Planeta Educação

Carpe Diem

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O mundo em nossas mãos
Coluna Carpe Diem

Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje

Que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve um oriki do meu velho orixá
Ao porto de um disquete de um micro em Taipé

Um barco que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer

Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut

De Connecticut acessar
O chefe da Macmilícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus pra atacar programas no Japão

Eu quero entrar na rede pra contactar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar

 

Música e letra de Gilberto Gil
Cantor, Compositor e Ministro da Cultura do Brasil

 

Com Toquinho viajamos numa folha de papel. Curtimos as cores do arco-iris. Pintamos e desenhamos com giz de cera ou lápis de cor. Usamos nossas mãos numa grande e deliciosa brincadeira. A “aquarela” nos permitia fazer o mundo do jeito como queríamos que ele fosse. Subvertíamos a ordem tornando as árvores vermelhas, azuis ou negras; Mudávamos o formato das casas onde vivíamos – superando os quadrados e retângulos predominantes para em seus lugares estabelecer círculos ou formas novas e desconexas; Tínhamos o universo em nossas mãos e éramos como verdadeiros imperadores regulando o seu destino em alvas folhas de papel...

Gil, por sua vez, nos colocou diante de uma outra “folha de papel”, não mais branca e nem tampouco de material palpável... O universo está diante de nós, dessa vez, através da internet e das redes que nos são disponibilizadas pela mesma.

Mas como na doce e suave letra de “Aquarela”, há muito espaço livre no mundo virtual para que possamos construir a realidade com a qual sonhamos. Pelas trilhas da rede mundial de computadores, podemos também criar um universo colorido, com os mais variados tons, amplificando nossas vozes para que possamos nos mostrar presentes e atuantes, colaborando para que o debate mundial igualmente conte com a nossa palavra.

Nos tornamos cidadãos da galáxia da internet e adentramos o espaço virtual sem que tenhamos perdido as conexões que nos ligam a terra, ao que nos é próximo e sensível. Pelo menos temos que ter essa consciência, para que não sejamos apenas “avatares”, “andróides”, “robôs” ou “replicantes” – que não conseguem viver sem os estímulos elétricos que movem as plataformas virtuais...

Podemos circular pelos quatro cantos do mundo a qualquer momento. E para onde estamos indo quando viajamos pelos confins da Web? Nova Iorque e Londres? Calcutá e Pequim? São Paulo e Buenos Aires? Ou selecionamos de uma forma ainda mais criteriosa para que possamos ir a espaços muito específicos como o Museu do Louvre, o Monte Fuji, o teatro de Sidney ou o Sítio do Pica-Pau Amarelo?

Estamos lendo Shakespeare e Machado de Assis pela rede? Apreciamos as obras de Monet e Van Gogh no mundo virtual? Escutamos as músicas de Vivaldi e Wagner? Assistimos os filmes de Kurosawa ou Glauber? Conversamos com amigos japoneses ou alemães através das ferramentas que nos foram proporcionadas pelo avanço tecnológico? Participamos de atividades pela internet que nos permitam ajudar aos mais necessitados?

O que estamos fazendo através da rede mundial de computadores para que o mundo seja mais justo, digno e ético? Se gastamos mais tempo em sites de relacionamento ou em jogos virtuais, será que colaboramos realmente para que as coisas melhorem? Se escrevemos apenas banalidades e enchemos o espaço de blogs, sites e comunicadores instantâneos com informações ou dados que nada acrescentam a ciência, as artes e a cultura em geral – será que estamos conscientes de quanto tempo estamos perdendo na luta contra mazelas como a destruição do meio-ambiente, a fome, a pobreza, o analfabetismo ou as epidemias?

Criar websites, fazer homepages e usar gygabites para fazer jangadas e barcos que velejem através da internet em busca de respostas, propostas, idéias e soluções para os problemas da humanidade ao mesmo tempo em que geram alegria e capacidade de superação de nossas angústias, medos e inseguranças deve ser o nosso foco. No espaço virtual temos o mundo no horizonte e, em nossas mãos, o seu destino...

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