ou qualquer político pudessem ganhar deveriam resultar, pelo menos, no afastamento ou desligamento temporário dos acusados.

Enquanto os poderosos conseguirem se safar, através de negociatas e chantagens como temos acompanhado através da mídia, a sensação de que vivemos no país da impunidade prosseguirá e desencadeará inúmeros outros casos como o dos agressores da empregada doméstica que esperava o ônibus para o trabalho... Não podemos apenas cruzar os braços e esperar medidas que solucionem a questão vindas dos poderosos, ou esperneamos e cobramos de forma enfática soluções ou então seremos para sempre a terra da promissão e, certamente, a impunidade prosseguirá...

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