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Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Shrek
Conto de fadas às avessas

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Uma das mais tradicionais atividades da família e da escola é contar histórias para as crianças. Inventadas ou lidas dos tradicionais livros de contos e fábulas, essas histórias tem se repetido a exaustão e não perdem jamais seu encanto. Branca de Neve, Pinóquio, Rapunzel, O Gato de Botas, Alladin, Os Três Porquinhos e outros memoráveis contos infantis mudam de roupagem dependendo de quem conta e do tom com que a apresentação da trama acontece. O tradicional, no entanto, no caso dessa prática tão comum que é ler ou contar histórias, sugere a existência de fadas, de príncipes e princesas, de vilões malvados e inesquecíveis, de ogros e bruxos horripilantes e, evidentemente, de finais felizes.

A Disney celebrizou a fórmula dos bons e velhos livros infantis adaptando para as telas muitas das clássicas histórias contadas de pai para filhos, geração após geração. Atualmente é muito difícil para as crianças e mesmo para os adultos distinguir Peter Pan, Capitão Gancho, Sininho, Alice, Mógli, Cinderella e muitos outros personagens da ficção infanto-juvenil daqueles que foram levados aos cinemas do mundo todo por "tio" Walt. Nos desenhos produzidos pela Walt Disney Pictures há uma profusão de personagens bons e maus se alternando nas tramas e, como o figurino recomenda, "happy-endings".

Recentemente, motivados pela constatação de que nossos "anjinhos" já não seriam tão ingênuos como imaginamos, os estúdios Dreamworks (de Steven Spielberg) resolveram investir num Conto de Fadas remodelado, que veio a ser intitulado como "Shrek". A história desse desenho animado conta com personagens como um ogro, animais que falam (no caso o burro), uma bela princesa, um príncipe malvado e por aí afora. Tem ainda as participações especiais de alguns dos mais ilustres personagens de fábulas e contos infantis como a Branca de Neve, os Três Porquinhos e o Lobo Mau.

Aparentemente nada indica uma mudança de rumo muito radical, no entanto, "Shrek" inova ao inverter a lógica de qualquer desenho animado produzido anteriormente ao eleger como heróis da trama o ogro Shrek e seu amigo o burro falante. Transforma a princesa doce, frágil e amigável de outros tempos numa mulher moderna, atuante, boa de briga e chegada numa confusão (mas que continua bela). Faz com que o príncipe malvado seja baixinho, franzino e cabeçudo. E o pior de tudo, envolve o herói na trama não em função de causas nobres como salvar o reino, derrotar cavaleiros inimigos ou salvar a indefesa princesa, Shrek entra na trama para livrar as terras onde vive da invasão de outros personagens das histórias para crianças (como os citados Branca de Neve, Três Porquinhos, Lobo Mau e outros famosos).

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Ao colocar de pernas para o ar a rotina dos desenhos animados tradicionais, a Dreamworks conseguiu uma espetacular vitória nas bilheterias do mundo todo sobre a Disney, resultando disso a constatação que essa renovação era mais do que necessária, era fundamental do ponto de vista dos espectadores vidrados em animações nos quatro cantos do planeta. Isso inclusive abriu perspectivas para que outros realizadores se animassem para produzir novas aventuras cômicas para as crianças e adolescentes (confesso que, como adulto, também me sinto agradecido pela possibilidade de ver desenhos como "Shrek") como o recente "A Era do Gelo" dos estúdios Fox, outro grande estouro de público e de crítica.

As qualidades de "Shrek" no que tange a escola se referem ao fato desse desenho nos abrir os olhos para as diferenças entre as pessoas e o respeito que devemos ter pelos outros, aspecto para lá de fundamental numa sociedade discriminatória como a nossa (apesar das falsas aparências que nos fazem crer que o problema da discriminação ocorre apenas em países como a África do Sul, a França de Le Pen ou nos estados sulistas dos EUA). Nos permite entender que a vida não é um mar de rosas como nos é passado em outras produções e que, muitas vezes teremos que arregaçar as mangas e trabalhar muito pesado para que possamos obter aquilo que desejamos. De forma engraçada o filme ainda nos dá a possibilidade de pensar nas relações entre pessoas desiguais e nos preconceitos que cercam esse tipo de proximidade (jovens com pessoas mais velhas, negros com brancos, homossexuais, pessoas de diferentes religiões,...).

O fato de transgredir o receituário básico das produções voltadas para crianças também constitui um aspecto importante a se utilizar nas escolas. Quebrar os padrões estabelecidos e permitir um sopro de criatividade que permita a nossas crianças e adolescentes (e a nós mesmos) repensar a vida, a sociedade, os valores, as instituições e as regras dominantes pode ser muito útil para todos. Quantas de nossas crianças tem vontade de desenhar flores com pétalas negras e caule vermelho ou cavalos azuis com bolinhas amarelas por todo o corpo e não o fazem por não ser de acordo com o que delas se espera? Quem entre nós nunca pensou em superar a monotonia da vida fazendo coisas que seriam consideradas extravagantes demais para os outros?

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"Shrek" nos fala ao coração justamente por nos permitir sonhar com mudanças como essas. Pense por si, vale ou não a pena assistir um desenho como esse?

Ficha Técnica

SHREK

País/Ano de produção:- EUA, 2001
Duração/Gênero:- 90 min., infantil/animação/comédia
Disponível em vídeo e DVD
Direção de Andrew Adamson e Vicky Jenson
Roteiro de Ted Elliott, Terry Rossio, Joe Stillman e Roger S.H. Schulman,
baseado em livro de William Steig
Elenco (vozes):- Mike Myers (Shrek), Eddie Murphy (Burro),
Cameron Diaz (Princesa Fiona), John Lithgow (Lord Farquaad)

Links
- http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=2337
-http://www.adorocinema.com.br/filmes/shrek/shrek.asp

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