A Semana - Opiniões
Lição de Casa
Editorial
Tema quase tão antigo quanto à própria escola, a lição de casa se tornou, nos últimos anos um fardo pesado demais e, por isso mesmo, indesejado e desdenhado pelos estudantes e até por alguns professores. Assim mesmo temos que considerar que sua existência é necessária. O suporte de atividades que são desenvolvidas em casa, como complementação de explicações e trabalhos realizados em sala de aula não pode ser desprezado por ninguém.
Sabemos que as crianças, adolescentes e até mesmo os jovens precisam de algum tempo para o desenvolvimento de atividades que dê aos mesmos satisfação e prazer depois das aulas. Praticar esportes, reunir-se com amigos, escutar música, assistir televisão, conectar-se a internet, jogar games no computador, ler ou simplesmente descansar após o desfecho do dia escolar é e deve ser permitido.
O que se espera é que depois desse tempo utilizado para a satisfação pessoal, os estudantes se organizem para que pouco tempo consigam fazer a lição de casa – lendo os materiais sugeridos pelos professores, realizando exercícios propostos, pesquisando recursos adicionais aos temas de aula, desenvolvendo atividades complementares ou ainda fazendo trabalhos em grupo.
Mas como conscientizar os estudantes do valor e da necessidade das tarefas? João, parece até que você nunca foi aluno um dia...
Realizar
as tarefas e estudar em grupo exige maior disciplina e
organização por parte dos estudantes, mas pode
ser uma boa alternativa desde que todos consigam realmente focar nos
objetivos que motivaram a reunião.
Sou aluno ainda... E mesmo depois que terminar o meu doutorado pretendo continuar aprendendo ainda que não esteja regularmente matriculado numa instituição ou curso. Reconheço que enquanto estudante, especialmente no ensino fundamental e no ensino médio, fazer a lição de casa não era atividade das mais agradáveis. Nesse sentido a presença de minha mãe, acompanhando e incentivando, orientando e cobrando que fizéssemos nossas tarefas (eu e meus irmãos) foi bastante importante.
Esse aspecto, diga-se de passagem, é ainda de fundamental importância... Os pais têm que não apenas aparentar interesse na vida escolar de seus filhos, mas demonstrar isso efetivamente através de práticas como o acompanhamento das tarefas, a ida a reuniões pedagógicas, o contato regular com professores e gestores da escola onde o filho estuda, o auxílio quando surgirem dúvidas ou trabalhos a serem desenvolvidos, a participação em eventos na escola,...
Outra necessidade quanto as lições de casa é que o aluno crie o hábito de anotar numa agenda ou em páginas especialmente destinadas a isso em seu caderno quais foram as tarefas do dia (o que também é válido para trabalhos escolares e avaliações).
Essa ação permitirá ao aluno que saiba com certeza quais foram os professores que enviaram atividades para casa e também para que esteja ciente de quantas e quais atividades foram pedidas. Dessa forma ele pode organizar uma escala diária através da qual oriente a resolução de todas as tarefas previstas. O ideal é que esse trabalho sempre se inicie pelas lições mais fáceis e rápidas. Isso dá aos alunos a impressão de que tudo está sendo solucionado com rapidez e presteza e o animará a continuar.
Os
materiais necessários ao estudo devem estar sempre
próximos do estudante; o ambiente de estudos tem que ser
arejado e bem iluminado.
Se ele começar pelos deveres mais difíceis a tendência é que se sinta desanimado por considerar que os trabalhos propostos exigem demais dele e que tomam muito tempo. Quando os exercícios mais trabalhosos são deixados por último fica faltando pouco para terminar e isso também serve como estímulo aos estudantes.
Ao realizar as tarefas os estudantes devem ter sempre por perto todos os materiais necessários para a realização dos trabalhos propostos. Canetas, lápis, canetas coloridas, tesouras, réguas, cola, lápis de cor, giz de cera, papéis, materiais de pesquisa e cadernos com anotações de aula devem estar sempre ao lado de quem realiza as tarefas. Isso poupa tempo e diminui aquele “senta e levanta” tão característico dos estudantes, especialmente daqueles mais impacientes.
O ambiente onde as tarefas são realizadas deve ser arejado, claro, silencioso e não conter elementos que possam distrair o estudante, tirando sua concentração quanto às tarefas a serem executadas. O melhor a fazer é sempre reservar entre uma e duas horas por dia para que essas lições possam ser resolvidas sem que ninguém interfira. Nesse horário peça a colegas para não ligarem, para irmãos não atrapalharem ou para os pais não ficarem chamando. Depois de tudo feito aí é possível novamente retornar aos hobbies que mais apetecem cada um.
Há algumas necessárias mudanças quanto às lições de casa a serem tomadas não apenas pelos estudantes, mas também pelos professores...
Primeiramente é preciso que as tarefas ou deveres não sejam apenas repetições de conteúdos aprendidos em sala de aula. Os alunos devem ser instigados a ir além das informações dadas na escola. As proposições de atividades para casa devem ser interdisciplinares e formatadas como pequenos e rápidos projetos. O que quero dizer com isso?
O
uso da tecnologia nas tarefas é aconselhável, no
entanto os educadores devem manter os olhos bem abertos e ter uma
postura crítica para evitar que os estudantes utilizem
expedientes como o “copiar e colar”.
Use arte, linguagem, mídias diferenciadas (como o cinema, a música ou gráficos e tabelas), textos de outras disciplinas, jogos e situações da vida real para ilustrar as atividades ou como fontes de consulta. Abuse das novas tecnologias como suporte para pesquisas (mas preste sempre atenção no que lhe é entregue para não levar gato por lebre, ou seja, nunca aceite o “copiar e colar”). Indique livros e artigos de jornais e revistas como subsídios a serem lidos e incorporados as tarefas. Peça pesquisas de campo e entrevistas. As lições de casa têm que ser desafiantes e ousadas, devem dar trabalho e levar a construção do conhecimento.
O formato final das tarefas também não pode ser o de sempre. As tarefas podem virar cartas, e-mails, jornais, rádio-novelas, histórias em quadrinhos, músicas, filmes, dramatizações, roteiros, jogos de tabuleiro, apresentações em powerpoint, tabelas de excel e tantas outras produções que continuar sempre pedindo respostas a questionários é realmente um desperdício de tempo e de potencial criativo.
Valorizar as produções e dar destaque a quem se esforçou para trazer os melhores e mais criativos trabalhos também é parte do trabalho dos educadores. Ao invés de somente criticar e reclamar de quem não fez a tarefa, valorize aqueles que se interessaram e foram atrás. Quanto aos que não fizeram, notifique as famílias, demonstre que para você a realização dos deveres ou tarefas era parte importante do aprendizado, converse com os alunos sobre a questão, informe a coordenação e a direção...