Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Regras da Vida
Colhendo maçãs

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Nossas memórias registram consciente e inconscientemente praticamente tudo aquilo que acontece ao nosso redor. Mesmo quando estamos concentrados num determinado assunto, quando devotamos nossa atenção a um interlocutor específico ou nos esforçamos para fixar nossos olhos num livro ou filme, tudo aquilo que constitui pano de fundo em nossa ação, vai sendo registrado em nossos "bancos de dados", nossos cérebros.

É por isso que nos lembramos de detalhes dos locais onde vivemos, estudamos, trabalhamos ou nos divertimos. Isso explica por que nós não esquecemos das roupas de alguns de nossos professores, da cortina da casa que alugávamos para passar o verão na praia, das cores espalhafatosas que algumas de nossas tias usavam para pintar suas unhas ou de certos outdoors para os quais nem parecíamos estar olhando.

Apesar disso, tenho que reconhecer que somos limitados e que pouco sabemos do mundo em que vivemos. Mesmo adicionando os conhecimentos que nos são proporcionados pela literatura, pelas artes plásticas, pela televisão, pela internet, pelo teatro, por jornais (e revistas) e pelo cinema, tenho que continuar afirmando nossa pequeneza diante do imenso montante de informações e acontecimentos que circulam e ocorrem diariamente no mundo (lembrem que não me refiro apenas ao que está aparecendo nos noticiários, mas a tudo aquilo que acontece na vida de cada um dos bilhões de habitantes desse planeta).

Isso ficou ainda mais claro para mim depois de ter visto o emocionante filme "Regras da Vida", de Lasse Hallström.

Por mais que já tenha ido a instituições que prestam assistência a crianças órfãs; mesmo contribuindo ocasionalmente com campanhas que auxiliam pessoas que passam por imensas carências materiais; ainda que acompanhe pela imprensa e pela internet as campanhas promovidas por instituições governamentais, pela ONU ou mesmo por ONGs e procure ajudar dentro das limitações que nos são impostas pelos compromissos profissionais e pessoais; tenho que admitir que não seria capaz de esclarecer exatamente como é a vida de uma criança que é criada num orfanato.

Tampouco seria capaz de lhes dizer exatamente como se deve colher uma maçã ou estipular de que qualidade é a dita fruta. Nunca tive, igualmente, a oportunidade de pescar lagosta (felizmente, entretanto, já pude saborear essa deliciosa iguaria). Não sei como fazer um parto e, por isso, acho que não sou capaz de ajudar numa circunstância como essa. São experiências que não fazem parte de tudo aquilo que já pude vivenciar ao longo de minha existência (assim como, posso assegurar, há muitas coisas vividas por mim e por cada um de nós em particular, que jamais serão vividas ou conhecidas senão pelas poucas pessoas que estiveram conosco).

Pude ver como essas coisas ocorrem no filme estrelado por Tobey Maguire, Charlize Theron e pelo incansável e irrepreensível, Michael Caine. Confiram!

O Filme

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Homer Wells (Tobey Maguire, conhecidíssimo mundialmente por ter encarnado o Homem Aranha no cinema) é uma criança que não parece destinada a ter um futuro dos mais felizes. É, para princípio de conversa, uma criança indesejada, largada por sua mãe na clínica de um orfanato que socorre mulheres que ficam grávidas e não querem ter seus filhos.

Por duas vezes, quando ainda era um bebê e uma criança em seus primeiros anos de vida, foi adotado e devolvido ao orfanato. Porém, caiu nas graças do médico, Dr. Wilbur Larch (Michael Caine em mais uma soberba atuação), e das enfermeiras. Acabou sendo criado no orfanato e teve um ótimo professor de medicina no Dr. Larch. Aprendeu as técnicas para parto e pôde presenciar (sem que viesse a participar), de abortos promovidos a pedido das jovens mulheres (que preferiam ver o diabo a ter esses filhos).

Vivia encerrado no orfanato, onde continuava a dividir seu quarto com as outras crianças. Dividia outras funções com o médico e as enfermeiras. Contava histórias e ajudava na projeção do único filme disponível na instituição, uma cópia defeituosa do clássico "King Kong". Escutava todas as noites, quando Dr. Larch ia dormir, um afetuoso comprimento de boa noite:- "Boa noite, príncipes do Maine. Boa noite, reis da Nova Inglaterra".

Teve a oportunidade de conhecer um jovem casal que foi ao orfanato para a realização de um aborto antes que se completasse o terceiro mês de gestação. Pediu a eles uma carona para conhecer o mundo. A partir desse momento, sua vida mudou muito. Deixou de ser mais um dos órfãos ou o assistente do Dr. Larch e foi vivenciar experiências inéditas para ele.

Homer conheceu o mar. Tornou-se um colhedor de maçãs (e como aprendeu rápido esse trabalho). Viu como se pescavam lagostas e pode comê-las. Viveu entre pessoas simples, num galpão destinado a trabalhadores temporários especializados na colheita de maçãs. Presenciou as desgraças patrocinadas numa guerra. Apaixonou-se e teve que decidir entre ficar e voltar, entre seus novos amigos e seus velhos e estimados companheiros de orfanato,...

Divirta-se e encante-se com essa bela história!

Aos Professores

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1- Incentivem seus alunos a olharem com mais atenção para o mundo e para as coisas que acontecem ao redor deles. Peça-lhes que olhem mais para os outros, para que aprendam mais com aquilo que é a vivência de outras pessoas. Olhamos muito para nós mesmos, para nossos problemas, para o nosso cotidiano. Perdemos um pouco de nossa capacidade de sermos mais solidários, mais compreensivos; queremos falar e impor nossos pensamentos, não sabemos ouvir e aceitar o que os outros têm a nos dizer.

2- Como temos agido dessa maneira com extrema freqüência, achamos que esse comportamento é natural e aceitável. Temos por isso, medo dos outros, das atitudes dos outros, achamos que todo mundo quer nos passar para trás (o que não deixa de ser verdade enquanto não mudarmos nossas atitudes). Reina uma grande desconfiança, que polui o ambiente e não nos deixa crescer, não nos permite melhorar.

3- Toda e qualquer mudança passa por uma reavaliação de nossos parâmetros, de nossos comportamentos e, em muitos casos, a reformulação de nossa filosofia e ética de vida. Trata-se de uma tarefa hercúlea, que exige músculos e, acima de tudo, inteligência e sensibilidade. Os professores podem e devem auxiliar seus alunos nessa grande jornada. O primeiro passo tem que ser dado pelos próprios mestres, são os primeiros que devem se reavaliar.

4- Não há receitas de bolo que possam nos auxiliar nessas mudanças. Devem imperar mudanças que sejam feitas de forma a privilegiar o respeito, a consideração, o trabalho sério, a dignidade humana, a fraternidade e o amor entre os homens. Parece pouco, mas muitas pessoas já foram, literalmente, crucificadas por isso...

Ficha Técnica

Regras da Vida
(The Cider House Rules)

País/Ano de produção:- EUA, 1999
Duração/Gênero:- 130 min., Drama
Disponível em VHS e DVD
Direção de Lasse Hallström
Roteiro de John Irving
Elenco:- Tobey Maguire, Michael Caine, Charlize Theron, Delroy Lindo,
Paul Rudd, Jane Alexander, Kathy Baker, Kate Nelligan, Kieran Culkin.

Links

- http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=148
- http://www.adorocinema.com/filmes/regras-da-vida/regras-da-vida.htm

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