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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Resgatando os grandes nomes da ciência brasileira
Museu Vital Brazil On-line

http://www.museuvitalbrazil.org.br

Foto-de-Vital-Brasil

País conhecido e celebrado pelo seu próprio povo a partir de seus ícones esportivos como Pelé, Ayrton Senna, Hortência ou Guga, o Brasil é uma nação díspar no cenário mundial ao não promover e destacar dentro de suas próprias fronteiras o trabalho de seus importantes cientistas e pesquisadores.

A ciência não parece ser relevante como artefato cultural para que os brasileiros se dêem conta do valor da produção de alguns de seus poucos nomes que têm trabalhos de vulto reconhecidos nacional e mundialmente.

Nomes como Santos Dumont, Carlos Chagas, Oswaldo Cruz ou o Marechal Rondon são desconhecidos ou pouco valorizados por seus estudos e realizações pela maioria dos brasileiros. Santos Dumont, inventor do avião, é a personalidade que tem maior reconhecimento público entre os nomes supracitados, no entanto a informação disponível publicamente entre seus próprios compatriotas relativamente a seus feitos, projetos e pesquisas restringe-se a sua aventura com o 14 Bis.

As escolas de nosso país, desprovidas de qualquer comprometimento com o necessário e fundamental espírito científico que norteia as grandes potências do planeta, somente corrobora esse acontecimento ao omitir, seja em aulas e livros didáticos de história ou de ciências, ou ainda em relatos e textos trabalhados em português ou literatura, a vida e a realização desses notáveis homens da ciência (a não ser pontualmente, associando-os a fatos ou acontecimentos políticos marcantes, como a Revolta da Vacina, onde se destaca a atuação de Oswaldo Cruz).

Desenho-dPrimeira-Sede-do-Instituto-Vital-Brasil
Desenho de Augusto Esteves da primeira sede do Instituto Vital Brazil, em Niterói, no Rio de Janeiro, no ano de 1919.

O mesmo fato ocorre, lamentavelmente, diga-se de passagem, em relação à Vital Brazil, eminente e reputado cientista e pesquisador brasileiro que, entre outras contribuições importantíssimas, inaugurou o Instituto Butantã no final do século XIX e o dirigiu até 1919.

Essa instituição de pesquisa, celebrada e consagrada nacionalmente, orgulho dos paulistas, realiza pesquisas regulares e produz medicamentos que são distribuídos em todo o território nacional (e até fora do país) relacionados a animais peçonhentos, como cobras, aranhas e escorpiões.

Não é a toa que Vital Brazil foi o grande mentor e comprometeu-se com o projeto que acabou resultando no Instituto Butantã, já que suas principais contribuições na área da pesquisa científica, assim como importantes realizações de cunho prático foram efetivadas por ele na busca de medicamentos e soros antiofídicos, antidiftéricos, antitetânicos e no combate a enfermidades provocadas por picadas de aranhas e escorpiões.

Se não conseguia o reconhecimento dentro do país, os grandes centros de pesquisa do exterior davam ao brasileiro, natural de Campanha (Minas Gerais), a valorização que ele merecia. E o destaque na Europa e nos Estados Unidos tornavam Vital Brazil uma figura pública notória (ao menos durante o seu período de vida), em terras brasileiras.

Por isso mesmo, qualquer iniciativa que traga a luz os fatos e realizações de homens do porte de Vital Brazil, Carlos Chagas, Oswaldo Cruz, ou mais recentemente de grandes expoentes do pensamento científico nacional como César Lattes, Milton Santos ou os Irmãos Villas Boas merece ser ressaltada através da mídia e da Internet.

Esse é o caso da criação e da manutenção do portal Museu Vital Brazil (http://www.museuvitalbrazil.org.br). O que se pretende através desse novo endereço na web é a preservação da memória, do valoroso trabalho e, em especial, do notável espírito empreendedor de um de nossos grandes nomes da ciência.

Não queremos desmerecer ou desvalorizar os feitos e as conquistas do esporte ou da música que tanto orgulham os brasileiros, o que se pretende através dessa resenha e da produção de livros, sites, vídeos ou qualquer outra forma de realização cultural acerca de nossos grandes cientistas, pensadores, literatos, cineastas ou dramaturgos é consolidar a sua obra, revelar o seu gênio e dar alento, confiança e credibilidade no campo da cultura, da ciência e das artes a um povo como o nosso, tão desacreditado.

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Imagem de uma das salas de pesquisa do Instituto Butantã, na década de 1910.

Sobre o Site

O site do Museu Vital Brazil (http://www.museuvitalbrazil.org.br) tem algumas particularidades bastante interessantes para as pessoas interessadas em saber mais sobre a vida, a obra e a repercussão das pesquisas do mais eminente cidadão de Campanha (MG). Entre elas podemos destacar:

1- Em Destaques o visitante tem acesso às últimas notícias relativas ao site, ao Museu, a publicações, a informações sobre Vital Brazil e também a Associação Casa de Vital Brazil.

2- Há espaços no site destinados a apresentar o Museu Vital Brazil e a Associação Casa de Vital Brazil, com informações sobre o seu funcionamento, objetivos, projetos e atividades

3- O segmento denominado Vital Brazil nos coloca em contato com a biografia do pesquisador e cientista brasileiro que fundou o Instituto Butantã, em São Paulo, e também o Instituto Vital Brazil, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro – importante centro de desenvolvimento de pesquisas nacional.

4- O mais interessante e rico subsídio do site é, porém, a área denominada Exposições, onde temos acesso a uma linha do tempo que, ao ser clicada nas décadas apresentadas, nos coloca em contato com imagens e informações sobre a vida de Vital Brazil nesses períodos específicos.

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O presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt (ao centro), em visita ao Instituto Butantã, em 1913, em companhia (à esquerda) de Vital Brazil.

Para Refletir

Constituímos um povo sem memória. Nós, brasileiros, lemos muito pouco. Fazer ciência então, é tarefa para um ínfimo número de pessoas dentro de nosso país. Não há incentivo. Faltam verbas. Carecemos de mais e melhores instalações para que possamos produzir contribuições nesse campo. E as desculpas e omissões acabam nos colocando na vala comum que nos une aos países de mão de obra barata, fadados a durante toda a sua história apenas produzir a baixo custo o que outros povos elaboram, criam, pensam, projetam e nos vendem a enormes preços...

Não há espírito científico em nossa pátria. Nos conformamos em ser eterna colônia submetida as metrópoles do novo colonialismo estabelecido nesse terceiro milênio. Estamos acomodados em nossa posição de República das Bananas, agora com outros produtos, mas essencialmente reproduzindo aquilo que outros povos estudam, pesquisam e concebem.

O nosso papel na dinâmica do mundo em que vivemos não é o do reputado pesquisador que emprega técnicas e métodos científicos para buscar soluções para os problemas que afligem a existência humana... Estamos mais para consumidores dessas soluções, pagando “os olhos da cara” para termos acesso a medicamentos, tecnologia de ponta, processos produtivos mais eficientes, mecanismos que nos auxiliem no combate a devastação ambiental,...

Por isso mesmo temos que reescrever nossa história, resgatar outros ícones, aqueles ligados a produção na área da ciência, na busca pelo conhecimento que salva vidas e que promove qualidade de existência para a humanidade como um todo. E os exemplos existem, ainda que ignorados ou desprezados pela nossa população, temos homens que realizaram em ciência o nobre, difícil e penoso trabalho de concepção de novas técnicas, produtos, remédios,...

Homens como Vital Brazil, cientista e pesquisador mineiro de origem, que ganhou notoriedade na primeira metade do século XX em virtude de seus esforços para encontrar remédios e soros contra mordidas de cobras, escorpiões ou aranhas. Que, a partir de agora, poderá ser mais conhecido por seus próprios compatriotas com o surgimento de um novo site destinado a preservação de seu patrimônio e de seu legado, o Museu Vital Brazil (http://www.museuvitalbrazil.org.br) em sua versão on-line.

Esperamos que essa contribuição a cultura científica nacional não seja uma iniciativa isolada e que, como Vital Brazil, também outros nomes consagrados (mas pouco conhecidos) de nossa pesquisa ganhem mais espaço e destaque por suas valorosas contribuições...

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