Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Enron – Os mais espertos da sala
Fraudes made in USA

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Nós, brasileiros, sempre achamos que a autêntica malandragem surgiu por essas bandas, abaixo da linha do Equador, mais precisamente nessas terras abençoadas por Deus e bonitas por natureza. Somos tão crédulos quanto a essa idéia que até mesmo fazemos piada de nossa suposta capacidade de iludir, enganar e ludibriar sem que ninguém no mundo possa nos igualar...

E realmente as manchetes dos jornais diários de nosso país nos fazem crer que, em matéria de enganação e corrupção de valores, os brasileiros sabem tudo e ainda se mostram criativos o suficiente para conseguir criar novos expedientes e aplicar golpes ainda mais inventivos e originais.

Ou fizemos escola e estamos exportando esse triste know-how que pensamos ter ou, por outro lado, essas práticas espúrias já estavam disseminadas mundo afora desde os tempos de Adão e Eva... Apesar das evidências mais recentes nos fazerem crer na primazia dos brasileiros quanto a golpes contra o interesse público e/ou privado, penso que o mais provável é que ao aceitar a maçã oferecida pela serpente aos primeiros habitantes do planeta é que entramos de vez no reino dos descalabros e das mentiras, das fraudes e da corrupção, dos golpes milionários e do escárnio de alguns em relação ao interesse de muitos...

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Comprovação de que fraudes não cabem apenas no bolso dos brasileiros foi o caso Enron, ocorrido nos Estados Unidos entre os anos 1990 e o início do século XXI. Utilizando-se de esquemas fraudulentos em sua contabilidade que inflavam o potencial da empresa e de seus projetos nos Estados Unidos e em outros países, dando a ela visibilidade pública grandiosa a ponto de torná-la a mais rentável entre todas as possibilidades de investimento nas bolsas de valores nos EUA, a Enron se tornou um colosso de crescimento.

Poucas eram as pessoas que sabiam da alteração dos balancetes da empresa e das negociatas políticas em que estava envolvida a Enron. Seus principais executivos tornaram-se num curto espaço de tempo celebridades do mundo executivo local. A lucratividade da instituição foi tão grande que surgiram vários interessados em associarem-se a ela em projetos nas mais diferentes regiões do planeta.

Planos fracassados nas mãos de outras empresas foram comprados pela Enron e logo se tornaram lucrativos projetos. Ninguém conseguia entender ao certo, mas a mídia escrita, televisiva, radiofônica e mesmo a internet não paravam de destacar o sucesso da Enron, alardeando que a empresa representava tudo o que havia de mais moderno e qualificado em termos de moderna gestão de empreendimentos.

Estavam sendo ludibriados o tempo todo. E aqueles poucos que levantavam suspeitas a respeito do sucesso da Enron logo eram chamados de invejosos e de arautos do fracasso. Dizem que é possível enganar alguém por toda a vida, algumas pessoas durante algum tempo e uma enorme quantidade de indivíduos também por períodos de tempo relativamente prolongados... Mas que, mais dia, menos dia, a verdade vem a tona...

O documentário “Enron – os mais espertos da sala” é um expoente da nova safra de produções norte-americanas que, na recente tradição firmada por Michael Moore, se dedica a esmiuçar “o que há de podre no reino da Dinamarca”... Não percam! É Dinamite pura!

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O Filme

A crise de 1929, gerada pela superprodução e pela especulação no mercado financeiro dos Estados Unidos levou muitos investidores e empresários que perderam tudo a se suicidarem de forma dramática. Alguns se jogaram de altos prédios e, com esse “haraquiri” geraram grande comoção no país.

O mesmo sentimento não foi sentido entre os norte-americanos quando alguns executivos da Enron sacrificaram suas vidas, já que estavam condenados a purgar nas cadeias pelos golpes que haviam lesado milhões de pessoas em todo o país. Crimes contra o sistema financeiro que ocasionaram rombos grandiosos nas finanças de bancos, financeiras, empresas privadas, do próprio governo e também do pequeno investidor que havia acreditado nos miraculosos lucros divulgados pela Enron.

Além deles, praticamente todo o estado da Califórnia, que havia penado por alguns meses com apagões e blecautes que geraram sucessivas e altíssimas elevações dos preços pagos pelos serviços elétricos prestados pela Enron naquele estado. Ainda mais quando veio a tona que as panes elétricas ocorriam a mando dos chefões da empresa que, com isso, queriam levar os habitantes locais a desesperar-se a ponto de admitir o pagamento de taxas mais elevadas por aqueles serviços para a Enron, companhia encarregada dessas atribuições naquelas bandas...

O nível de ousadia e atrevimento, sem mencionar a aula de malandragem e a total ausência de escrúpulos e caráter, por parte dos mentores de toda essa fraude era tão grandioso que até mesmo experientes executivos, mentores de bancos e empresas de médio e grande porte, acabaram se associando a Enron. Dinheiro fácil, rápido e seguro – nos conformes das regras do mercado (pelo menos aparentemente) – atraiu muita gente e levou a Enron a ser considerada a empresa do ano em algumas oportunidades entre o final dos anos 1990 e o início da década seguinte.

Quando as máscaras caíram e tornou-se insustentável a farsa, o mercado norte-americano e internacional levou um enorme susto e um tombo de consideráveis proporções. “Os mais espertos da sala” foram pegos com a “boca na botija” e a “menina dos olhos” da economia norte-americana durante quase uma década faliu da noite para o dia...

É essa história que nos é contada com grande riqueza de detalhes no documentário “Enron – Os mais espertos da sala”, do diretor Alex Gibney. O que se espera é que as lições que nos foram dadas sejam aprendidas para o bem e que, se possível, novas fraudes possam ser evitadas... Para ver e rever!

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Para Refletir

1- Não existe dinheiro fácil. Desconfie de qualquer oportunidade de ouro que lhe seja apresentada. “Esmola demais o cego desconfia”. Essas são apenas algumas das lições que me foram dadas ao longo de minha vida por meus pais. Nunca as esqueci e acredito realmente que não há vitória que possa ser obtida sem suor, dedicação, empenho, estudo, planificação. Será que estamos nos lembrando de alertar a nova geração dos riscos que existem nos atalhos da vida? Quantas vezes paramos para não apenas dizer essas frases de efeito, mas também para demonstrar através de exemplos que o mundo não foi feito em apenas um dia e que, certamente, a construção de uma carreira e de uma vida de êxitos irá demandar algum tempo? Se ainda não fez isso ao dialogar com seus filhos, não perca tempo, ensinamentos como esses não podem estar ausentes do legado que temos que dar para nossos herdeiros.

2- Estudar a Enron, a Crise de 29 e todos os momentos em que a especulação abalou as bases do sistema capitalista é uma necessidade. Vivemos nesse sistema e se não o compreendermos em suas minúcias passaremos por novos e ainda mais delicadas situações. Nesse sentido é importantíssimo que peçamos aos nossos alunos um mapeamento da história do capitalismo e das rupturas e quebras ocorridas ao longo do caminho. Começar com subsídios da atualidade é sempre interessante por despertar aos olhos dos estudantes uma proximidade que torna a questão mais premente e viva...

3- Fraudes, malandragem, jeitinhos, corrupção e todos esses desvios de caráter devem ser discutidos na escola. Vivemos num mundo onde os valores cada vez mais são fixados a partir de bases alheias ao controle dos pais e da escola. Novelas, filmes, sites da internet, celebridades sem escrúpulos, políticos corruptos e safados e tantas outras pessoas e meios tem sido muito mais presentes na formação de nossas novas gerações do que os professores ou os próprios progenitores. Discutir essas temáticas com conhecimento de causa, pautados numa visão de mundo ética e correta, pregando valores como a honestidade e a solidariedade é dever e obrigação de todos aqueles que ainda acreditam que o mundo pode e deve ser muito melhor no amanhã...

Ficha Técnica

Cartaz-do-Filme

Enron – Os mais espertos na sala
(Eron: The smartest guys in the room)

País/Ano de produção: EUA, 2005
Duração/Gênero: 109 min., Documentário
Direção de Alex Gibney
Roteiro de Alex Gibney, baseado em livro de Bethany McLean e Peter Elkind
Elenco: Peter Coyote (Narrador), John Beard, Jim Chanos, Carol Coale, Gray Davis, Joseph Dunn, Reggie Dees II, Max Ebert, Peter Elkind, Andrew Fastow, Ken Lay.

Links

http://www.adorocinema.com.br/filmes/enron/enron.asp

http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=10895

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