A Semana - Opiniões
Cultura e Educação
Um encontro imprescindível e inadiável
Temos
que criar uma ponte, como a de Monet,
unindo educação e cultura de forma perene.
Escolas tristes e vazias... Sem alma e sem graça... Desprovidas de vida e de encanto... Prédios imensos, recheados de alunos, mas carentes de envolvimento, ação, realização, superação, incentivo, satisfação e prazer.
Enquanto o mundo lá fora pulsa, intenso, cheio de energia e vibração, o reino da educação parece totalmente fora de sincronia com o que acontece. O ritmo das escolas segue em descompasso e carece de sincronia com as realizações da ciência, as inovações tecnológicas, o mundo do trabalho e as novas concepções da cultura e das artes.
Ao adentrar nossas unidades escolares, em todo o Brasil, apesar dos sorrisos e da aparente disposição dos estudantes e dos professores, o que prevalece é o marasmo, a mesmice, a falta de criatividade e, consequentemente, a educação que não ensina, que não sensibiliza, que não auxilia os seus educandos a construir seus conhecimentos e que, em função disso, não os leva a se edificar enquanto pessoas e cidadãos.
E é interessante notar que isso acontece não por falta de vontade dos educadores, nem tampouco pela indisposição dos estudantes... O que promove esse estado de coisas na educação é fruto do espírito conservador que paira sobre as escolas e que indica caminhos sempre iguais, numa eterna repetição de fórmulas, aos professores em suas jornadas de aula.
A
arte e a ciência são elementos
imprescindíveis para a educação,
como
já nos fazia acreditar nisso o mestre Leonardo Da Vinci.
Atribuir responsabilidades a quem quer que seja significa desprezar ou não considerar que existem iniciativas individuais e coletivas em andamentos nos quatro cantos do país através das quais há o interesse real de tornar a educação efetiva para os educandos e também para o país. Esforços estão sendo feitos, falta concatenar, pensar mais profundamente, reforçar os pilares desses projetos, dar maior sustentação e argumento a essas idéias e iniciativas.
Aos professores, por falta de tempo, por comodismo, por descrença na possibilidade de mudar um sistema que lhe parece desde sempre imutável, eterno e indestrutível, os projetos e cursos que lhes são oferecidos são apenas passageiras possibilidades de realmente mudar o rumo da vida nas escolas. Aplicam-se durante algumas aulas, semanas ou meses e, depois de curtos espaços de tempo, são guardados no fundo das gavetas e perdem-se no tempo enquanto referências que poderiam fomentar um futuro melhor.
Carecemos de continuidade na educação. Precisamos de mais aprofundamento e estudos por parte dos educadores. Ansiamos por transformações, mas nos faltam subsídios.
A realidade é que já não faltam ferramentas. Se elas não abundam nas redes, ao menos sabemos que existem e que, em muitos casos, estão ociosas. Há televisões, vídeos, DVDs. Laboratórios de informática são criados e plugados a Internet. Bibliotecas, mesmo que pobres, continuam às moscas. Cursos, palestras, congressos e eventos ocorrem com freqüência para que os professores atualizem seus conhecimentos. Quadras de esporte ficam ociosas fora dos horários de aula... Esses recursos e oportunidades não podem ser desperdiçados e, na realidade, carecem de uma conexão com outros instrumentais elementares para a concretização da aprendizagem...
E como isso pode nos ajudar e incentivar uma dinâmica e um rumo mais interessante para a vida na escola? Quais são esses outros “instrumentais elementares”?
A compreensão do
mundo e a melhoria de condições de vida,
com mais justiça, paz e dignidade, passam pela
educação e
pela cultura que nos conduzem ao conhecimento.
(Acima “Operários” de Tarsila do Amaral,
produzida em 1933)
Primeiramente devemos perceber e realizar a vital ligação que deve existir entre os projetos da área cultural e educacional. Não podemos prescindir dos museus, exposições, shows, apresentações teatrais, cinemas, danças, produções artesanais, gastronomia,... E mais do que isso, temos que “linkar”, ou seja, unir e relacionar, estreitando cada vez mais as relações entre essas e outras produções culturais e as salas de aula.
Essa reunião de forças deve acontecer com a utilização dos elementos da cultura, de forma perene, nos projetos educacionais da rede. Associando conteúdos das ciências, da matemática, da história, das línguas, da geografia ou da educação física ao cinema, a música, a literatura, as artes plásticas, ao teatro, ao artesanato, a gastronomia,...
E isso não significa apenas “passar filmes”, “ir ao teatro”, “ensinar a cozinhar”, “pedir leituras” ou “excursionar aos museus”... Toda e qualquer atividade cultural pensada como projeto e parte integrante dos planejamentos educacionais deve levar o educando a produzir, compactuar, relacionar-se, vivenciar e tornar-se protagonista desses e nesses campos culturais.
Nesse sentido cabe aos educadores organizar, fomentar, acompanhar e estimular os estudos e produções de seus alunos nos projetos em que a cultura e a educação estejam de mãos dadas. A dúvida então passa a ser, como fazer isso?
Inicialmente é preciso criar oportunidades, aproveitar melhor o tempo disponível e estimular professores e estudantes a concretizar esse encontro. Assisti no último final de semana ao filme “Ponte para Terabítia”, uma incrível história onde a fantasia e a humanidade se encontram num mundo imaginário criado por dois adolescentes. Nesse universo dos protagonistas do filme, uma floresta se transformou num mundo particular onde seus sonhos e alegrias se concretizavam.
Penso que temos que criar também uma “ponte”, como no filme mencionado, que nos leve a uma escola em que prevaleça a criatividade, a realização e o encanto. Temos que, obviamente, ir além da ficção e transformar esses ideais em elementos concretos. Por isso mesmo, acredito que o desafio é transformar os encontros e reuniões de professores em momentos de elaboração, troca de experiências, idealização de projetos e transformação de abstrações em realizações nas escolas.
As idéias de cada professor, suas realizações particulares, seus trabalhos bem-sucedidos e os projetos vitoriosos de cada pessoa envolvida com a educação devem ser partilhados, pensados, projetados para aplicabilidade em maior escala.
Indo um pouco além, cada perspectiva nova de trabalho deve estar vinculada à realidade dos alunos e envolver os elementos produzidos pela cultura aos conteúdos. E cada projeto deve envolver duas, três, quatro ou mais diferentes disciplinas, fomentando a tão aspirada e necessária interdisciplinaridade. Não será fácil, mas é um caminho para que “Terabítia” se concretize em nossas escolas. Precisamos chegar lá antes que seja tarde demais...