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Matemática

Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva Sou um professor de Economia, cego, aventureiro acompanhado por dois fiéis escudeiros, ambos com quatro locomotores, um com patas, outro com cascos. Já me considero do tempo dos computadores, mas, enquanto estudante, usava muito o Braille e, principalmente, a boa-vontade dos amigos. Hoje, sem ver, ensino a quem vê e a quem não enxerga também.

Aprender a representação gráfica de forma tátil
Matemática

Geralmente, faz-se uma confusão medonha entre relevo e Braille. Anos atrás, um cego de nascença, estudante do ensino médio, disse-me que, se não houvesse o Braille, os cegos não teriam acesso aos gráficos e aos desenhos.

Braille é o código de escrita tão somente. Os desenhos são relevos, o que não tem nada a ver com o Braille. Se, num desenho em relevo, houver notação em Braille, seguindo suas normas, então podemos dizer que se trata de uma representação Braille.

Nos livros infantis, usa-se reproduzir as figuras em relevo como elas foram impressas à tinta. Isso não diz nada para um cego, a não ser que ele seja treinado nisso. É que a perspectiva é inerente à visão, o que não necessariamente significa qualquer coisa para um cego de nascença.

Planificar uma rosa, portanto, não passa de traduzir um emaranhado de curvas sob a perspectiva tátil do desenho. É preciso treinar o aluno cego a entender gráficos em geral, antes de lhe tentar incutir, por exemplo, o plano cartesiano.

Uma parábola não representa nada a quem nunca enxergou, por exemplo, uma bola sendo atirada em um jogo de basquete, ou para quem nunca viu uma pedra sendo jogada em um lago. Quando tive de ensinar tudo isso ao meu irmão mais novo, que nunca enxergou de fato, tendo perdido a visão aos três anos, porém, com pouquíssima acuidade visual anterior, usei alguns artifícios para
que ele entendesse exatamente do que se tratava.

Para explicar o plano cartesiano, usei um tabuleiro de xadrez para viagens, daqueles que possuem furos para que as peças, dotadas de pinos em sua base ali se encaixem. Isso permite que se jogue em um trem ou em um avião, sem que elas se desloquem inadvertidamente.

Simplesmente expliquei que os furos poderiam ser numerados de 1 a 8, tanto na vertical como na horizontal e que bastaria contá-los para localizar qualquer um deles. Assim, o que se costuma chamar de 1ª da torre, poder-se-ia chamar a mesma posição numericamente de 1,1, a 4ª do rei de 4,5 e assim por diante. Então, pedi-lhe que imaginasse um tabuleiro de xadrez com infinitas posições, tanto na vertical como na horizontal e tudo se explicou com grande facilidade daí por diante.

O cubaritmo, que não serve para ensinar a fazer contas, sua finalidade original, como eu já expliquei em outro texto, serve muito bem para ensinar o plano cartesiano.

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